A dias de começar o desconfinamento, Graça Freitas anunciou que está a ser preparada uma norma que as creches possam seguir e aplicar em breve. Se esta segunda-feira dita a abertura de lojas até 200 metros quadrados, entre outros negócios, a primeira fase que assinala o regresso do funcionamento das creches está apontada para o dia 18 de maio, ainda que até lá esteja prevista a primeira reavaliação dos especialistas das primeiras medidas que forem aliviadas.
“Estamos a preparar especificamente uma norma para ter com estas crianças pequenas. Temos que minimizar o risco, mas nunca será zero, vamos fazer de tudo para o controlar, mesmo com crianças tão pequenas”, afirmou Graça Freitas na habitual conferência de imprensa que se seguiu à divulgação do boletim epidemiológico, no qual se registaram mais 26 mortes que no dia anterior.
Sobre a questão do R, que passou a integrar o léxico dos portugueses e a ocupar grande parte da análise dos académicos, Graça Freitas repetiu que não é o único indicador a ter em conta para avançar ou fazer retrair alguma das medidas que possa ser tomada já no início da próxima semana. Há o número diário de novos infetados, de internamentos, e a análise do ritmo da tão famosa curva da pandemia que Portugal conseguiu conter. A diretora-Geral da Saúde referiu ainda que se espera ainda esta quinta-feira — enquanto o Conselho de Ministros está reunido a definir o calendário das próximas semanas — uma nova revisão do R feita pelos académicos.“À medida que temos novos casos o R tende a ser menor. Estamos à espera que os académicos nos apresentem o novo cálculo do R. Contabilizamos também o número de novos casos que aparecem todos os dias, apresentamos uma tendência para vir para uma linha de base mais baixa”, explicou Graça Freitas.
“R” volta a subir e ameaça regresso à normalidade. Que número é este e porque é tão importante?
Mas o plano para o regresso faseado não passa só pelas empresas, escolas e transportes públicos, mas também pelo necessário regresso à normalidade nas estruturas da saúde — fortemente condicionadas para canalizar os recursos para o combate à pandemia. A ministra da Saúde já admitiu que o SNS sozinho será incapaz de dar resposta às necessidades, assumindo que caso seja necessário os setores social e privados poderão ser chamados a ajudar algo que, segundo António Sales não é novo: “Priorizaremos o SNS, mas claro que sim, recorrendo aos privados e ao setor social aliás como é continuidade do que já temos vindo a fazer mesmo antes da época Covid”.
Segundo o secretário de Estado da Saúde, desde o início do combate à pandemia registou-se uma diminuição de 8,2% em relação às consultas médicas nos cuidados primários de saúde; 15,9% nas consultas de enfermagem também nos cuidados primários; 13,4% de consultas médicas nos hospitais e de 11,9% nos meios complementares de diagnóstico.
Campanha nacional sobre uso correto de máscaras “nos próximos dias”
Em vias de cessar o estado de emergência, a diretora-geral da Saúde anunciou ainda que nos próximos dias será divulgada uma campanha de âmbito nacional relativa ao uso correto das máscaras. “Vamos ter nos próximos dias uma campanha para dizer às pessoas como é que as máscaras devem ser colocadas e como é que devem ser retiradas. Temos de aprender a usá-las porque, como sabem, não temos essa tradição”, disse.
Os alertas relativos às máscaras foram, de resto, repetidos durante toda a conferência de imprensa, com Graça Freitas a apelar às pessoas que consultem sempre as etiquetas das máscaras adquiridas e que optem por aquelas que são certificadas. Acrescentando que o desconfinamento “não nos isenta de continuarmos a seguir medidas de prevenção”, Graça Freitas alertou que as pessoas devem estar atentas às máscaras que são de uso único e às que podem ser reutilizadas. “Temos de estar atentos às indicações dos produtores”, alertou.
Em Portugal há já cerca de 60 empresas a produzir máscaras, com 202 certificados para máscaras emitidos, 71 dos quais para máscaras comunitárias, sendo que 46 tipos são reutilizáveis, segundo as informações do secretário de Estado da Saúde, António Sales.
Relativamente à recomendação de usar máscaras em transportes públicos e em locais fechados, a diretora-geral da Saúde garantiu que a decisão foi tomada em alinhamento com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). “Seguimos as regras do ECDC”, garantiu Graça Freitas, referindo depois que antes só existiam duas classes de máscaras, os respiradores e as cirúrgicas. “Só depois saíram indicações de máscaras comunitárias”, afirmou.
Ainda sobre esta matéria, o secretário de Estado da Saúde referiu que foi feita uma encomenda de mais de 12 milhões de máscaras FFP2, sendo que já foram entregues cerca de 5 milhões. Também ele frisou os cuidados que são necessários ter mesmo após o final do estado de emergência, agendado para o próximo domingo. “O levantamento do estado de emergência obriga-nos a estar ainda mais alerta”, disse recordando a etiqueta respiratória e lavagem das mãos.
Há um caso de uma criança com quadro inflamatório em Portugal
Depois de ontem ter sido questionada sobre se havia ou não algum caso de crianças infetadas com Covid-19 em Portugal com doença inflamatória semelhante à síndrome de Kawasaki, Graça Freitas confirmou hoje que há “uma situação” no país embora não tenha acrescentado mais pormenores sobre o caso, nem onde está internada a criança.
“Fomos perguntar e há uma situação de quadro clínico pelo menos parecido com os que têm sido descritos na literatura médica”, afirmou a diretora-Geral da Saúde acrescentando que o caso “ainda carece de melhor caracterização”.