É a primeira missão interplanetária do mundo árabe. Os Emirados Árabes Unidos lançaram este domingo uma sonda para Marte. Com o nome “Hope”, ou “Al Amal” (Esperança, em português), o aparelho tem como propósito estudar a atmosfera marciana. A sonda deverá estar em Marte durante um ano marciano (687 dias terrestres) e deve chegar a este planeta em fevereiro de 2021, depois de cerca de sete meses de viagem.

[O momento foi partilhado no Twitter pelos responsáveis da missão]

No Twitter, os responsáveis da missão descreveram o lançamento como parte da “criação de uma nova era árabe na exploração espacial”. A Hope descolou às 01h58, hora dos Emirados Árabes Unidos (22h58 de Lisboa).

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[Um dos responsáveis pelo projeto, o Moshen Al Awadi, explicou no Twitter o percurso que a Hope vai fazer]

O lançamento da sonda Hope tem sido aguardado com muita expetativa. Depois de dois lançamentos cancelados devido às condições atmosféricas, o último na quinta-feira, o país tinha esperança que à terceira fosse vez para levar a sua sonda até ao planeta vermelho. Os responsáveis por este projeto, a Agência Espacial dos Emirados Árabes Unidos e o Centro Espacial Mohamed ben Rached, têm estado em contacto com a Mitsubishi Heavy Industries para lançar a Hope a partir do Centro Espacial Tanegashima, no Japão, para conseguir este feito.

De olhos postos no resultado deste lançamento, foi com satisfação que a equipa de operações em Terra recebeu as primeiras comunicações da sonda. Antes disso, a Hope separou-se completamente do veículo de lançamento e abriu os painéis solares para poder carregar as baterias e seguir a viagem por si.

O programa espacial dos Emirados Árabes Unidos é um dos três projetos em curso que tem como objetivo o planeta Marte este verão, tais como o Tianwen-1, da República Popular da China, e Perseverance Rover, uma missão dos EUA que deve descolar a 30 de julho.

[Para comemorar o lançamento da sonda Hope, o Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo que fica no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, vai ter projetada a contagem decrescente para o lançamento]

Até agora, apenas os Estados Unidos, a Europa e a Índia tiveram projetos interplanetários bem sucedidos até Marte. Como conta a BBC, os engenheiros árabes tiveram o apoio de peritos norte-americanos para levar a cabo esta missão. E houve exigências: o governo dos Emirados Árabes Unidos afirmou que os engenheiros do país não podiam comprar a nave a nenhum outro país, tinham de a construir eles mesmo. Isto significou fazer uma parceria com universidades norte-americanas que tinham a experiência necessária, explica o mesmo canal britânico.

[No Twitter, a equipa da Agência Espacial dos Emirados Árabes Unidos, partilhou uma imagem do foguetão que vai tirar a sonda Hope da Terra]

Sendo um projeto que contou com a ajuda de mais países, os cientistas quiseram aproveitar a missão para fazer novas descobertas e não repetir o que já foi feito em Marte. Assim, e depois de os responsáveis terem conversado com a NASA (a agência espacial dos EUA), decidiram que a Hope vai estudar como é que a energia se mexe na atmosfera marciana durante as várias estações do ano.

Do lado da NASA, vieram também os aplausos ao sucesso do lançamento, expressos pelo administrador Jim Bridenstine. “Mesmo durante esses tempos difíceis, o espírito de exploração e curiosidade da humanidade permanece inalterado”, escreveu. “Assim como aqui na Terra, entre os Emirados Árabes Unidos e os Estados Unidos, as nossas naves vão viajar juntas para Marte para beneficiar o mundo inteiro.”

Hope recebe felicitações dos companheiros de missão

Curiosity, o robô da NASA que explora o clima e geologia marciana desde 2012, felicitou o lançamento da sonda Hope através do Twitter. “Desfruta da viagem, vemo-nos em breve.” A sonda árabe agradeceu: “o teu trabalho em Marte tem sido uma fonte de inspiração”.

O robô Perseverance, cujo lançamento está programado para 30 de julho, também enviou os parabéns à sonda árabe via Twitter. “Desejo-te uma viagem bem sucedida e anseio pelo ‘dia marciano’ [sol] em que estaremos ambos a explorar Marte.” A missão de Perseverance é tentar encontrar sinais de que tenha existido vida na cratera Jezero quando esta ainda era um lago.

Um projeto interplanetário para incentivar os árabes a irem para as ciências

De acordo com o Governo dos Emirados Árabes Unidos e o responsável deste projeto, Omran Sharaf, como conta a CNN, este projeto quer: “Inspirar os jovens dos Emirados a ingressar nos STEM (estudos em ciências, tecnologias, engenharias e matemáticas) e quer usar essa missão como catalisador de mudanças em vários setores, incluindo o setor académico, industrial e económico”.

Todos sabemos que estamos numa região com turbulências… Então, quando foi chamada de sonda Hope, foi como uma espécie de símbolo de esperança, não apenas para a juventude dos Emirados, para a juventude de toda a região”, diz Fatma Hussain Lootah, uma das cientistas responsáveis pelo projeto.

“Este é o momento em que decidimos destacar-nos num setor em que ninguém esperava que nos desenvolvêssemos porque é baseado no conhecimento, é muito baseado na ciência”, diz uma das cientistas envolvidas na iniciativa.

Desde que a missão foi anunciada, vimos o impacto da missão em diferentes setores. Vimos universidades a iniciar programas de ciências que não tinham no passado… Vimos estudantes de graduação a mudar de cursos de finanças e relações internacionais para ciências”, diz Sharaf.

A maioria dos projetos interplanetários pode demorar entre 10 a 12 anos a chegar a ver a luz do dia, contou Sharaf. Porém, os cientistas do Bin Rashid Space Centre, no Dubai, fizeram em seis anos (desde 2014). Ao todo, cerca de 450 engenheiros e técnicos trabalharam nesta missão.

Atualizado às 8h25 de 20 de julho, com as primeiras comunicações e as felicitações das missões americanas.