O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considera que é “manifestamente exagerado” dizer que há um “distanciamento do PCP” em relação ao Governo e os restantes parceiros à esquerda para um eventual acordo no resto da legislatura. Em entrevista ao Público e à Renascença, o ministro defende ainda que este não é o tempo para uma “instabilidade política”, mas afasta este cenário: uma “dramatização não faz sentido“.

“As notícias que surgem sobre um alegado distanciamento do PCP em relação a este arco de apoio à governação ou de diálogo privilegiado com a governação são manifestamente exageradas“, disse o governante.

O Governo desafiou o Bloco de Esquerda, mas não o PCP, para um acordo de uma nova “geringonça”. Na apresentação das 47 propostas de “medidas urgentes” para o país, o PCP veio dizer, por sua vez, que o partido rejeita “especulações em torno de crises política criadas artificialmente, independentemente dos altos patrocínios que possam ter a partir do chefe do Governo ou do Chefe de Estado”.

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Santos Silva apela também à responsabilidade do PSD. É que, considera, uma eventual crise política seria tudo menos desejável, numa altura em que Portugal se prepara para assumir a presidência da UE, em janeiro. “Se há altura que não recomenda nenhuma espécie de instabilidade política é esta.” Mas Santos Silva diz que não há “substantivamente nenhuma razão para essa crise”. “A dramatização não faz sentido”, conclui.

O ministro adiantou ainda que Portugal está “em contactos” para um reforço da presença norte-americana na base das Lajes. “Temos uma relação muito próxima com os EUA. As relações diplomáticas obedecem a convenções muito importantes e uma delas é não divulgar o conteúdo dos contactos antes que eles possam ser divulgados. Que eu conheça, não há nenhuma proposta que tenha sido apresentada para uma base de marines nos Açores”, afirmou.

E sobre a entrevista ao Expresso de George Glass, o embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, que defendeu que Portugal “tem de escolher agora” entre os EUA ou a China, Santos Silva diz: Não houve necessidade de redenção [das autoridades norte-americanas]. As circunstâncias estão ultrapassadas. Trabalhamos bem e continuaremos a trabalhar bem”.

Os elogios a Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa é um “modelo de equilíbrio” e é importante que um Presidente da República seja “árbitro” e tenha “uma voz avisada e serena no sistema político“. “[Marcelo Rebelo de Sousa] realizou um mandato que é um modelo de equilíbrio. Foi muito importante este equilíbrio entre uma AR de maioria de esquerda, um Governo de centro-esquerda claramente europeísta e um Presidente que vinha da direita. O país lucrou imenso com isso”, afirma Santos Silva.

E Ana Gomes não representa esse equilíbrio? “Logo veremos qual é a candidatura que melhor protagoniza esta conceção de um Presidente da República que é árbitro, que é a representação de todos, que é uma voz avisada e serena no sistema político”. Em entrevista à TVI na terça-feira, já tinha deixado um aviso a Ana Gomes: “Na minha opinião não devemos combater extremismos com outros extremismos, polarizações com outras polarizações. Gostaria que o combate contra os extremismos fosse feito pelo grande arco daqueles que são moderados”.

Santos Silva sobre presidenciais: “Não devemos combater extremismos com outros extremismos”