Anthony Bourdain morreu aos 61 anos, avança a CNN, que confirmou a morte do escritor e chef norte-americano esta sexta-feira. Segundo aquele meio de comunicação, Bourdain suicidou-se. Esteve em Portugal quatro vezes, gravando programas nos Açores, Lisboa e duas vezes no Porto.
O chef, escritor e apresentador de televisão foi encontrado morto num quarto de hotel por Eric Ripert, chef francês e amigo próximo de Anthony Bourdain. Vários jornais avançam com a informação de que o chef ter-se-á enforcado.
“É com profunda tristeza que confirmamos a morte do nosso amigo e colega, Anthony Bourdain”, escreveu a CNN numa nota publicada no respetivo site e página de Twitter. “O seu amor por grandes aventuras, novos amigos, boa comida e bebida e histórias assinaláveis faziam dele um contador de histórias ímpar”, lê-se na mesma nota, que a CNN aproveitou para dar as condolências à família do chef.
CNN statement regarding the death of our friend and colleague, Anthony Bourdain: pic.twitter.com/MR1S5fP16o
— CNN Communications (@CNNPR) June 8, 2018
Anthony Bourdain é conhecido sobretudo pelos seus programas de televisão — começou com “A Cook’s Tour”, passou pelo sucesso “Anthony Bourdain: No Reservations” e acabou no “Parts Unknown”, para o qual tinha começado a gravar recentemente a 11ª temporada.
O último post nas redes sociais de Anthony Bourdain foi esta segunda-feira, 4 de junho. No Instagram, onde partilhava várias fotografias e vídeos das suas viagens pelo mundo, o chef colocou uma fotografia de um prato com vários tipos de carnes e escreveu uma legenda irónica: “Almoço leve”. Acrescentou também uma hashtag a remeter para a região francesa da Alsácia.
https://www.instagram.com/p/BjmZZuwHr2I/?taken-by=anthonybourdain
De acordo com o The New York Times, Anthony Bourdain estava a preparar um episódio para o programa “Parts Unknown” em Estrasburgo, cidade francesa naquela região.
Anthony Bourdain mantinha uma relação amorosa com a atriz italiana Asia Argento, que recentemente, no Festival de Cinema de Cannes, acusou o produtor Harvey Weinstein de a ter violado. “Em 1997, fui violada por Harvey Weinstein aqui em Cannes”, disse. “Este festival era a sua zona de caça.” Anthony Bourdain viria a elogiar o discurso da sua namorada. “Foi absolutamente destemido entrar na toca do leão e dizer o que ela disse, da maneira como disse”, disse o chef numa entrevista recente. “É uma honra conhecer alguém que tem força e coragem para fazer algo assim.”
O chef e a atriz conheceram-se em 2016, quando ele gravava um episódio para a 8ª temporada do “Parts Unknown”. Recentemente, Asia Argento trabalhou como realizadora de um dos programas daquela série, após o realizador original ter ficado doente.
“Cada vez que trabalho com a Asia, mesmo quando ela me liga do nada a meio de um programa para me mostrar uma cena de rock psicadélico da Nigéria dos anos 70, é uma ajuda tremenda”, disse numa entrevista recente. “Adoraria continuar a tê-la como realizadora. Mas, meu Deus, não há coisa que eu adoraria mais do que repetir essa experiência. Ela tornou-a incrível.”
Quando Anthony Bourdain veio a Portugal
Ao todo, Anthony Bourdain passou por Portugal quatro vezes para os seus programas. A primeira foi no Porto, em 2002, para o programa “Cook’s Tour”. A segunda foi no arquipélago dos Açores, em 2009, para o programa “Anthony Bourdain: No Reservations”. Depois, em 2011, esteve em Lisboa, para o mesmo programa. Mais recentemente, em 2017, regressou ao Porto, já para o programa “Parts Unknown”.
https://www.youtube.com/watch?v=CyVHZLJKyJY
[Episódio completo do “Anthony Bourdain: No Reservations” em Lisboa]
Nos Açores provou o cozido das furnas, em Lisboa comeu marisco e bifanas e no Porto experimentou a típica francesinha.
Numa entrevista publicada no domingo pelo site Indiewire, que será certamente uma das últimas senão mesmo a última de Anthony Bourdain, o chef explicava a essência do programa “Parts Unknown”, que passava muito menos pela comida — e muito mais pelo aspeto cinematográfico — do que aquilo que se poderia pensar.
“Sempre foi, de uma maneira ou de outra, um programa de comida disfarçado. Passamos a ideia de que é sobre comida. Mas raramente é. Antes de irmos para um sítio e começarmos falamos sempre de filmes, para termos ideias visuais, para os sons, para a montagem. Não coisa que adoramos mais do que copiar, emular ou retirar algo de um filme que poucos dos nossos espectadores tenham visto”, disse.
Numa entrevista, quando já era uma celebridade televisiva e tinha abandonado as cozinhas, Anthony Bourdain chegou a admitir: “Eu não era lá grande cozinheiro”. Por outro lado, os seus programas mereceram-lhe vários prémios. Em 2012, foi galardoado com o Critics’ Choice para melhor programa de não-ficção; em 2013 e 2014 foi nomeado para o Emmy de apresentador para programa de não-ficção; entre 2013 e 2016 venceu o Emmy para série de informação; e em 2014 venceu o prémio Peabody pelo programa “Parts Unknown”.
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Antes da televisão, Bourdain destacou-se na escrita sobre os segredos das cozinhas
A sua estreia na escrita foi na revista New Yorker, onde escreveu o texto “Don’t Eat Before Reading This” (“Não Coma Antes de Ler Isto”, em português), em abril de 1999. “Há uns anos, ouvi sem surpresa os rumores de um estudo que terá apurado que a profissão mais comum entre os prisioneiros do país antes de serem colocados atrás das grades é ‘cozinheiro’. Como muitos de nós no ramo da restauração sabemos, há uma tendência forte para a criminalidade nesta indústria, que vai desde o empregado que vende drogas com um beeper e um telemóvel até ao dono do restaurante que tem dois livros de contabilidade”, lê-se naquele texto, que serviu de antecâmara para a publicação do seu primeiro grande sucesso editorial.
Trata-se de “Cozinha Confidencial” (Livros D’Hoje, 2011), publicado na versão original, em inglês, em 2000. Naquelas páginas, partilhou histórias acumuladas ao longo de décadas a trabalhar na restauração em Nova Iorque, onde as drogas e o sexo eram ingredientes comuns.