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"Thank You, Goodnight" e a história de 40 anos de Bon Jovi: "Poucos sabem da quantidade de trabalho de que estes tipos são capazes"

Uma carreira épica, uma zanga digna de estrelas de rock e a saúde a trair o homem que, aos 62 anos, não quer parar de cantar. Entrevistámos Gotham Chopra, o realizador da nova série documental.

David Bryan, Alec John Such, Jon Bon Jovi, Tico Torres e Richie Sambora: a banda de New Jersey fotografada no início da carreira
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David Bryan, Alec John Such, Jon Bon Jovi, Tico Torres e Richie Sambora: a banda de New Jersey fotografada no início da carreira

David Bryan, Alec John Such, Jon Bon Jovi, Tico Torres e Richie Sambora: a banda de New Jersey fotografada no início da carreira

Será Jon Bovi capaz de voltar a cantar ao vivo e, mais do que isso, fazer os concertos de quase três horas a que habituou os fãs? A dúvida é agora pública, desde que se soube que o cantor foi operado às cordas vocais em 2022 e que não está a 100%.

A decisão para avançar para a cirurgia foi adiada durante muito tempo e essa jornada é acompanhada em Thank You, Goodnight: The Bon Jovi Story, que se estreia na Disney+ esta sexta-feira, 26 de abril. Inicialmente, o vocalista dos Bon Jovi queria deixar esse lado mais íntimo fora da série documental. O realizador, Gotham Chopra, soube “instintivamente que aquilo ia ser uma parte muito importante da história” e convenceu-o a mudar de ideias.

O resultado divide-se em quatro episódios que juntam um arquivo nunca antes visto dos 40 anos de carreira da banda de Nova Jérsia: desde o burnout causado por seis anos intensos na estrada que quase os separou logo no início, à dolorosa saída do icónico guitarrista Richie Sambora, passando pela tenacidade de um miúdo que não aceitou o “não” de dezenas de editoras e fez de Runaway um sucesso que tirou Jon Bon Jovi, Richie Sambora, David Bryan, Tico Torres e Alec John Such do anonimato em 1984.

Além das imagens revivalistas, das entrevistas aos membros (incluindo aos mais recentes Phil X e Hugh McDonald), dos ensaios e de uma digressão de 15 datas pelos EUA em 2022, a série documental consegue acompanhar o dilema de um homem face à possibilidade de perder o que faz dele aquilo que é: a voz.

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Depois de meses de recuperação pós-cirúrgica, Jon reuniu-se entretanto em estúdio com os restantes Bon Jovi e o resultado é um novo álbum, Forever, à venda a partir de 7 de junho. Daí até ser possível apresentá-lo ao vivo não há certezas. Porém, Gotham Chopra (que nunca tinha feito nenhum projeto ligado à música) acredita na tenacidade do vocalista. Foi disso que falou com o Observador antes da estreia de Thank You, Goodnight: The Bon Jovi Story e é exatamente isso que sobressai nos episódios, que não se destinam apenas aos fãs de AlwaysWanted Dead or Alive e Livin’ on a Prayer, mas são um capítulo imprescindível da história do rock.

[o trailer de “Thank You, Goodnight: The Bon Jovi Story”:]

Tem no currículo um historial de documentários de desporto. Como é que acaba a fazer um projeto sobre os Bon Jovi?
Na verdade, foi o Jon [Bon Jovi] que me abordou. É um grande fã de desporto e tinha visto algo que eu tinha feito sobre o jogador de futebol americano Tom Brady [Man in the Arena]. O Tom jogou durante 20 anos e teve muito sucesso, por isso o Jon [Bon Jovi] disse: “O Tom jogou 20 anos, a nossa banda está quase a fazer 40 e nunca contamos realmente a nossa história. Gostei do que fizeste. Estaria interessado em fazer isto”? Não demorei muito tempo a dizer que sim, claro. Não estava realmente preocupado com o fator do desporto porque até há elementos muito semelhantes. Mais do que tudo, isto é sobre criar uma relação e eu e o Jon tivemos química, penso eu, muito cedo. Também sabia que ele tinha reunido muito material e há tanta coisa aí fora que fiquei empolgado muito depressa.

Acompanha uma parte da vida do Jon que é muito privada, os problemas de saúde, especialmente com as cordas vocais. Teve acesso total ou essa parte teve de ser negociada?
A visão original do Jon quando falou comigo era a de fazer uma retrospetiva, já que a banda estava quase a fazer 40 anos. Mas, ao observá-lo, comecei a perceber que se passava algo com a voz dele. Perguntei-lhe e ele explicou que estava a ter dificuldades há dois anos. Penso que começamos o projeto em fevereiro [de 2022]. Ele disse que em março iam fazer ensaios e que em abril iam voltar à estrada para 15 datas nos EUA para perceber “se ainda consigo fazer isto?”. Mas, disse-me ele: “Essa parte provavelmente não é para o documentário”. Eu respondi: “Jon, isso é definitivamente para o documentário. Parece incrível e tudo o que construíram nestes 40 anos está em jogo”. O Jon é um tipo inteligente, percebeu onde eu queria chegar e, apesar de não nos conhecermos assim tão bem nessa fase, ele confiou. Também lhe disse: “Não podemos [um dia, mais tarde] voltar atrás para captar isto. Portanto, vamos filmar agora e depois logo vemos como tudo se encaixa”. Foi assim que começou. Ele deixou-me ir com ele para a estrada, mantivemos [a equipa] pequena, ainda estávamos na pandemia e, assim, construímos a confiança. Ele deu-me acesso e eu soube instintivamente que aquilo ia ser uma parte muito importante da história.

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A relação entre Jon Bon Jovi e Richie Sambora (aqui fotografados em meados da década de 80) é um dos aspetos centrais da série documental

Getty Images

Essa parte torna a série documental mais humana, mais íntima. Não se faz apenas de arquivos. É devastador ver a luta interna dele, até porque os problemas de voz não eram públicos.
Ele manteve tudo bastante privado. Ao mesmo tempo, foi durante a Covid-19, quando estava toda a gente em casa e ninguém estava em tournée. Ele não publicitou nada, quase ninguém sabia. No filme dá para perceber todo o esforço que ele faz para regressar. Mesmo agora, provavelmente passado um ano desde a última vez que filmámos com ele, tem estado a trabalhar. É uma das incríveis características do Jon, o quão arduamente este tipo trabalha. Penso que ele está numa boa fase, que consegue cantar, mas se consegue fazê-lo durante duas horas e meia, quatro noites por semana, que é a meta que ele estabeleceu para voltar à estrada? Ele ainda não respondeu a essa pergunta, mas acredito que vai voltar. Ainda tem demasiado para alcançar e o resto da banda está muito empolgada.

Durante as filmagens, o que o surpreendeu mais?
A ética de trabalho. O Jon é talentoso, mas muitas pessoas são talentosas, não se grava um disco ou se consegue um contrato com uma editora se não se for talentoso. Mas [neste caso] é sustentado ao longo de mais de quatro décadas e isso vem da recusa de desistir. A quantidade de pessoas que lhe disseram que nunca iria acontecer, que disseram: “Sabes, és talentoso, mas não és suficientemente bom”. Runaway foi primeiro sucesso, mas até estar cá fora umas dez editoras disseram-lhe não, nem sequer lhe ligaram de volta. Ele disse: “Não, isto é ótimo, vou arranjar maneira”. Ele desejou tanto aquilo e conseguiu. Isso foi o que me impressionou e ainda impressiona porque, enquanto está a perceber e a lidar com o que se passa com a voz dele, continua a ter aquela ética de trabalho. Aliás, Poucos sabem da quantidade de trabalho de que estes tipos são capazes. Eu tinha visto as atuações, conhecia a música, achava que era isso que definia os Bon Jovi. Para o Jon são as canções, as letras. Ele disse: “Sou um letrista primeiro, depois vêm as gravações e, por fim, as atuações”. O Richie [Sambora] também diz o mesmo no filme: “Se não temos uma canção, não temos nada”. Trabalhar essa parte do ofício é o mais importante para ele [Jon Bon Jovi] e isso eu, provavelmente, não sabia.

As desavenças que levaram Richie Sambora a sair da banda em 2013 são mais do que públicas. Foi um processo fácil ter toda a gente no projeto?
Só havia um membro que eu achava que seria controverso, o Richie, claro. O Alec [John Such, baixista e membro fundador] morreu há dois anos e, portanto, não podíamos incluí-lo, mas todos os outros tinham muita vontade de fazer parte do projeto. Muito cedo disse ao Jon que o Richie tinha de fazer parte disto e ele estava de acordo. Assim que contactamos o Richie e ele percebeu o objetivo, embarcou. Não podíamos fazer isto sem o Richie. Gravamos um par de entrevistas, ele foi incrível, divertido, louco e combativo. Tudo o que eu tinha visto nos arquivos, ele foi igual em pessoa.

"O Jon está a trabalhar a voz dele, mas é também uma jornada mental e emocional, e isso leva tempo", diz o realizador, Gotham Chopra

Em algum momento houve a hipótese de reencontro?
Vou deixar o Jon responder a essa… se um dia se juntam ou não. O Richie deixou a banda há 11 anos e deixou uma ferida. Não houve uma luta, não foi uma grande separação. Havia um tipo que tinha uma data de coisas a acontecerem na vida pessoal e isso foi muito intenso, além da intensidade do Jon e da banda, e acho que foi demasiado para ele [Richie] gerir. Portanto, foi-se embora. Relativamente a um reencontro, penso que as pessoas fantasiam sobre isso, mas a banda seguiu em frente. Estão no terceiro álbum pós-Richie e as pessoas adoram. Há novos membros e isso também é complicado. Sonhei com isso, seria divertido certamente, mas relativamente a isso digo TBD [“To Be Determined”, a ser determinado].

Haverá um novo álbum em junho, mas nenhuma tournée prevista ainda. Se eventualmente não houver concertos, esta série documental é a recompensa para encerrar 40 anos de carreira?
Pode ser [que não haja mais atuações], mas duvido. Tenho visto o Jon a continuar a trabalhar, ele ainda quer [voltar à estrada], ainda gosta disso. Adora comunicar com os fãs, que estão espalhados pelo mundo, e penso que tem sentido nas últimas semanas o quanto as pessoas ainda querem ver a banda atuar.

Provavelmente essa manifestação será ainda maior depois da estreia de Thank You, Goodnight.
Sim, espero que sim.

A pressão está toda em cima dos ombros dele. Pressão dos fãs, do resto da banda, porque tudo depende da voz de Jon Bon Jovi. Não pode ser fácil para um perfecionista como vemos que ele é no documentário, certo?
Há pressão, sem dúvida, toda a gente quer que isto aconteça. Mas, se não acontecer, aqueles são os irmãos dele e ele tem sentido muito amor e apoio dos outros membros. Eles divertiram-se muito a fazer o último álbum. O Jon sente uma pressão auto-imposta, tem uma meta que sente que tem de atingir. Eu estive naqueles espetáculos em abril de 2022, quando ele não estava muito bem, e a maioria dos fãs não queria saber. Estavam simplesmente felizes por estar ali e fazerem parte daquela experiência. O Jon está a trabalhar a voz dele, mas é também uma jornada mental e emocional, e isso leva tempo. Mas penso que ele chegará lá e que tudo isto [a série documental], que é um lembrete para que ele saiba quanto amor e adoração ainda existe pelos Bon Jovi, será um fator importante para um possível regresso.

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