Um jovem de 27 anos foi hospitalizado depois de alegadamente ter sido agredido na madrugada de domingo, no bar Sabotage, no Cais do Sodré, em Lisboa, por um segurança daquele estabelecimento. O rapaz, que já apresentou queixa à PSP, contou ao Observador que foi expulso do bar sendo agarrado pelo pescoço e depois agredido, no exterior, com um murro que o deixou inanimado. Fonte do bar nega as agressões e diz que foi o jovem que, depois de agredir verbalmente o segurança, “caiu no chão e bateu com a cabeça”.
Ainda na noite de sábado, um grupo de amigos que celebrava o aniversário de uma amiga entrou no bar Sabotage, no Cais do Sodré. “Entrámos, pagámos a entrada e, dentro do bar, separámo-nos porque eu encontrei umas pessoas e eles encontraram outras”, disse uma amiga da vítima, a aniversariante, ao Observador. Foi ela que, horas mais tarde, já na madrugada de domingo, sentiu falta do amigo e foi à sua procura:
Quando chego à porta, já está ele no meio da rua a perguntar ao segurança por que é que o estava a expulsar. Estavam os dois a uns metros um do outro e do nada o segurança avança para cima dele, dá-lhe um murro e ele bate de cara no chão“.
A vítima diz que não consegue perceber o porquê de ter sido expulso daquela maneira e depois agredido. O jovem conta ao Observador que estava com os amigos quando terá sido abordado pelo segurança. “Um deles entornou-me uma cerveja em cima e disse-me: ‘Vou buscar duas cervejas. Uma para mim e outra para ti'”, recorda — é a única explicação que consegue encontrar para o que terá motivado a abordagem.
Nessa altura, senti um braço no pescoço e arrastaram-me para fora do bar. Quando cheguei lá fora, perguntei civilizadamente qual era razão para me ter feito o que fez, até para, caso estivesse a fazer alguma coisa de mal, não voltar a repetir. E ele respondeu-me com violência. Deu-me um murro na cara e eu caí inanimado no chão“
Nessa altura, já a amiga se encontrava no exterior e, junto com outras pessoas que entretanto se juntaram ali, ajudaram o jovem a levantar e a “tirá-lo o mais longe possível do segurança”. A jovem chamou a polícia e o INEM. O rapaz ainda terá conseguido identificar o alegado agressor. “Depois das agressões, o segurança foi para dentro do bar. Tiveram [os agentes da PSP] que o ir chamar lá dentro”, recorda a jovem.
Foi chamada uma ambulância que transportou o jovem até ao Hospital de São José, onde foi suturado. “Teve de levar pontos no sobrolho e no nariz. Tem os dois olhos roxos e inchados e mal os consegue abrir”, disse ainda a jovem, como aliás se consegue comprovar em várias fotografias a que o Observador teve acesso. O jovem explicou ainda ao Observador que costumava frequentar aquele bar e que nunca teve problemas deste género, “nem ali nem em lado nenhum”.
Mais tarde, nesse dia, deslocou-se à esquadra da PSP, em Benfica, onde apresentou queixa das agressões e vai agora, revelou, processar o segurança que o terá agredido. A PSP, que confirmou ao Observador ter sido mobilizada para o local, procedeu, depois, à identificação do alegado agressor e questionou outras duas pessoas que se encontravam no local e testemunharam as alegadas agressões. O caso vai agora ser investigado pela divisão de investigação criminal, confirmou a mesma fonte.
Bar nega agressões e diz que rapaz foi expulso porque estava a causar distúrbios
Fonte do bar onde terão acontecido as agressões nega o sucedido, mas confirmam a desavença entre os envolvidos. Fonte do Sabotage explicou ao Observador que o jovem estava “completamente embriagado, a cair em cima das pessoas” e que, por isso, a empregada do bar ter-lhe-á dito “para ir apanhar ar”. O jovem, adianta, terá recusado. Foi então que a empregada terá ido chamar o segurança à porta e explicou-lhe o que estava a acontecer, pedindo-lhe para “tentar ver se conseguia meter a apanhar ar na rua”.
O segurança foi efetivamente ter com ele e disse-lhe para ir tomar um bocadinho de ar porque não estava em condições para continuar lá dentro. Ele começou a gritar com ele e o segurança agarrou nele pelo braço e meteu-o na rua e não fez mais nada“, diz a mesma fonte.
Lá, o jovem terá começado a agredir verbalmente o segurança e, depois de ter ido “dar uma volta”, terá voltado e “começou a ser mais agressivo ainda”. “O segurança empurrou-o só e disse: ‘Sai daqui porque eu não vou conversar contigo e nem tenho mais nada a dizer'”. O bar alega ainda que foi o jovem que “começou a querer bater no segurança” e que este ter-se-á até afastado. Nesse período, segundo a mesma fonte, terá pontapeado alguns caixotes do lixo e partido uma montra — tendo sido até chamada a polícia para averiguar a situação. O jovem nega e a PSP não conseguiu confirmar ao Observador, até ao momento, que tal tenha mesmo acontecido uma vez que não há, até ao momento, registo dessa ocorrência.
Na versão do bar, o jovem terá, mais tarde, regressado. “Entretanto, alguém que estava ali — porque entretanto começou a formar-se um grupo de pessoas — agarrou nele e conforme ele estava a gesticular para se tentar soltar essas duas pessoas caíram no chão e esse rapaz caiu de cabeça e bateu com a cabeça“, explica a fonte, adiantando que o segurança foi inclusive “buscar água e papel para lhe limpar a cara”. Uma explicação que, para a vítima não lhe parece estranha porque, disse ao Observador, quando foi agredido, o segurança terá dito para a amiga: “Está a ver? Eu não fiz nada. Ele caiu no chão”.
A mesma fonte acrescenta que, assim que o jovem ficou consciente novamente “começou a agredir o segurança verbalmente com mil e quinhentos nomes”. O jovem e a amiga que testemunhou tudo nega: “Ele não tentou de todo tocar no segurança. Estava a metros do segurança e ele, deliberadamente, avançou e deu-lhe um murro”.
Seguranças do Urban estão a ser julgados por agressões a dois jovens
Relatos de agressões, muitas vezes através das redes sociais, não são novidade. Aliás, decorre, neste momento, o julgamento de três seguranças da discoteca Urban Beach, em Lisboa, que em novembro de 2017 foram filmados a agredir violentamente dois jovens à porta do estabelecimento. Em maio do ano passado, Pedro Inverno, João Ramalhete e David Jardim foram acusados de homicídio qualificado na forma tentada.
“Estado de raiva, sono e eventual exaustão.” Seguranças do Urban começam a ser julgados
A cena de pancadaria foi filmada e partilhada nas redes sociais, gerando polémica suficiente para que este caso — como aconteceu em tantos outros — não passasse despercebido. O Ministério Público entendeu que os seguranças “agiram de forma livre, deliberada e conscientemente” e sabiam que nas zonas do corpo que atingiram com as agressões “se encontravam órgãos vitais e que os ferimentos daí resultantes poderiam determinar a morte do mesmo”.
[Recorde o vídeo que mostra as agressões à porta do Urban Beach, na madrugada de 1 de novembro de 2017]
Os três seguranças requereram a abertura de instrução, mas, em novembro do ano passado, o Tribunal Judicial da Comarca decidiu levar a julgamento os arguidos “nos exatos termos” do MP. Para começar, considerou como prova válida o vídeo que captou as agressões — algo que a defesa tinha pedido para ser considerada uma “gravação ilícita”. Entendeu ainda que “não existem indícios” de que as vítimas “estivessem a praticar um furto ou sequer estivessem a provocar desacatos que lesassem o direito à integridade física de terceiros”. Uma nova sessão do julgamento está marcada para esta terça-feira.
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