Ao contrário do que tem sido habitual, quando a conferência de imprensa diária desta terça-feira arrancou (já com um atraso de uma hora) ainda não tinha sido divulgado o boletim com o mais recente balanço do número de casos e vítimas mortais devido à Covid-19, em Portugal. Foi por isso o secretário de Estado da Saúde que o anunciou: há 2362 casos confirmados, 22 recuperados e, segundo dizia, 29 vítimas mortais. Mas quando o boletim finalmente saiu — também ele com atraso, uma vez que segue agora um novo modelo com mais detalhe — o número de vítimas mortais lá escrito era de 30. Mesmo antes de acabar a conferência, António Sales foi confrontado.

Foram as indicações que me deram antes de vir. Ainda não tinha sido emitido o boletim e eu tentei ter acesso ao boletim, antes da emissão. Admito que possa ter havido alguma correção, mas de facto os dados que me foram dados foram de 29 óbitos”, explicou.

O Observador já confirmou entretanto com a Direção Geral de Saúde que o número oficial é 30 — e não 29 como adiantou o secretário de Estado. Esclarecida essa confusão, importava esclarecer outra: afinal, quantos testes são feitos diariamente em Portugal?

António Sales garantiu não ter havido nenhuma falsidade nas declarações feitas pelo primeiro-ministro António Costa, na noite desta segunda-feira, em entrevista à TVI: “Às vezes avaliamos os números de perspetivas diferentes, mas estamos todos a falar a mesma linguagem”.

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“Discurso político não é o da verdade. Portugal devia estar a fazer mais testes”, diz fonte da DGS

“Quando o sr. primeiro-ministro diz que temos um stock de 30 mil testes por dia, de facto, temos 30 mil testes por dia”, garantiu, dizendo que, contudo, o país tem de ter critérios de “racionalização” — “Não de racionamento”, alertou — para decidir quem deve fazer os testes. “Quando falamos que temos uma capacidade diária de quatro mil testes e estamos a fazer dois mil a 2,3 mil por dia, estamos a dizer que temos uma capacidade de testagem superior ao valor que estamos efetivamente a testar por dia”, explicou ainda.

Questionado sobre o porquê de estarem apenas a ser feitos cerca de 2 mil testes diários, quando o país tem capacidade para fazer 4 mil testes, António Sales garantiu que está a haver uma “responsabilidade” e não uma poupança na testagem.

Nós não estamos a poupar em testes. Não estamos a poupar em alocação de recursos financeiros. Não estamos a poupar em nada. Estamos é a fazê-lo de uma forma séria, responsável e racional. Queremos continuar a fazê-lo e tem de ser feito de uma forma adaptável. Se os casos começarem a aumentar, temos de avançar para testagem com maior número e de acordo com a estratificação de grupos de risco”, disse o secretário de Estado.

António Sales reforçou que “não há racionamento dos testes, há racionalização”. Nem de testes nem “em nenhum tipo de material”, disse. Questionado então sobre a razão pela qual os profissionais de saúde não estão a ser testados, uma vez que não há racionamento dos testes, o secretário de Estado respondeu: “Estamos testar profissionais de saúde prioritariamente que são sintomáticos. Estamos a ponderar alargar para profissionais de saúde assintomáticos que possam ter tido contacto em cadeia com doentes Covid-19. Tal e qual para pessoas que trabalham com população mais vulneráveis em lares e residências de idosos. Tudo isto terá de ser feito de acordo com suporte técnico com evidência científica e em consonância com a nossa capacidade de aquisição”, acrescentou.

Sobe para 30 o número de mortos. Há 2362 infetados em Portugal

O sub-diretor-geral da Saúde, Diogo Cruz, lembrou que a norma publicada na segunda-feira “alarga muito o número de testes que vamos começar a fazer”. “A norma passa a indicar e a permitir que se faça testes ao mínimo sintoma que apresentem. É literalmente ao mínimo. Basta ter febre, basta ter tosse”, disse.

Nova norma estabelece “critérios de prioridade” a doentes em lares

Questionado sobre se não deverá haver testes aos doentes instalados em lar de idosos, por serem uma das populações de risco, o secretário de Estado disse estar a acompanhar a situação. “Estamos a adaptar-nos a esta evolução e por isso mesmo a norma que vai produzir efeitos a partir do dia 26 vai ter como um dos critérios de prioridade ‘doentes em lares e unidades de convalescença’”, avançou. “Porque sentimos que esta população mais vulnerável tem de ser defendida, bem como os funcionários que trabalham com esta população”, acrescentou

Quanto a equipamentos de proteção individual, Sales assegurou que está a ser feito “um reforço no mercado”. “Estamos a trabalhar com as recomendações da própria CDC”, disse, referindo-se ao Centro de Controlo das Doenças norte-americano.

É necessário “defender essencialmente a grávida e o bebé nesta matéria”

Sobre as queixas que têm sido apresentadas pela impossibilidade de alguns acompanhantes estarem na sala de partos durante os nascimentos, o secretário de Estado sublinhou que é necessário “defender essencialmente a grávida e o bebé nesta matéria”.

Penso que os familiares compreenderão”, acrescentou.

No entanto, o sub-diretor-geral da Saúde, Diogo Cruz, acrescentou que pensa que está a ser levada “à letra” a recomendação de evitar visitas e que a DGS irá em breve emitir novas recomendações sobre esse tema.

Adquiridos 500 ventiladores na China que chegarão “até meados de abril”

António Sales adiantou que estão a ser adquiridos 500 ventiladores na China que “chegarão até meados de abril”. O secretário de Estado explicou também que foram encomendados 280 mil testes. “Esta semana chegarão 80 mil testes”, disse, acrescentando: “Tem de haver um racional para se testar. Não podemos fazer um rastreio populacional de dez milhões de habitantes. Tem de haver critério.”