Rei morto, rei posto. São vários os apoiantes de Miguel Pinto Luz — que teve 2887 votos nas diretas do passado sábado — que nas últimas 48 horas já escolheram um novo lado. Luís Montenegro ganhou dois líderes distritais (um deles da segunda maior do país, Lisboa) e um líder concelhio (Cascais), enquanto Rui Rio conseguiu o apoio do antigo ministro de Cavaco Silva, Luís Mira Amaral, e também do mandatário distrital de Pinto Luz em Bragança. Montenegro vai também ter consigo dois antigos homens fortes do aparelho no ‘passismo’: Matos Rosa e Miguel Relvas.

Fazendo o balanço dos últimos dois dias, os novos apoios que Montenegro conseguiu ir recrutar a Pinto Luz — em teoria, pela influência que significam junto das estruturas — garantem mais votos do que os conseguidos por Rui Rio.

O primeiro apoiante de Pinto Luz a manifestar o apoio a Luís Montenegro foi Bruno Vitorino, líder da distrital de Setúbal, logo no domingo. O autarca de Cascais venceu naquele distrito e Montenegro ficou em segundo lugar, mas a votação ficou muito tripartida. Bruno Vitorino justificou que “neste momento, a única opção” que vê “em cima da mesa que representa uma mudança e alguém que pode unir o partido é de facto o Luís Montenegro”, que terá o seu “apoio empenhado”. O líder distrital tem  a “certeza absoluta de que, de forma esmagadora” o partido e “Setúbal irá expressar a vontade de mudança”.

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No distrito de Setúbal, Rui Rio também tem um apoio que transita de Miguel Pinto Luz, o deputado Nuno Carvalho, que considera que  “o PSD deve dar ao país uma solução agregadora, com políticas inclusivas que permitam o desenvolvimento de Portugal”. E concluiu: “Pela sua experiência e capacidade de liderança, apoio Rui Rio”.

Já na manhã desta segunda-feira, numa nota enviada ao Observador, o presidente da distrital de Lisboa também declarou o apoio a Luís Montenegro. Ângelo Pereira partilhou da ideia de Bruno Vitorino de que “o único candidato que pode oferecer um novo caminho para o PSD, pela mudança que representa, e pela liderança agregadora que quer exercer”, é Montenegro. E deixou um apelo: “Todos os que desejam a mudança devem votar em Luís Montenegro, para que esta seja possível”.

Líder da distrital de Lisboa apoia Luís Montenegro na segunda volta

Em Lisboa, Luís Montenegro somou outro apoio: o do presidente da concelhia de Cascais, Nuno Piteira Lopes. O presidente do PSD/Cascais lembrou que na secção duas em cada 3 pessoas votaram em Pinto Luz e que “mais de 73% dos votos em Cascais foram para Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro”. Piteira Lopes explicou assim, em declarações ao Observador, que “aquilo que Cascais quis foi mudar o rumo, mudar a liderança, a direção do partido” e que, por isso, é “natural que no próximo sábado apoie Luís Montenegro“.

Piteira Lopes acrescentou que apoia Luís Montenegro porque “o outro candidato, até sábado presidente do PSD, já referiu e reforçou que o caminho a seguir nos próximos dois anos, é o mesmo que nos próximos dois”. E sublinhou: “A estratégia seguida nos últimos anos é errada e não queremos que se repitam os mesmos resultados.”

Lisboa (Área Metropolitana) é uma das áreas onde Pinto Luz venceu e onde Luís Montenegro quer investir, já que é a segunda maior distrital do país. Os votos da Amadora ficaram de fora e, por isso, podem vir agora a contar. Montenegro ficou em segundo e a menos de 200 votos de Pinto Luz, mas Rio teve menos de 150 votos de Montenegro. Claro que arrecadar os 1471 votos de Pinto Luz seriam uma grande ajuda para uma reviravolta, mas ainda assim era preciso mais mil votos noutros pontos do país. E a manta é curta.

Luís Montenegro conseguiu ainda nesta segunda-feira o apoio dos dois secretários-gerais do PSD que fizeram todo o período de liderança de Passos Coelho: Miguel Relvas e Matos Rosa. Relvas declarou o apoio ao antigo líder parlamentar em declarações à Rádio Renascença, onde explicou que sempre acreditou que “o PSD queria mudar depois de duas derrotas muito significativas, nas legislativas com 28% e nas europeias com 21%.” Na mesma linha de todos os que mudaram para o lado de Montenegro, Relvas destacou que “as duas candidaturas que protagonizam a mudança são mais votadas” e que o segundo classificado da primeira volta tem agora de “demonstrar que, mais do que uma segunda volta, é uma nova eleição”.

Já Matos Rosa, que era o diretor de campanha de Miguel Pinto Luz, explicou que apoiou e votou numa  “candidatura de mudança, que foi a do engenheiro Miguel Pinto Luz”, mas uma vez que neste momento há só dois candidatos, continuará “a votar numa candidatura de mudança e de coesão interna que é a do dr. Luís Montenegro”.

Matos Rosa, diretor de campanha de Pinto Luz, apoia Montenegro na segunda volta

Rio à pesca em Aveiro, Guarda e Bragança

Os nomes que se juntaram à candidatura de Rui Rio esta segunda-feira não têm o mesmo peso no aparelho do que os que passaram para o lado de Montenegro, mas são mudanças simbólicas que passam para uma candidatura que precisa de muito menos votos do que a do outro candidato. São três apoios em três distritos que Rio já venceu à primeira. Mas são sempre nomes a somar.

Um desses casos é o da deputada Ana Miguel Santos — que foi cabeça de lista pelo PSD em Aveiro nas últimas legislativas —  que apoiou Miguel Pinto Luz na primeira volta, mas decidiu apoiar Rui Rio na segunda. Ana Miguel Santos disse agora que Rui Rio “é sem margem para dúvidas o candidato mais bem preparado para primeiro-ministro”, diz. Numa publicação no Facebook, Ana Miguel Santos descreveu Rui Rio como “um político experiente e de convicções fortes”, algo que considera que demonstrou “como autarca e como deputado, colocando sempre o interesse de Portugal acima de tudo”.

A deputada afirmou ainda que “Portugal precisa de uma alternativa forte, com a coragem para realizar reformas importantes para dar um novo rumo ao país”. O Observador sabe que quando Ana Miguel Santos anunciou que ia apoiar Miguel Pinto Luz — de quem tinha sido chefe de gabinete durante o curto segundo governo de Passos Coelho — Rui Rio ficou desiludido com a deputada. Rio tinha apostado em Ana Miguel Santos por duas vezes (nas Europeias e Legislativas) e não gostou que esta tivesse optado por Pinto Luz. Desta vez, contará com a deputada.

Cabeça de lista por Aveiro nas legislativas apoia Rio na segunda volta

Outro dos apoios que passou de Pinto Luz para Rui Rio foi o de Fernando Carvalho Rodrigues, um dos rostos da candidatura do autarca de Cascais na Guarda. Fernando Rodrigues — engenheiro físico considerado o pai do PoSAT (o primeiro satélite português no espaço — tinha apoiado Pinto Luz por ser um “engenheiro do Instituto Superior Técnico, um social-democrata e alguém que está preparado, por aquilo que fez na vida, a levar o país novamente de ser capaz de produzir”.

Excluindo Pinto Luz, para Carvalho Rodrigues o “próximo melhor”, no sentido de querer “mais do mesmo” e capaz de “empolgar o país para a produção é Rui Rio“. O engenheiro físico avisa que “o mundo depois do Brexit, não é igual antes do Brexit” e por isso é preciso alguém que coloque Portugal a produzir e se afaste o país do imobilismo do passado.

Rui Rio conseguiu ainda o apoio de Manuel Rodrigues, ex-mandatário distrital de Bragança da candidatura de Miguel Pinto Luz e vereador na Câmara Municipal de Mirandela, que já garantiu: “Fui mandatário distrital de Miguel Pinto Luz. No sábado, vou votar Rui Rio!”

Há ainda aqueles que foram votar no último sábado em Miguel Pinto Luz e que desta vez já fizeram saber que vão ficar em casa, casos do antigo secretário de Estado do Ambiente, José Eduardo Martins, e do antigo líder da concelhia de Lisboa, Mauro Xavier.