Heather Heyer, 32 anos, morreu este sábado. A norte-americana de Charlottesville participava no protesto contra as manifestações de supremacistas brancos e neo-nazis que se realizaram na sua cidade, quando um carro avançou contra a multidão, atropelando os manifestantes. Heather não resistiu aos ferimentos e morreu no local. James Alex Fields, de 20 anos, foi entretanto detido e acusado de homicídio.

Suspeito de atropelamento em Charlottesville disse à mãe que ia a manifestação pró-Trump

A jovem da Virgínia já tinha manifestado aos amigos desejo de participar nos contra-protestos, mas tinha medo do que poderia acontecer: “Quero muito ir, mas não quero morrer”, tinha dito Heather à colega Courtney Commander na sexta-feira, à saída do escritório onde ambas trabalhavam como assistentes legais. “E foi ela quem acabou por perder a vida. Sinto-me muito mal”, confessou a amiga Commander à rádio norte-americana NPR.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

À mesma rádio, o antigo colega de escola Justin Marks revelou um pouco da personalidade de Heather: “Tinha um enorme sentido de humor, a graça dela não tinha comparação. Conseguia ganhar qualquer debate e tinha resposta para tudo”, ilustrou Marks. Já Alfred A. Wilson, responsável pela divisão de insolvências do Miller Law Group, onde Heather trabalhava, definiu-a ao “New York Times” como “uma mulher muito forte” que lutava contra “qualquer tipo de discriminação”.

“A Heather muitas vezes via alguma coisa no Facebook ou lia qualquer coisa nas notícias sobre alguém que tinha sido maltratado e ficava muito perturbada”, contou Wilson.

A jovem, que nas eleições presidenciais norte-americanas apoiou o democrata Bernie Sanders, usava também a sua própria conta de Facebook para deixar claras as suas opiniões: “Se não estás indignado, não tens estado a prestar atenção”, pode ler-se na sua conta.

Wilson, que contratou Heather, recordou que a jovem tinha apenas um diploma do ensino secundário e não tinha experiência de trabalho em escritórios de advogados, mas que era trabalhadora e tinha servido às mesas. A sua única falha profissional, segundo o seu patrão, é que gostava de dormir até tarde — “tive de alterar os nossos horários de trabalho para coincidirem com o dela”, contou Wilson com uma gargalhada.

A mãe de Heather, Susan Bro, pediu entretanto para que a morte da sua filha não seja transformada “num foco de mais ódio”, mas sim “num grito por justiça, igualdade e compaixão”. Ao “Huffington Post”, Susan destacou o “forte sentido moral” da filha.

Uma campanha para recolha de fundos online criada durante o fim de semana através da plataforma GoFundMe já recolheu quase 200 mil euros. Na plataforma, Susan Bro deixou a seguinte mensagem:

“Ela morreu a fazer o que estava correto. Tenho o coração despedaçado, mas estarei para sempre orgulhosa dela”.

Marissa Blair, amiga de Heather e antiga colega de trabalho na Miller Law Group, estava ao lado dela no protesto de sábado quando o carro se precipitou sobre a multidão. Marissa, que ficou apenas com ferimentos ligeiros num braço e numa perna, perdeu Heather de vista na confusão e só soube o que aconteceu à amiga já no hospital, quando um polícia a informou. Ao “New York Times”, não hesitou em classificar a amiga como alguém “que fala sempre com imensa convicção” e lamentou tudo o que aconteceu. “A Heather era uma alma tão doce. Não merecia morrer.”