O Presidente dos EUA, Donald Trump, propôs que a próxima cimeira do G7 decorra num dos seus resorts em Miami, ao mesmo tempo que tenta afastar a acusação de querer lucrar com aquele evento, dizendo que não está a pensar “fazer dinheiro nenhum” com a cimeira.

O sítio proposto pelo Presidente dos EUA é o Trump National Doral Miami, um resort de golf que ele próprio comprou em 2012 e que desde então tem tido dificuldades, sobretudo desde que Donald Trump lançou a sua campanha para entrar na Casa Branca.

“É um sítio excelente, numa zona muito boa da Flórida e, muito importante, fica a apenas cinco minutos do aeroporto”, disse Donald Trump numa conferência de imprensa no rescaldo da cimeira do G7. “Temos uma série de edifícios espetaculares, aos quais chamamos de bungalows, em que cada um tem entre 50 a 70 quartos muito luxuosos com uma vista magnífica. Temos salas de conferências incríveis e restaurantes incríveis”, acrescentou. E continuou: “Os salões de baile estão entre os maiores e melhores de toda a Flórida. Está novinho em folha”.

Rejeitando a acusação de que pode estar a procurar obter lucro para a sua empresa através das suas funções desempenhadas enquanto Presidente dos EUA, Donald Trump disse: “Do meu ponto de vista, não vou ganhar dinheiro nenhum. Na minha opinião, não vou ganhar dinheiro nenhum. Eu não quero ganhar dinheiro”.

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Em maio deste ano, o Washington Post teve acesso a documentos da autoria da empresa de Donald Trump, que estão disponíveis para consulta devido a uma lei da Flórida que permite a consulta de ficheiros deste tipo. Aquela documentação foi submetida com o propósito de demonstrar que o valor da propriedade tinha caído juntamente com as suas receitas — o que acabou por levar a que fosse cobrados aproximadamente menos 80 mil dólares (72 mil dólares à taxa de câmbio atual) em impostos àquela propriedade.

De acordo com aquele jornal, os lucros do resort de Doral caíram a pique desde que Donald Trump iniciou a sua campanha para chegar à Casa Branca. O resort de Doral é gerido por Eric Trump, um dos filhos do Presidente dos EUA, que disse que as notícias de que os lucros da empresa estavam a cair “não fazem sentido”, apesar de ser isso mesmo que demonstram documentos públicos e oficiais.

Entre 2015 e 2018, depois de pagos todos custos associados à atividade do hotel, os lucros do resort de Doral caíram 69%, uma queda que foi dos 13,8 para os 4,3 milhões dólares de lucros — equivalente a 12,4 e a 3,9 milhões de euros, respetivmente.

No mesmos documentos, Jessica Vachiratevanurak — a representante da empresa de Donald Trump que entregou a documentação posteriormente obtida por aquele jornal — dizia que a taxa de ocupação do resort de Doral era de 53% em 2017, abaixo dos 77% da concorrência em torno. A diminuída procura também se refletia nos preços — no resort de Donald Trump uma noite custava, em média, 200 dólares (180 euros), ao passo que os hotéis daquela zona cobravam preços a partir dos 249 dólares (224 euros).

Nos mesmos documentos, Jessica Vachiratevanurak referia que as propriedades de Donald Trump em Miami estavam a ter um desempenho “muito abaixo das suas capacidades” e reconheceu que havia uma “conotação negativa associada com a marca”.

O interesse inicial naquele resort revolvia em grande parte em torno do seu campo de golfe, onde chegaram a ser disputadas partidas da PGA Tour ao longo de mais de 50 anos. Quando Donald Trump comprou aquela propriedade em fevereiro de 2012 — pagou 150 milhões de dólares (à altura, equivalente a 111 milhões de euros), dos quais 125 milhões foram emprestados pelo Deutsche Bank —, o campo de golfe foi amplamente divulgado — e foi-o ainda mais a partir de 2013, depois de Tiger Woods ali ter vencido um torneio.

Porém, em 2016, já com a campanha de Donald Trump em curso, o principal patrocinador daquele resort e dos seus torneios de golfe, a Cadillac, terminou a parceria. Desde então, perante as dificuldades para arranjar um novo patrocinador, a etapa do torneio que ali era organizada há mais de cinco décadas foi levada para a Cidade do México.

Por outro lado, escrevia ainda o Washington Post em maio, apesar da quebra da clientela mais ampla, os resorts de Donald Trump têm registado nos últimos tempos a presença de eventos organizados por grupos associados ao Partido Republicano — que neles gastaram 4,5 milhões dólares (aproximadamente 4 milhões de euros) — tal como de outros grupos da direita norte-americana.