Alexandre Soares dos Santos, antigo presidente da Jerónimo Martins, confessou estar desiludido com o atual estado de Portugal, que se terá tornado periférico no espaço internacional: “Somos um franchise dos caminhos de ferro espanhóis, compramos tudo antigo, sem interesse absolutamente nenhum e temos um Serviço Nacional de Saúde que não estamos minimamente interessados em mudar”. O empresário, e criador da Fundação Francisco Manuel dos Santos, falou após ter recebido um Doutoramento Honoris Causa da Universidade de Aveiro (UA).

“Não estou zangado, antes fosse, estou triste, que é pior”, continuou Soares dos Santos, reforçando: “Eu não acredito em nada já na política em Portugal. Nada. Não espero nada, rigorosamente nada, da economia portuguesa”. O empresário tem, aliás, pouca esperança numa mudança: “Enquanto houver um governo que não privilegia o investimento da iniciativa privada, esqueça!”.

A última entrevista a Alexandre Soares dos Santos. “Os pobres fizeram-se para a gente os transformar em classe média”

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Presidente do Conselho Geral da UA de 2009 a 2014 e Membro do Conselho de Curadores da UA de 2016 a 2018, Soares dos Santos aproveitou a homenagem para deixar um pedido aos responsáveis políticos: “Gostava que o Governo aceitasse que se este país ainda anda, deve-se às universidades e às empresas“.

O Reitor da UA, Paulo Jorge Ferreira, justificou o Doutoramento Honoris Causa atribuído a Alexandre Soares dos Santos com o seu “impacto significativo no desenvolvimento económico e social do país”, que se alia ao seu trabalho “na promoção de novas formas de intervenção na sociedade, em áreas como a educação, economia, investigação e cultura, estabelecendo fundações ou obras sociais de elevado mérito”.

Paulo Jorge Ferreira salientou, ainda, alguns dos contributos que Alexandre Soares dos Santos tem oferecido à UA, afirmando que quando optaram pelo estatuto fundacional, acerca do qual “havia muitas incertezas”, a sua “visão e rigor foram decisivos para inspirar e reunir todos em torno de objetivos comuns”.

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Soares dos Santos viu a homenagem como um “momento que jamais poderia esquecer” e que lhe dava um “imenso prazer em fim de vida”. O empresário garantiu também que sempre tentou “passar às gerações vindouras algo maior”, reforçando: “Existem duas categorias de pessoas: os que querem ser alguém e os que querem fazer alguma coisa. Eu quis as duas coisas: nunca ser mais um“.

Alexandre Soares dos Santos, nasceu no Porto em 1934. Frequentou o curso de Direito da Faculdade de Direito de Lisboa, que abandonou em 1957, para iniciar a sua carreira profissional, após um convite da multinacional Unilever. Nesta empresa passou por várias delegações e filiais no estrangeiro e, em 1968, regressou a Portugal para assumir a liderança da Jerónimo Martins, que pelas suas mãos passou de uma empresa de pequena dimensão a um dos maiores grupos empresariais portugueses, tendo lançado a marca Pingo Doce, colocado o grupo em Bolsa e expandido-se internacionalmente, em 1995, para o Brasil e Polónia.

Em 2009, criou a Fundação Francisco Manuel dos Santos, que gere o portal “Pordata”, Base de Dados do Portugal Contemporâneo, e lançou uma coleção de livros de Ensaio, a preços reduzidos, sobre temas da atualidade.