O mercado dos superdesportivos está num frenesim. Ao Mercedes-AMG One e ao Aston Martin Valkyrie, previstos para breve, juntou-se mais recentemente o Ferrari FXX K Evoluzione, todos eles a anunciar 1.000 ou mais cavalos e, como tal, capazes de fazer perigar a liderança do Chiron em termos de capacidade de aceleração. Pelo menos nos valores até 300 km/h. Isto, se optarmos por não juntar a este grupo de elite os Koenigsegg, também eles (sobretudo o One:1 e o Regera) capazes de se bater pelo estatuto do mais rápido.
A Bugatti faz superdesportivos impressionantes há muitos anos, com mais de um milhar de cavalos desde que está na posse do Grupo Volkswagen (1998), e desde sempre, quando foi criada pelo inventivo e brilhante Ettore Bugatti, em 1909. Mas este construtor francês sabe que a complexidade da sua mecânica (16 cilindros em W e quatro turbocompressores) e o luxo do seu habitáculo nunca lhe permitirá apresentar um desportivo com um peso próximo de uma tonelada, pelo que prefere esgrimir os argumentos em pode fazer valer os 1.500 cv do seu brutal motor. E são milhar e meio de corcéis sem recurso a motores eléctricos para dar uma ajuda, que depois não podem ser utilizados eternamente, em virtude da capacidade da bateria não permitir milagres.
Para se preparar para uma concorrência que se aproxima, a Bugatti decidiu que isso dos arranques de 0-100 km/h ou de 0-200 km/h já era. Especialmente, porque nessas provas os eléctricos são quase imbatíveis. E, inclusivamente, o arranque de parado até 300 km/h é uma ‘coisa para meninos’, pois esta fasquia também é acessível para desportivos mais leves e com pouco mais de 1.000 cv, como a Mercedes e Aston Martin se preparam para produzir. Assim, a solução é encetar uma fuga para a frente e fixar uma nova fasquia para medir a nobreza e, com ela, a capacidade de um superdesportivo digno desse nome: 0 a 400 km/h.
Depois de fixar o arranque de 0 a 400 km/h em 32,6 segundos, a Bugatti voltou à carga poucos dias depois para fixar nova meta: 0-400 km/h-0. O que implica que não só o motor tenha de ser fabuloso, como os travões também, pois parar um monstro que se desloca a 400 km/h em apenas 10 segundos, implica dissipar uma quantidade de calor impressionante.
Para pilotar o Chiron nesta prova de 0-400-0, a Bugatti pediu ajuda a Roger Pensk – o mercado americano tem particular importância para o construtor gaulês –, que lhe aconselhou o ex-piloto de Fórmula 1 (F1) Juan Pablo Montoya, artista do volante que milita na equipa da IndyCar Series de Pensk, e que venceu as 500 Milhas de Indianápolis em duas ocasiões. Montoya montou-se no Chiron e, ele que nunca tinha ultrapassado os 403 km/h nas corridas com os IndyCar, deliciou-se rapidamente com os 420 km/h do Bugatti, substancialmente maior e mais confortável do que o seu fórmula.
Depois de ficar maravilhado com a velocidade máxima, o piloto colombiano apaixonou-se pela capacidade de aceleração do modelo, graças à potência, aliada às quatro rodas motrizes. Com grande facilidade, o Chiron cumpre os 0-100 km/h em apenas 2,4 segundos, não muito pior do que os F1 atingem hoje em dia, pois apesar dos cerca de 950 cv e 650 kg, dificilmente baixam dos 2,3 segundos.
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Mas a tarefa de Montoya era mesmo assinar um arranque que fixasse um recorde nos 0-400-0, pelo que o ex-piloto de F1 meteu as mãos na massa. Ao segundo arranque, deu rédea solta aos 1.500 cv e atingiu os 400 km/h em 32,6 segundos, para depois esmagar o travão e parar por completo o desportivo ao fim de 9,3 segundos. Os 0-400-0 ficaram assim fixados em 41,96 segundos, período durante o qual o Chiron percorreu 3.112 metros, 2.621 metros em aceleração, para depois regressar a zero em somente 491 metros.
A Bugatti já vendeu 300 dos 500 Chiron que pensa produzir, pelo que este recorde não vai ajudar a vender nem mais um modelo, que vão esgotar rapidamente. O que vai, isso sim, é manter a marca na liderança entre os superdesportivos, lugar que é seu por direito, pelo menos quando em causa estiver a potência, o requinte, a exuberância mecânica e, claro está, a rapidez e a velocidade máxima.