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José Avillez, Sá Pessoa e os portugueses que se cruzaram com Anthony Bourdain

Este artigo tem mais de 5 anos

José Avillez lembra os almoços com Anthony Bourdain em Lisboa. Henrique Sá Pessoa recorda um homem que era "se não gostam, I don't care". As memórias dos portugueses que se cruzaram com o chef.

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Getty Images for DC Central Kitchen

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Avillez: “Deixou Lisboa com uma grande impressão dos portugueses”

Foi José Avillez quem ajudou a organizar a visita de Anthony Bourdain a Lisboa. Estávamos no final de 2011. Ao Observador, o chef português recorda como levou Bourdain a conhecer a Cervejaria Ramiro e como ele ficou encantado com o marisco, mas também o almoço que ambos tiveram, na companhia de Tozé Brito, no Cantinho do Avillez. “Fiquei nervoso porque tinha sido chamado para ajudar a organizar o percurso dele em Lisboa e queria passar a melhor imagem de Lisboa”, recorda. Nessa viagem, Bourdain conheceu espaços icónicos da capital, incluindo A Ginjinha, no Rossio, e o restaurante O Trevo, junto à Praça Luís de Camões.

Avillez conta que Bourdain era uma pessoa “bastante séria”, reservada até, que quando ganhava intimidade com as pessoas tornava-se “brincalhão”. “Era também altamente culto”, capaz de falar de tudo um pouco.

De Lisboa, Bourdain reteve a luz, a amabilidade das pessoas e o gosto pela comida, recorda Avillez. “Isto foi há sete anos. A cidade mudou muito. Mas sei que deixou Lisboa com uma grande impressão dos portugueses”.

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Henrique Sá Pessoa: “Ele era assim: ‘Quem gosta, gosta, quem não gosta, I don’t care'”

“Fico triste porque é uma grande perda para a gastronomia. Tinha uma grande consideração, e tenho, pelo chef Anthony Bourdain, e é realmente uma pena”, foi assim que reagiu o chef Henrique Sá Pessoa à morte do chef americano.

Dos momentos que passou com ele recorda que era “uma pessoa honesta, frontal e influente” por quem as pessoas tinham um enorme carinho. Ao Observador contou que muitas pessoas passaram a frequentar o restaurante “Alma” por ter passado no seu programa: “O facto de ele ter visitado o Alma fez com que muita gente viesse cá”. A imagem com que ficou do chef americano é a de que “conseguia ser real e verdadeiro” em frente às câmaras, algo que nem toda a gente consegue — “Ele era assim: ‘quem gosta, gosta, quem não gosta, I don’t care’“, contou ao Observador.

Henrique Sá Pessoa lembrou ainda que era engraçada a curiosidade que ele tinha sobre Portugal: “Ele queria saber sobre a literatura, sobre a música, sobre os hábitos em Portugal, ele não queria ir só aos restaurantes, e isso era muito curioso”.

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Bourdain? “Um rebelde com uma causa”

Ljubomir Stanisic, que celebra hoje 40 anos, comentou a morte de Bourdain via comunicado de imprensa. Na nota enviada aos jornalista, o chef descreve Bourdain como “um rebelde com uma causa”, que fazia as coisas como achava que deviam ser feitas e que provou “que a grande cozinha pode estar em qualquer lado”.

É um choque. Conheci o Anthony Bourdain quando veio a Lisboa filmar o episódio do No Reservations, onde o 100 Maneiras e eu tivemos o privilégio de estar incluídos, mas admirava-o ainda antes disso, por todo o seu percurso, pela atitude. Foi um cozinheiro que nos inspirou a todos, que personificava aquela ideia de fazermos as coisas como achávamos que devíamos ser feitas, sem regras nem medos, dentro e fora da cozinha. Que nos mostrou que com a dose certa de paixão, trabalho e perseverança – que no caso dele, não tinham medida – podíamos chegar onde quiséssemos. Um rebelde com causa, dos primeiros a mostrar que a grande cozinha pode estar em qualquer lugar, dos melhores restaurantes à casa mais humilde, fazendo com que o mundo se apaixonasse definitivamente pela aventura de comer. O mundo da cozinha ficou infinitamente mais pequeno hoje mas a marca de Bourdain vai perdurar no tempo, não tenho dúvidas.

“Bebeu uma imperialzinha e comeu a nossa bifaninha”

Foi Joaquim Pereira, gerente do restaurante O Trevo, virado para a Praça Luís de Camões, em Lisboa, quem recebeu Bourdain, quando o chef visitou Lisboa em 2011. “Bebeu uma imperialzinha e comeu a nossa bifaninha”, recorda. Joaquim sabia “mais ou menos” quem era o famoso gastrónomo e confessa que foram pessoas no interior do estabelecimento que o ajudaram a reconhecê-lo. Da conversa com Bourdain, recorda-se apenas dos elogios que o norte-americano deixou ficar: “Gostou mais da nossa bifana. Disse que nunca tinha comido uma assim, feita numa frigideira, coisa simples”.

[Em ambiente de diversão, com a namorada e o diretor que admirava. Veja o último vídeo de Bourdain]

“Gostou muito mais do Porto do que de Lisboa”

Mais recentemente, Bourdain visitou a Invicta e passou pelo snack-bar Gazela, conhecida pelos “cachorrinhos da Batalha”. Ao começo, Américo Pinto achou o chef austero, mas depois de mais de três horas de filmagens mudou de opinião. “Pelo físico parecia uma pessoa austera, mas não era. Pareceu ser uma pessoa muito amável, simpática. Era muito profissional”. O gerente recorda o “grande aparato” que entrou pela porta do snack-bar adentro. A comitiva do chef era grande, composta de “muitos repórteres” que enchiam “duas carrinhas grandes da Mercedes”. Depois de provada a especialidade da casa — posteriormente exibida em mais um programa — Américo garante que o negócio aumentou e que, a partir daí, “recebeu muitos estrangeiros vindos de todo o lado”. “Ele gostou muito do Porto”, recorda. “Tinha estado em Lisboa e disse que gostou mais do Porto.”

Américo na companhia do conhecido chef, em fevereiro de 2017.

Dead Combo: “Ainda hoje há montes de pessoas que dizem, meio envergonhadas, que nos conheceram num programa de comida”

Em 2014 ou 2015, Pedro Gonçalves já não se recorda bem, a produtora portuguesa do programa de Bourdain entrou em contacto com a banda Dead Combo. Tanto Pedro como Tó Trips estranharam a sugestão: “Vão meter a nossa música num programa de televisão de um cozinheiro norte-americano?”. Os membros da banda não sabiam quem era este chef estrela — Pedro Gonçalves não tem televisão em casa e Tó Trips… é como se não tivesse. Foram 30 minutos de conversa no Sol e Pesca, no coração do Cais do Sodré. Três dezenas de minutos que chegaram para perceber como Bourdain era culto e facilmente dominava temas como música, política e artes. No final da entrevista, convidaram Bourdain a assistir a um dos seus concertos, à data no Vodafone Mexefest. Bourdain não só se meteu entre a multidão, como filmou o concerto e incluiu uma das músicas da banda no programa que resultaria dessa visita a Lisboa.

“Foi aí que começámos a perceber a dimensão dele. De repente, os Dead Combo tiveram imensos pedidos, uma exposição gigante graças a ele. Ele abriu-nos portas. Milhares de pessoas conheceram-nos graças a ele. Ainda hoje há montes de pessoas que dizem, meio envergonhadas, que nos conheceram num programa de comida”.

“Uma pessoa de poucas conversas”

Henrique Vaz Pato, gerente do Sol e Pesca, foi quem recebeu o chef e a banda Dead Combo. Sobre Bourdain, diz que era uma “pessoa de poucas conversas”. Simpática, “mas muito prática e objetiva relativamente ao trabalho que tem para fazer”. Bourdain fez uma prova de conservas no Sol e Pesca, no Cais do Sodré. Segundo Vaz Pato, o chef ficou encantado e chegou a escrever um comentário no livro “Sol e Pesca” sobre como nunca antes tinha estado num local com tanta oferta de conservas. “Não tinha conhecimento de nenhum outro sítio assim”, garante o gerente.

“Simpático, divertido e educado”

Também Zé Diogo Quintela se cruzou com Bourdain, quando o chef visitou Lisboa em 2011. Jantaram no restaurante Alma, de Henrique Sá Pessoa, e conversaram o suficiente para o humorista português descrever Bourdain como “um homem muito simpático, divertido, educado, interessante e interessado”. Segundo Diogo Quintela, o chef “sabia bastante sobre Portugal, não só sobre a culinária, mas também sobre a nossa história”.

“Trato fácil e ânsia por conhecimento”

O dia em que Boudain almoçou no restaurante A Cozinha do Martinho vai ficar para sempre na memória de Branca Pereira, ela mesmo o garante ao Observador. A gerente, filha do falecido Martinho que foi cozinheiro a vida toda, já tinha sido contactada pela CNN e sabia de antemão que o chef queria provar as tripas à moda do Porto. A surpresa, essa, foi o “trato fácil” e também a “ânsia pelo conhecimento” da personalidade televisiva. Bourdain não se ficou pela mesa e viajou até à cozinha para descobrir como eram feitas as tripas. Acompanhou todo o processo, com Branca a traduzir a informação tanto quanto possível.

© Branca Pereira

No dia em que Bourdain almoçou no restaurante, vários comensais foram apanhados de surpresa e rumaram a casa para trazer para o restaurante cópias dos livros do chef, para que este os pudesse assinar. Outros tantos, avistaram a estrela da rua, pararam os carros e entraram no estabelecimento a mando da curiosidade. Bourdain esteve cerca de cinco horas no restaurante. Assinou todos os livros, tirou fotografias e esboçou sorrisos.

“Conversámos imenso sobre o meu pai”, recorda Branca ao Observador. “Ele ficou muito admirado quando contei que o meu pai foi primeiros chefs a ter carteira profissional.” A conversa sobre o pai tornou-se tão pessoal e tocante que Branca chegou a oferecer a Bourdain um vintage “muito antigo” da coleção privada do pai.

“Derrubou duas ou três vezes o pino e ficou todo contente”

Em 2011, Manuel José Favinho jogou chinquilho com o chef norte-americano no clube Chinquilho Junqueirense Giestal — no encontro também este presente Ljubomir Stanisic. “Derrubou duas ou três vezes o pino e ficou todo contente”, recorda ao Observador. Favinho, que assegura que Bourdain jogou durante horas, recorda também: “Bom jogador não era, mas também foi a primeira vez que jogou”. Aos 72 anos, o senhor que chegou a fazer parte da direção do clube diz com pesar que Bourdain prometeu que voltaria ao clube. “Ele gostou muito daquilo. Disse que voltava, mas infelizmente nunca voltou.”

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