Theranos, a empresa multimilionária cujo principal produto chegou a ser visto como um potencial avanço que iria revolucionar a indústria da saúde, vai fechar portas depois de, em 2016, ter protagonizado um dos maiores escândalos tecnológicos de sempre.

A notícia foi avançada esta terça-feira pelo The Wall Street Journal que cita um acionista. Segundo a mesma fonte, o capital que restar do processo de dissolução será utilizado para pagar a credores. O anúncio surge cinco meses depois de a empresa ter reduzido os 125 trabalhadores que ainda se mantinham na empresa a cerca de 20 pessoas.

A startup que prometia realizar análises a 30 doenças com apenas uma gota de sangue chegou a estar avaliada em nove mil milhões de dólares (8,5 mil milhões de euros). A sua fundadora, Elizabeth Holmes — muitas vezes comparada a Steve Jobs, por ter fundado a empresa aos 19 anos sem terminar os estudos — tornou-se na mulher mais jovem de sempre ao entrar, em 2014 e com apenas 30 anos, na lista da Forbes dos 400 mais ricos dos Estados Unidos. A sua fortuna pessoal estava avaliada em 4,5 mil milhões de dólares (cerca de 4,2 mil milhões de euros).

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No entanto, uma investigação do The Wall Street Journal publicada em outubro de 2015 revelou que a tecnologia da Theranos não cumpria as funções anunciadas, que prometiam testes mais rápidos e baratos que os grandes laboratórios. De acordo com a publicação norte-americana, a tecnologia da empresa apenas cumpria cerca de 10% dos testes anunciados (15 em 240) e os ex-colaboradores desconfiavam da precisão destas análises.

A investigação jornalística foi o início do fim da Theranos. A empresa foi proibida de prosseguir com os testes pelo regulador e foi alvo de vários processos por parte de investidores. Apesar de inicialmente ter negado as acusações, Elizabeth Holmes acabou por assumir a culpa e, em junho de 2016, a Forbes reavaliou o valor da empresa em baixa, desvalorizando 8 mil milhões de euros.

Como a “menina querida” das startups perdeu 8 mil milhões em 8 meses

Em março deste ano, a Securities and Exchange Commission (SEC, equivalente à CMVM portuguesa) considerou que Elizabeth Holmes e o ex-presidente da empresa Ramesh Balwani tinham participado numa “elaborada e longa fraude com a qual captaram mais de 700 milhões de dólares a investidores, graças a declarações falsas que prestaram sobre a tecnologia, os negócios e o desempenho financeiro da empresa”. Em junho, os dois responsáveis foram acusados pelo ministério público de 11 crimes de fraude (nove acusações de fraude eletrónica e duas por conspiração de fraude eletrónica). A pena pode chegar a 20 anos de prisão.

Theranos. “Menina querida” das startups acusada de “elaborada e longa fraude”