Uma das equipas do Observador que estava na Praça do Rossio foi ameaçada por manifestantes e teve de ser retirada do local, segundos depois de um dos dinamizadores do protesto ter criticado uma notícia dada pelo Observador, que referia a presença de 200 pessoas na manifestação, e que estava desatualizada.

Pouco antes das 13h50, uma das três pessoas que estavam no palco disse ao microfone, apontando para um dos repórteres do Observador: “Eu estou a ouvir dizer que o senhor do Observador está aqui atrás. Se calhar já corrigia a notícia, não é? Está aqui o senhor do Observador, se calhar pegava no seu telefone, e ligava para o número, e mandava corrigir a notícia. Isto parecem 200 pessoas? Isto parecem 200 pessoas aqui? Isto parece 200 pessoas?”.

Uma notificação enviada pouco antes para uma galeria de fotografias sobre o protesto referia que estavam 200 manifestantes, mas essa informação já não era rigorosa nesse momento, uma vez que entretanto já se tinha juntado outra manifestação na praça do Rossio e já estariam largas centenas de pessoas, enchendo um quarto da praça, segundo a percepção de dois dos repórteres do Observador que estavam no local nesse momento. A informação que estava publicada no site foi corrigida.

Pouco depois daquela crítica ao Observador feita a partir do palco, uma dezena de manifestantes correram irados em direção à equipa da Rádio Observador, facilmente identificada pelo microfone. Perante a ameaça de agressão iminente, a PSP retirou a nossa equipa do local, para garantir a sua segurança.

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Em simultâneo, no palco, o chef Ljubomir Stanisic, outro dos dinamizadores do protesto, agarrou o microfone e disse: “Malta, se faz favor, calma. O mais importante é manter calma. O sr. deu a notícia que deu. Polícia, pf, ajudem, protejam a pessoa do Observador. Estamos aqui pelo bem. Estamos aqui pelo bem. Hey, parem aí. Não queremos violência. Estamos aqui pelo bem. Por favor peço ajuda, a polícia pode ajudar”.

Outros jornalistas presentes no Rossio também foram alvo de ameaças de agressão por parte dos manifestantes.

Sindicato dos Jornalistas condena ameaças e apresenta queixa

O Sindicato dos Jornalistas emitiu entretanto um comunicado em que “condena e lamenta as ameaças de que foi alvo pelo menos um jornalista, em serviço para o Observador, durante o protesto dos empresários da restauração”. Nessa nota, o Sindicato anuncia “apresentará queixa, por considerar que estes atos não podem ficar sem repreensão”. E também “insta a direção do Observador a agir em conformidade, ou seja, a apresentar queixa às autoridades competentes na defesa do jornalista”.

A mesma entidade lança outro repto à PSP: “O SJ espera ainda que a própria Polícia de Segurança Pública (PSP), apesar de ter assegurado a integridade física do jornalista, atue em conformidade em relação a quem ameaça, na medida em que este episódio configura um crime público.” E também ao Ministério Público: “As imagens que vimos de ameaça e insulto aos jornalistas que estavam no Rossio a fazer a cobertura da manifestação são ainda suficientes para que o Ministério Público abra um inquérito para apurar responsabilidades.”

“Vivemos todos tempos difíceis, mas a insegurança ou a revolta não podem justificar nunca ameaças aos jornalistas, que estão no desempenho da sua missão de informar. De resto, não fossem os jornalistas e os protestos não teriam eco na população”, lê-se ainda no comunicado.