A Índia fez ataques aéreos no Paquistão na madrugada desta terça-feira, 26 de fevereiro. A informação de uma ofensiva no Paquistão, que começou por ser avançada por agências de notícias locais, foi confirmada pelo governo indiano, apesar de este numa fase inicialmente não ter dado detalhes sobre a operação. Mas horas depois revelou que o ataque se dera numa base terrorista em Balakot, numa província do Paquistão chamada Khyber Pakhtunkhwa.
Por sua vez, um porta-voz do exército paquistanês confirmou que foram utilizados meios aéreos indianos no ataque, aponta a Bloomberg. Mas rejeitou a reivindicação da Índia de que o ataque tivesse como alvo uma base de um grupo terrorista, numa declaração enviada pelo gabinete do primeiro-ministro do País, Imran Khan. Os responsáveis políticos do país garantem que vão levar “media locais e estrangeiros à ‘zona de impacto'” para o provar e que o Paquistão vai responder “no tempo e local que quiser”.
O Governo terá ainda dito ao exército e às pessoas para “estarem preparados para possíveis desenvolvimentos” e agendou uma reunião da Autoridade Nacional de Comando do Paquistão para 27 de fevereiro. Esta entidade é responsável pelas políticas nucleares do país, incluindo comando operacional, controlo, monitorização e formulação de estratégias para o arsenal nuclear do Paquistão.
O secretário dos Negócios Estrangeiros da Índia, Vijay Gokhale, mantém que o ataque foi “uma ação preventiva não-militar que tinha como alvo específico um campo do Jaish-e-Mohammed”, um grupo jihadista que opera na região. De acordo com o diplomata indiano, a ação permitiu evitar vítimas civis.
A diferença nas versões dos dois países não se fica pelo alvo atingido. Na sequência dos ataques aéreos terão morrido 300 presumíveis terroristas, disse fonte do governo indiano à Reuters. Já fontes da agência de notícias indiana PTI apontam para um número superior: “350 [presumíveis] terroristas” mortos. O Paquistão garante que não houve feridos nem mortos perto de Balakot.
A versão da Índia: ataque a um centro de treinos para bombistas suicidas
A base do grupo jihadista que terá sido o principal alvo do ataque, de acordo com a versão indiana, seria um centro de treinos para bombistas suicidas, segundo a agência noticiosa indiana ANI. Estaria localizado numa zona florestal densa, no topo de uma colina distante da povoação mais próxima.
O secretário do Governo da Índia Vijay Gokhale adiantou ainda que a base do grupo terrorista seria dirigida por Maulana Yusuf Azhar, cunhado do fundador e líder do grupo terrorista Maulana Masood Azhar. O diplomata indiano acrescentou que havia informação “credível” de que este grupo jihadista estivesse a planear ataques semelhantes ao que aconteceu há 12 dias na povoação indiana de Pulwama, que causou a morte de pelo menos 40 oficiais de segurança indianos.
[As primeiras imagens da região afetada pelo ataque aéreo indiano:]
Intel Sources: Picture of JeM facility destroyed by Indian Ar Force strikes in Balakot, Pakistan pic.twitter.com/th1JWbVrHw
— ANI (@ANI) February 26, 2019
Intel Sources: Ammunition dump blown up today in Balakot,Pakistan by IAF Mirages. The dump had more than 200 AK rifles, uncountable rounds hand grenades, explosives and detonators pic.twitter.com/b7ENbKgYaH
— ANI (@ANI) February 26, 2019
A agência de notícias indiana ANI avançou que o ataque terá “destruído por completo” bases jihadistas em Balakot, Chakothi e Muzaffarabad. “Salas de comando de operações do Jaish-e-Mohammed também foram destruídas”, apontou ainda a agência noticiosa, que acrescentou que o ataque aéreo terá consistido no lançamento de bombas com 1000 quilogramas em zonas paquistanesas. Na operação terão estado envolvidos 12 aviões da Força Aérea Indiana. Esta informação ainda não foi confirmada oficialmente. Os dois países possuem armamento nuclear.
O Exército tomou este passo necessário para a segurança do país. Foi uma ação de valor extremo. O Primeiro-Ministro [Narendra] Modi deu às Forças Armadas liberdade para agir. Hoje, todo o país está com as Forças Armadas”, afirmou por sua vez o ministro do Desenvolvimento de Recursos Humanos indiano, Prakash Javadekar, citado pelo The Guardian.
Um ataque sem precedentes recentes (e a resposta do Paquistão)
Esta é a primeira vez que a Força Aérea Indiana faz uma ofensiva no espaço aéreo do Paquistão desde a violenta guerra de 13 dias que opôs os dois países em 1971. Nem num conflito armado entre Paquistão e Índia que se registou em 1999 na região de Caxemira houve ofensivas indianas em espaço aéreo paquistanês.
Em declarações aos jornalistas após uma reunião com oficiais superiores das Forças armadas paquistanesas, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Shah Mahmood Qureshi, considerou que a Índia “cometeu hoje uma agressão contra o Paquistão” e que violou a Linha de Controlo Militar acordada entre os dois país. “O Paquistão tem o direito de dar uma resposta adequada em auto-defesa”, disse ainda.
A estação paquistanesa Radio Pakistan noticiou que o Ministro das Finanças do país Shah Mahmood Qureshi convocou uma reunião de emergência para “discutir a situação decorrente da violação da Linha de Controlo [entre os dois países] pela Força Aérea Indiana. Na reunião será discutida a situação de segurança. Estarão presentes antigos secretários de Estado e embaixadores séniores”.
Quem “saudou” os pilotos da Força Aérea Indiana (Indian Air Force, ou AIF) foi o presidente do Congresso indiano Rahul Gandhi. Já o Ministro de Estado para a Agricultura do mesmo país, Gajendra Singh Shekhawat, terá escrito no Twitter que “a Força Aérea levou a cabo um ataque aéreo esta manhã em campos de terror ao longo da LoC [Linha de Controlo militar] e destruiu-os completamente”, segundo o The Guardian.
Key Jaish e Mohammed operatives targeted in today’s air strikes: Maulana Ammar(in pic 1, associated with Afghanistan and Kashmir ops) and Maulana Talha Saif(pic 2), brother of Maulana Masood Azhar and head of preparation wing pic.twitter.com/rkEyCqvMJg
— ANI (@ANI) February 26, 2019
Neste momento, o secretário dos Negócios Estrangeiros da Índia e outros elementos do governo do país estarão em contacto com os principais membros do Conselho de Segurança da ONU: China, França, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos da América e Alemanha. A China já terá pedido aos dois países para terem cautela e contenção nas suas ações, avança a agência de notícias France-Presse.