A Polícia de Segurança Pública (PSP) pediu à população que denuncie eventuais situações de burla relacionadas com o surto do novo coronavírus. “Estamos atentos a este potencial fenómeno“, disse ao Observador a porta-voz do Comando Metropolitano de Lisboa, a subcomissária Ana Catarina Carvalho.

O alerta chega depois de um caso de dois indivíduos que terão tentado vender um medicamento contra o coronavírus a um idoso, na zona da Freguesia de Santo António, em Lisboa. Além deste caso, nem a PSP nem a Guarda Nacional Republicana (GNR) têm, para já, registo de qualquer crime de burla ocorrido nestas circunstâncias, confirmou o Observador junto destas forças de segurança.

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O único caso conhecido aconteceu na manhã desta quinta-feira. “Dois homens andaram a bater à porta de várias pessoas na freguesia [de Santo António]”, relatou ao Observador o presidente da Junta, Vasco Morgado, descrevendo esses indivíduos: “Muito bem vestidos e com uma identificação da Direção Geral da Saúde (DGS) ao peito”. Um dos moradores, idoso, abriu-lhes a porta.

Os dois indivíduos explicaram-lhe que vinham da parte da DGS e que tinham uns comprimidos para proteger do vírus. Disseram que não era uma cura, mas que protegia da doença e que cada caixa custava 35 euros“, explicou Vasco Morgado.

Os alegados burlões terão também dito que estavam a trabalhar em coordenação com a DGS e com a Junta de Freguesia. “O senhor disse-lhes que ia ligar à Junta e pediu-lhes para esperarem um pouco. Nesse momento, os dois indivíduos disseram que, enquanto ele fazia a chamada, iam ao carro buscar uns documentos. Nunca mais apareceram“, relatou Vasco Morgado.

A PSP não tem, até ao momento, registo de burlas relacionadas com o Covid-19 (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

O presidente adiantou ainda que foi mais tarde alertado por duas irmãs, também idosas e que vivem juntas, que o informaram que os dois suspeitos bateram também à porta de sua casa, mas não chegaram a abrir. “Já reforçámos os avisos à população e informámos a esquadra da PSP“, disse ainda.

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A Junta de Freguesia de Santo António recorreu também às redes sociais de forma a alertar à população para tentativas de burlas relacionadas com este surto. “Não abra a porta a estranhos. Nenhum profissional de saúde anda de porta em porta a dar informações ou conselhos sobre o coronavírus“, lê-se no aviso publicado na página do Facebook da freguesia, onde são disponibilizados contactos para os quais a população deve ligar caso tenha “qualquer sintoma como febre, tosse e dificuldade respiratória”.

https://www.facebook.com/FreguesiaSantoAntonioLisboa/photos/a.319450418197077/1683553641786741/?type=3&theater

Contactada pelo Observador, a PSP confirmou que foi alertada para o caso e está agora atenta a “este potencial fenómeno”, pedindo que as pessoas denunciem às autoridades se forem vítimas deste crime ou de alguma tentativa do mesmo. E dá conselhos sobre como atuar nestes casos.

Pedimos às pessoas que não ofereçam resistência e que tirem o máximo de dados possíveis sobre os agressores e as suas características físicas. É recomendável que a vítima tente perceber se a pessoa tinha alguma viatura, de que cor e com que a matrícula — mesmo que seja só uma parte dela —, e se estava acompanhada. E, claro, que liguem para o 112 assim que conseguirem, para chamar a polícia”, explicou ao Observador a subcomissária Ana Catarina Carvalho.

A GNR também “não tem registo de qualquer crime de burla, no âmbito do surto”, confirmou fonte desta força de segurança militar, adiantando que “permanecerá atenta à evolução da situação, através da recolha de informações no terreno”. Em resposta enviada ao Observador, a GNR explica que “o policiamento comunitário tem sido intensificado no apoio a idosos isolados e/ou sozinhos” para informar e “garantir que compreendem” as orientações da DGS.

A GNR já reforçou o policiamento no apoio a idosos isolados e/ou sozinhos (MICHAEL M. MATIAS /OBSERVADOR)

Não há atualmente qualquer vacina contra o Covid-19 nem sequer medicação exclusiva para tratar a doença que pudesse andar a ser vendida. O tratamento para esta infeção é sintomático: ou seja, é usada medicação específica para tratar os sintomas e sinais que os doentes apresentam.

Também não existe qualquer antibiótico para prevenir e tratar a doença. No seu site, a DGS alerta que os antibióticos “não devem ser usados para prevenção ou tratamento” do Covid-19 uma vez que “são dirigidos a bactérias” e não têm “efeito contra vírus”. “Sendo um vírus recentemente identificado, estão em curso as investigações para o seu desenvolvimento”, lembra a DGS no seu site.