Quem é Robyn Rihanna Fenty? Até 2005, foi só mais uma adolescente da ilha de Barbados, antiga colónia britânica voltada para o mar das Caraíbas. A estrela pop nasceu para o mundo há 14 anos, embora hoje a música seja só um segundo argumento para explicar o lugar que conquistou no star system. Hoje, é uma empresária avaliada em milhões e a ganhar balanço para instalar a sua própria maison em Paris. As primeiras notícias são de janeiro deste ano, mas só agora Rihanna e Bernard Arnault, CEO do maior império de moda de luxo do mundo, vieram oficializar.
A partir do sobrenome da família — Fenty –, Rihanna e o grupo LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton) inauguram um novo capítulo, da vida e carreira da miúda dos Barbados e da história da moda de luxo europeia. “Desenhar uma linha como esta com a LVMH é um momento muito especial para nós”, afirmou a cantora e empresária de 31 anos, num comunicado emitido esta sexta-feira e citado pelo The New York Times. “Sr. Arnault deu-me uma oportunidade única de desenvolver uma marca de moda no setor do luxo, sem limites na direção criativa. Não consigo pensar num parceiro melhor, em criatividade e em experiência de negócio, e estou pronta para que o mundo veja o que construímos juntos”, declarou ainda.
O feito é histórico. Afinal, falamos do maior grupo de luxo do mundo, proprietário de marcas como a Christian Dior, Louis Vuitton, Fendi, Givenchy, Celine, Bulgari, Loewe e Guerlain, entre muitas outras. Rihanna não só é a primeira mulher a criar uma marca dentro do grupo, como a primeira mulher negra a encabeçar uma maison dentro do universo LVMH, que não criava uma nova marca deste o nascimento da Christian Lacroix, em 1987.
“Toda a gente conhece a Rihanna como uma cantora fabulosa, mas com a nossa parceria na Fenty Beauty, descobri uma verdadeira empresária, uma CEO e uma líder incrível. Para apoiar a Rihanna no arranque da Maison Fenty, formámos uma equipa talentosa e multicultural, a partir dos recursos do grupo”, refere Bernard Arnault, presidente do grupo LVMH, cujas receitas ultrapassaram a marca dos 12 mil milhões de euros no primeiro trimestre de 2019, refletindo um aumento de 16% face ao mesmo período do ano anterior.
Bernard Arnault. O bilionário francês que define o gosto dos milionários do mundo inteiro
Depois da maquilhagem e da roupa interior, a fasquia volta a subir para a cantora. A nova marca terá sede em Paris e as suas coleções vão incluir vestuário, calçado e acessórios. Ambas as partes garantem que as primeiras peças serão lançadas dentro de poucas semanas. Rihanna ocupará o cargo de diretora criativa, automaticamente equiparada a nomes como Nicolas Ghesquière, Hedi Slimane, Maria Grazia Chiuri e Clare Waight Keller. Para a indústria da moda de luxo, o momento é histórico. Habitualmente fechado na herança e no savoir faire das casas europeias, o setor abre as suas portas a uma dissidente. Até aqui ocupado a dar continuidade ao trabalho de marcas históricas, garantido uma linhagem brilhante de diretores criativos, o grupo recebe agora uma estrela da pop, cujo poder de influência há muito deixou de se limitar aos discos editados (por sinal, algo que Rihanna não faz há mais de três anos).
Rihanna: de estrela pop a empresária de sucesso
Foi entre o pop e o R&B que construiu uma carreira musical. “Music of the Sun”, de 2005, seria o primeiro de oito álbuns de originais. O último, “Anti”, foi editado em janeiro de 2016. Performer, sex symbol e fashionista — Rihanna foi se construindo em cada uma destas dimensões, trabalhando para elevar o seu posicionamento mediático. Dos visuais que marcaram a passagem da adolescência para a relação com designers de renome que veio com a idade adulta, a evolução de Rihanna fez-se visual e musicalmente.
Em 2014, chocou o mundo com um naked dress. Em 2007, pisou pela primeira a passadeira vermelha da Met Gala, embora só em 2015 a cauda amarela de Guo Pei a tenha catapultado para os cabeçalhos sobre a noite mais excêntrica do ano. No dia seguinte, a indústria dos memes rejubilou. Faltou à edição deste ano, mas provavelmente negócios mais importantes já estivam em andamento. Em 2017, ano em que também passou pela red carpet de Cannes, cobriu-se de brilhantes, da cabeça aos pés, para o Coachella, numa única peça com a assinatura Gucci. Nesse mesmo ano, um decote explosivo chamou as atenções. Em junho do ano passado, voou até Paris para assistir, na primeira fila, à estreia de Virgil Abloh como diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton.
No que toca a solidariedade, em 2012, criou a Clara Lionel Foundation, através da qual viria a criar um programa de bolsas para estudantes de Barbados, Brasil, Cuba, Haiti, Guyana, Jamaica e Estados Unidos, em 2016. Os apoios podiam variar entre os 5.000 e os 50.000 dólares. Apoiar causas também é com ela. A atitude emancipada já a levou a responder mal a jornalistas e entrevistadores sempre que questionada sobre namorados e eventuais relações amorosas. A atitude perante o corpo também tem sido um marco nos últimos Tempos. “Não sou trabalhada como uma miúda da Victoria’s Secret e continuo a sentir-me muito bonita e confiante na minha lingerie”, afirmou numa entrevista à Vogue, há cerca de um ano. No final de 2018, outra tomada de posição. Rihanna recusou atuar no intervalo do Super Bowl 2019, em solidariedade para com o jogador Colin Kaepernick.
Bem relacionada? Sem sombra de dúvida. Bem sucedida? Sobretudo a partir do momento em que se dedicou aos negócios. Fenty, a marca que acaba de entrar para a maior constelação de insígnias de luxo do mundo (e de ganhar um novo logótipo), foi criada em 2016, ano em que Rihanna se estreou no papel de designer de moda. A parceria com a Puma, marca detida pela Kering, rival do gigante LVMH, foi mostrada na Semana da Moda de Nova Iorque. O contrato terá sido de um milhão de dólares e refletiu-se nas vendas seis meses depois, com a marca a registar um aumento de 16% no segmento do calçado. As apresentações mudaram-se para Paris nas estações seguintes e regressaram a casa de partida em 2017. “A Marie Antoinette usaria se fosse ao ginásio”, chegou a descrever a cantora.
A beleza foi o território fértil que se seguiu. Em setembro de 2017, a Fenty Beauty impressionou pela variedade. As suas bases, disponíveis em 40 tons diferentes, eram a bandeira de uma marca que queria servir e promover a diversidade. Nos primeiros 40 dias, as vendas atingiram a marca dos 100 milhões de dólares. A sua comercialização no mercado europeu encetou as relações entre Rihanna e o grupo LVMH. A marca só chegou a Portugal em setembro de 2018, depois de ter semeado a ansiedade e a histeria em milhares de fãs, deste e do outro lado do Atlântico. Continua a ser vendida, em exclusivo, na Sephora, uma cadeia detida pelo mesmo grupo francês. Enquanto isso, a cantora já dava o passo seguinte — Savage x Fenty, uma linha de roupa interior feminina. Mais do que uma simples apresentação de coleção, o primeiro desfile, a encerrar Semana da Moda de Nova Iorque, foi um manifesto à diversidade.
Agora, a moda de luxo. Nem Rihanna, avaliada em 260 milhões de dólares pela revista Forbes (em julho do ano passado), nem a LVMH adiantaram detalhes quanto a um possível desfile nem em relação a eventuais pontos de venda físicos. Para o grupo, a estratégia dos últimos anos também tem apontado para um futuro mais igualitário. Decidido a trazer mais mulheres para os cargos de direção criativa, contratou Maria Grazia Chiuri para substituir Raf Simons na Dior, em 2016, e Clare Waight Keller para substituir Riccardo Tisci na Givenchy, em 2017. No ano passado, Virgil Abloh tornou-se no primeiro afro-americano à frente da Louis Vuitton.
Na fotogaleria, percorra a evolução de estilo e de imagem de Rihanna, ao longo dos últimos 14 anos.