Caras desfiguradas, jovens ensaguentados e deitados ao chão. Foi assim que, em alguns casos, acabou a noite na discoteca Urban Beach, em Santos, Lisboa. Noutras situações, foi assim que começou: por exemplo, numa tentativa de entrar que acabou com a ação dos porteiros. Os agredidos falam de uma “reação automática e estranhamente organizada” dos seguranças. Os agressores justificam-se com a resistência dos jovens em sair da discoteca quando ela fecha, com o estado de embriaguez dos clientes. Por vezes, negam ter havido alguma cena de violência.
As cenas de pancadaria são por vezes filmadas e partilhadas no Facebook. Outras situações geram testemunhos escritos na primeira pessoa de clientes agredidos. Vídeo ou texto, a maioria torna-se viral nas redes sociais. Recordamos sete relatos de casos de agressão que terão acontecido na discoteca Urban Beach desde 2014.
Segurança saltou com os dois pés sobre a cabeça de um jovem
1 de novembro de 2017
No Halloween de 2017 aconteceu o mais recente caso de agressão à porta de discoteca Urban Beach. Dois jovens foram agredidos de forma violenta por seguranças da discoteca na madrugada de quarta-feira. O momento foi filmado e partilhado nas redes sociais. O caso está a ser investigado, confirmou ao Observador fonte da PSP.
Vídeo. Seguranças do Urban agridem jovens à porta da discoteca e são despedidos
O início da filmagem mostra um jovem a levantar um segundo que está no chão e consegue pô-lo de pé. Nesse momento, dois seguranças aproximam-se e um deles dá um pontapé ao jovem, que volta a cair no chão. O segundo tenta levantá-lo mas acaba também por ser agredido, com pontapés e murros na cabeça e na zona abdominal. Um segurança salta com os dois pés sobre a cabeça de um dos jovens. No vídeo, veem-se ainda várias pessoas a assistir à cena de pancadaria.
Jovem de 20 anos hospitalizada depois de agressão a 15 jovens
25 de agosto de 2017
O caso desta quarta-feira acontece nem três meses depois de uma cena de agressão que envolveu 10 seguranças e 15 jovens durante uma despedida de solteiro.
Durante a noite, um barman abordou o grupo por causa da forma como o noivo, que tinha a perna engessada, estava a dançar e ameaçou expulsá-lo da discoteca. O noivo, de 29 anos, respondeu “a barafustar”, mas “sem gestos agressivos”, relatou o amigo português de 26 anos ao Observador.
Urban Beach: agressões entre clientes e seguranças levam jovem de 20 anos ao hospital
Perante esta reação, o funcionário da discoteca saiu do bar e “agarra-o pelo pescoço, sufoca-o e leva-o ao chão”. As agressões começaram a ganhar dimensão, com “cerca de dez seguranças” a bater nos 15 jovens, continua a testemunha. Uma das raparigas de 20 anos, segundo o português, levou “um murro no peito” e “bateu com a cabeça numa mesa”, ficando inconsciente. No total, e de acordo com a mesma fonte, sete pessoas foram assistidas no Hospital de São José, em Lisboa, entre elas está uma mulher de 20 anos, de nacionalidade filipina, que chegou a ser levada de ambulância para o mesmo hospital.
Afro-americano agredido com a irmã mais nova a ver
12 de agosto de 2017
Na semana anterior, uma cena de agressão aconteceu ainda antes de Ruben (que pediu ao Observador para não revelar o sobrenome) ter tentado entrar na discoteca — que levou para as redes sociais o seu testemunho. À entrada, o porteiro ter-lhe-á pedido 250 euros para entrar mas só a Ruben, que é afro-americano, e não aos outros elementos do grupo. O grupo acusou o porteiro de racismo e começaram a discutir. De acordo com o relato, Ruben ainda tentou acalmar os ânimos e afastar os amigos do porteiro. Mas quando viu um dos elementos do grupo a “levar um murro na cara de um dos seguranças”.
Corremos para ajudar. A reação [dos seguranças] foi automática e estranhamente organizada: pelo menos oito seguranças alinharam-se entre mim e o meu amigo que estava a ser agredido. Tentei chegar até ele mas levei um murro no estômago por um segurança branco em fúria.”, pode ler-se na publicação de Ruben no Facebook.
O porteiro terá começado a apertar o pescoço ao amigo, que já estava caído no chão. Ruben tentou defendê-lo mas também foi agredido: “Deram-me murros e pontapés no rosto e nas costelas. Os seguranças deram pelo menos seis golpes bem sucedidos na cara e quatro nas costelas”. Ruben ficou ainda com queimaduras nos cotovelos por ter sido arrastado pelo tapete da entrada. A irmã de Ruben que tentou defender o grupo, terá sido arrastada pelos cabelos.
“Pretos, é difícil. Ciganos não entram.” Há ou não racismo nas discotecas de Lisboa?
A polícia acabou por ser chamada por duas jovens que se encontravam na zona, mas que nada tinham a ver com o grupo. Quando a polícia chegou, disseram-lhes que podiam ir à esquadra no dia seguinte para apresentar queixa, explicando que era a única coisa que podiam fazer.
Duas jovens de 26 anos agredidas. Urban Beach nega
20 de fevereiro de 2016
Uma patrulha da PSP que passava na Avenida Brasília, junto à discoteca foi abordada por duas raparigas, com 26 anos cada uma, revelou fonte policial ao Notícias ao Minuto. Diziam ter sido agredidas por um segurança de 23 anos na discoteca Urban Beach.
Na altura, a gerência da discoteca negou e explicou que os seguranças apenas lhe pediram para sair, devido ao seu comportamento impróprio.
Jovem brasileira arrastada pelo pescoço
19 de dezembro de 2016
Também Rafa Berchembrock, uma jovem brasileira, partilhou no Facebook o que lhe aconteceu na mesma discoteca. Foi-lhe pedido a ela e às duas amigas com quem estava 250 euros para entrar numa festa cuja entrada tinha sido anunciada como gratuita. Foi-lhes até apresentada uma justificação: “As coisas aqui são diferentes do Brasil”.
Os relatos de violência contados por quem foi ao Urban Beach
Um segurança terá agarrado nas amigas pelo braço. Rafa tentou defender a amiga mas terá sido agarrada pelo pescoço e arrastada para fora do recinto da discoteca. Rafa Berchembrock filmou a cena e publicou-a nas redes sociais. Partilhou ainda fotografias dos ferimentos com que ficou.
Estudante de engenharia de 23 anos agredido por um barman e dois seguranças
22 de dezembro de 2014
Também a cena que aconteceu na noite de 22 de dezembro de 2014 foi negada pela discoteca. António Pedro, estudante de engenharia, de 23 anos, diz ter sido espancado por um barman e dois seguranças.
A discussão começou quando o barman serviu a bebida errada e o António pediu que fosse trocada. Nesse momento, o funcionário deu um murro no nariz do jovem. A ele se juntaram “dois seguranças, que o atiraram ao chão e deram-lhe socos e pontapés”, disse uma testemunha ao Correio da Manhã. A namorada da vítima disse ao mesmo jornal que António ficou com “a cara desfeita e a roupa encharcada em sangue”. O jovem fez queixa à PSP.
Já os responsáveis pela discoteca dizem que foi o barman que foi agredido quando tentou impedir o jovem de roubar uma garrafa do bar e viu-se obrigado a chamar os seguranças, que os acompanharam até ao exterior.
Jovem recusa-se a sair da discoteca e é espancado
7 de abril de 2013
A recusa de sair da discoteca terá motivado uma cena de agressão que aconteceu na madrugada de 7 de abril de 2013. Um jovem, de 27 anos, recusou sair da discoteca e envolveu-se numa discussão com um segurança, que acabou por agredi-lo. O jovem foi levado pelo INEM para o Hospital de S. Francisco Xavier depois de ter ficado ferido com gravidade, com lesões nos braços e nas duas pernas. De acordo com o Correio da Manhã, o agressor é um homem de 34 anos, que foi identificado pelas autoridades.