O departamento de imigração do Reino Unido está a ser alvo de críticas depois de utilizar excertos da Bíblia Sagrada na carta de rejeição de um pedido de asilo que um jovem do Irão fez em 2016. O iraniano decidiu converter-se ao Cristianismo por considerar que era uma religião mais pacífica, mas o Home Office quis provar que não. Para isso, utilizou episódios que diz serem “cheios de imagens de vingança, destruição, morte e violência” relatados na Bíblia para mostrar como o Cristianismo não era pacífico e, por isso, que a decisão utilizada para se ter convertido era inválida.
Numa carta enviada ao jovem, que mais tarde foi partilhada por Nathan Stevens, o especialista em imigração e asilo e que está a tratar deste caso, o Home Office citou excertos da Bíblia onde se pode ler: “Vais perseguir os teus inimigos, e eles vão cair pela espada perante ti. Cinco de vocês vão perseguir cem, e cem de vocês vão perseguir mil”. “Estes exemplos são inconsistentes com o motivo para se converter ao Cristianismo depois de descobrir que é uma ‘religião pacífica’, ao contrário do Islão que contém violência, raiva e revolta”, argumentou o Governo.
Excerpt from a home office reasons for refusal letter for a convert to Christianity. I’ve seen a lot over the years, but even I was genuinely shocked to read this unbelievably offensive diatribe being used to justify a refusal of asylum. pic.twitter.com/R1wA1HMNwH
— Nathan Stevens (@nathestevens) March 19, 2019
Os pedidos de asilo no Reino Unido são feitos quando existe um “receio fundamentado” de perseguição por causa da etnia, religião, opinião política ou pertença a um determinado grupo social. Neste caso em particular, quem se converte a outra religião pode estar sujeito a pena de morte no Irão. “Já vi muito ao longo dos anos, mas estou genuinamente chocado ao ler esta inacreditável e ofensiva desculpa para justificar a recusa de um pedido de asilo”, referiu Nathan Stevens.
Independentemente dos pontos de vista sobre fé, como é que um funcionário do Governo pode escolher arbitrariamente pedaços de um livro sagrado e depois usá-los para destruir a razão sincera de alguém para ter chegado a uma decisão pessoal de seguir outra fé?”, questionou o especialista em imigração.
Entretanto, o Home Office aceitou anular a decisão inicial para reconsiderar o pedido de asilo do jovem. O órgão responsável pela imigração e segurança fronteiriça disse ainda ao The Independent que a carta enviada ao jovem iraniano não representa os seus princípios. “A carta não está de acordo com a nossa abordagem política para reivindicações baseadas em perseguição religiosa”, referiram.
Esta não é a primeira vez que o mesmo departamento recusa um pedido de asilo que invoca questões religiosas. Há vários anos, o Home Office enviou uma carta de recusa para outro cidadão convertido ao Cristianismo onde argumentava: “Afirmou no seu pedido que Jesus é o seu salvador, mas depois disse que Ele não seria capaz de o salvar no regime iraniano. Portanto, considera-se que não tem convicção na sua fé e a sua crença em Jesus é indiferente”.
A comment from another refusal:”You affirmed in your AIR that Jesus is your saviour, but then claimed that He would not be able to save you from the Iranian regime. It is therefore considered that you have no conviction in your faith and your belief in Jesus is half-hearted.”
— Nathan Stevens (@nathestevens) March 20, 2019