Um estudo recente conclui que alguns dos episódios de alucinações de Vincent Van Gogh foram provocados pela abstinência ao álcool. Mais tarde, com o agravamento de uma depressão da qual nunca chegou a recuperar, o artista acabou por se suicidar.

No artigo publicado no Jornal Internacional de Transtorno Bipolar, os investigadores explicam que o artista sofria de doença comórbida, ou seja, perturbações do foro psicológico que desenvolveu ao longo da sua vida, ligadas a uma primeira. No caso de Van Gogh, o estudo aponta que tenha desenvolvido algum tipo de bipolaridade, juntamente com transtorno de personalidade e vulnerabilidade adjacente, logo nos seus primeiros anos da vida adulta. Este estado terá sido agravado pelo alcoolismo e uma má nutrição, o que o levou a um surto psicótico, do qual resultou o corte da sua orelha.

Para o holandês o incidente foi uma “uma simples crise de loucura de artista” e mais tarde “uma febre ou loucura, mental ou nervosa, não sei bem como dizer ou chamar”. Contudo, depois de ser internado em Arles, França, os médicos explicaram que teria sido, segundo consta no estudo “‘um estado de êxtase transitório’, cuja responsabilidade era do seu estilo de vida com muito álcool, café, tabaco e pouca comida”.

Os investigadores concluíram que terá sido neste período de internamento, logo após ter cortado a sua orelha, que Van Gogh deixou, ou reduziu significativamente, o consumo de bebidas alcoólicas, atribuindo a essa razão alguns dos delírios que teve no hospital em Arles.

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Aqueles que consomem grandes quantidades de álcool, combinado com uma má alimentação, correm o risco de comprometer a sua função cerebral, incluindo problemas mentais. Para além disso, parar abruptamente o consumo de álcool pode levar ao fenómeno de abstinência, incluindo delírios. Por isso, é provável que pelo menos a primeira psicose que teve em Arles, onde terá deixado de beber repentinamente, dias depois de ter cortado a orelha, tenha sido, na verdade, um delírio causado pela abstinência ao álcool.”

Mais tarde, o pintor trocou esta instituição por um asilo em  Saint-Rémy-de-Provence, onde “foi forçado a diminuir ou até mesmo deixar de beber, provavelmente isso aconteceu e por isso não teve mais problemas de abstinência“.

No entanto, mesmo tendo mudado para uma terceira instituição, o artista nunca conseguiu recuperar completamente destes episódios, seguidos por uma depressão, que terão “finalmente levado ao seu suicídio”.

De acordo com a investigação, esteve primeiro internado em Arles, entre dezembro de 1888 e maio de 1889, tendo sido transferido para Saint-Rémy-de-Provence nesse mês e onde ficou um ano, passando para Auvers-sur-Oise. Foi aqui que acabou por morrer.

A análise, liderada por um professor da Universidade de Groningen na Holanda, baseou-se na leitura de 902 cartas escritas pelo artista, 820 das quais endereçadas ao seu irmão Theo, e em entrevistas realizadas a três historiadores que estudaram Van Gogh com alguma profundidade.

Curiosamente, segundo conta o The Guardian, os seus três últimos anos de vida (dois dos quais foram passados internado), foram os mais produtivos da vida do artista, tendo pintado mais de 30 auto-retratos e uma série de sete pinturas de girassóis, entre outros sucessos.