Os dois laboratórios de análises clínicas aos quais a Comunidade Intermunicipal (CIM) Viseu Dão Lafões diz que pediu preços para a realização de testes à Covid-19 negam ter sido consultadas. Ao Observador, uma fonte do Unilabs também nega ter recebido qualquer contacto formal ou informal.

O secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, admitiu ter sugerido a empresa de um ex-sócio, João Cotta, para realizar testes de infeção pelo novo coronavírus em instituições de solidariedade na região centro que está debaixo da sua coordenação no combate à pandemia. A ALS — assim se chama o laboratório — foi escolhida porque “tinha capacidade para realizar mais 200 testes diários”, justificou João Paulo Rebelo ao Observador.

Mas o secretário de Estado garantiu que não havia qualquer “interesse económico” por trás da sugestão. A ligação empresarial entre os dois terá sido quebrada há cinco anos, garantiu João Paulo Rebelo ao Observador, e a ligação que existia seria num ramo “que nada tem a ver com este sector de atividade”.

Secretário de Estado do Desporto confirma que sugeriu empresa de ex-sócio para testes à Covid, mas nega favorecimento

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A polémica já tinha começado quando foi divulgado um email de Almeida Henriques (PSD) enviado à CIM no qual o autarca de Viseu diz ter sido abordado por João Paulo Rebelo para estabelecer uma parceria para repartir os custos desses testes entre o Estado e as autarquias. O email usaria o termo “potenciar o laboratório”, mas ao JN afirma que se referia a “potenciar o número de testes na região”.

Em declarações ao Observador, João Paulo Rebelo admitiu sentir uma “enorme estupefação” com a associação feita com o ex-sócio: “Não deixa de me causar uma enorme estupefação que se possa pensar que tive algum interesse próprio nesta associação que não fosse o de que – também na CIM Viseu Dão Lafões – se pudesse dar uma resposta eficaz a um problema que afligia, e aflige, todo o país”.

O secretário de Estado disse que entre as sugestões estavam também “outros laboratórios privados que poderiam ser mobilizados nesta missão”, confirmando as declarações de Rogério Abrantes, presidente da CIM Viseu Dão Lafões, ao Jornal de Notícias.

De acordo com ele, “foram consultados informalmente” pelo menos três laboratórios para concretizar os testes: Germano de Sousa, ALS e um laboratório do Unilabs. A primeira cobraria 130 euros por teste, a segunda 60 e a terceira 90 euros, contou o Jornal de Notícias.

A ALS, mais barata, acabou por ser escolhida com 35 euros a serem pago pela Administração Central e 25 pelas autarquias. Mas agora os dois laboratórios que a CIM Viseu Dão Lafões era suposto ter contactado afirmam nunca terem sido abordados.

Secretário de Estado do Desporto contratou apoiante e militante do PS para motorista durante pandemia. É “um cargo de confiança”, justifica

Entretanto, outra polémica eclodiu com João Paulo Rebelo no centro. O secretário de Estado do Desporto contratou um militante do PS e apoiante da sua candidatura à federação distrital de Viseu para motorista do seu gabinete no governo. A contratação de José Botelho aconteceu em pleno estado de emergência, a 21 de abril.

Ao Observador, o secretário de Estado justifica que os motoristas dos gabinetes são “cargos de confiança” e que por isso podem ser “livremente nomeados e exonerados“. Mas há outro detalhe a causar estranheza: o motorista em causa já teve de responder no passado em tribunal por conduzir sob o efeito de álcool. João Paulo Rebelo continua sem ver problemas, afirmando que o caso já aconteceu em 2013 e que agora tem “o máximo de pontos na carta“.