Um voo com escala em Madrid foi a solução encontrada por Verónica Guerreiro para regressar de Portugal ao Reino Unido e contornar a suspensão de ligações aéreas, mas Menezes Cardoso receia não poder fazer a mesma rota no sentido inverso.

O reforço das restrições de viagem decretadas pelo Governo britânico na semana passada para tentar controlar a pandemia de Covid-19 apanhou muitas pessoas de surpresa, como foi o caso da enfermeira Verónica Guerreiro, que reside no Reino Unido há vários anos mas que se encontrava em Portugal desde o início de dezembro.

“Tinha voo direto do Porto para Londres, mas foi cancelado. Cheguei a considerar fazer escala no Dubai porque precisava de voltar depressa para tomar conta da minha gata. Mas vi que havia a hipótese de ir via Madrid e comprei um voo para Londres”, contou à Agência Lusa.

No total, a viagem começou na terça-feira e demorou quase 48 horas porque primeiro viajou de Viseu para o Porto, dali voou para a capital espanhola, onde precisou de pernoitar antes de embarcar para Londres na quarta-feira.

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À chegada à capital britânica, esperou cerca de duas horas para passar no controlo da fronteira, seguidas por várias horas em transportes públicos, no metro e comboio, para chegar ao aeroporto de Birmingham, no centro de Inglaterra, onde foi buscar o automóvel estacionado que conduziu finalmente até casa, onde encontrou a gata Luna “muito carente”. 

Para além do passaporte, precisou de mostrar prova de residência no Reino Unido e um teste à Covid-19 com resultado negativo, e agora terá de cumprir 10 dias de quarentena antes de voltar ao trabalho no hospital. 

“Estive mais exposta e mais em risco à Covid-19 do que se estivesse num voo direto. Os aeroportos estavam cheios e tive de fazer viagens em transportes públicos que normalmente não teria de fazer”, lamentou.

A suspensão das ligações aéreas entre Portugal e o Reino Unido a 15 de janeiro para tentar evitar a importação da variante brasileira do coronavírus SARS-CoV-2 surpreendeu emigrantes que se encontravam em Portugal, alguns para festejar o Natal, e que agora encontram dificuldades para regressar a casa e ao trabalho em território britânico.

Os voos diretos foram cancelados, restando como alternativa voos com escala em cidades como Madrid, Paris, Dublin, Bruxelas ou Amesterdão, mas é difícil navegar na diversidade de restrições de cada país que mudam frequentemente, como autorizações ou não de passageiros em trânsito e que tipo de teste são exigidos, RT-PCR ou rápido de deteção de antigénios.

O português Menezes Cardoso, que está de visita à família em Londres por ocasião da época festiva, quer viajar no sentido contrário, mas já teve dois voos cancelados e agora a opção de regressar a Lisboa via Madrid como tencionava fazer no início de fevereiro já não é possível.

A SIC noticiou na quarta-feira que cerca de 30 portugueses foram impedidos de viajar pela transportadora Iberia, e esta quinta-feira a companhia aérea confirmou, através da rede social Twitter, que “infelizmente, no momento, em voos vindos do Reino Unido só é permitido trânsito em Madrid quando o destino final é um país fora da zona de Schengen, o que não é o caso de Portugal”. 

“Estamos bloqueados, não temos saída. Na altura, quando vim no início de dezembro, estava tudo normal. Mas estão a tomar decisões em cima da hora e não dão tempo às pessoas para se mexerem”, lamentou o reformado de 69 anos à Lusa.

Apesar de não ter despesas com alojamento, já teve de pagar duas passagens adicionais e dois testes à Covid-19 que não usou, mas o que o preocupa é que tem medicação em vias de esgotar. 

A Embaixada de Portugal no Reino Unido disse os consulados de Londres e Manchester estão a dar resposta a pessoas afetadas pela interdição de voos que procuraram ajuda em Londres e Manchester e até a contactar casos de que teve conhecimento.

Temos vindo a informar os portugueses que se encontram no Reino Unido e que impreterivelmente necessitem de viajar para Portugal, que antes de reservar viagens devem informar-se sobre os regimes restritivos e requisitos de entrada em vigor nos países de eventual trânsito, de modo a assegurar que lhes será permitido o embarque pelas companhias aéreas. O mesmo é aplicável àqueles que se encontrem em Portugal e que tenham de regressar ao Reino Unido, sendo este o país da sua residência habitual”, disse fonte oficial à Lusa.

O Reino Unido suspendeu voos de Portugal, Cabo Verde e de 14 países da América do Sul para evitar que uma nova variante detectada de covonavírus no Brasil, considerada muito contagiosa, em 15 de janeiro.

Em dezembro, Portugal tinha colocado restrições e limitado a entrada apenas a nacionais e estrangeiros residentes devido à variante inglesa do novo vírus que provoca a doença covid-19 e passado a exigir um teste laboratorial de rastreio negativo ao SARS-Cov-2, mas manteve o espaço aéreo aberto.

No âmbito do confinamento nacional e restrições internacionais, o Governo britânico recomenda que as pessoas “não devem sair de casa ou viajar, inclusive internacionalmente, a menos que tenham um motivo legalmente permitido para fazê-lo” e só admite a entrada de britânicos, irlandeses e estrangeiros residentes.

O Governo português permite o regresso a Portugal de cidadãos nacionais, mas alerta para terem em “consideração as restrições ao tráfego aéreo proveniente de países terceiros” e recomenda a “consulta dos voos autorizados e/ou confirmação da realização do voo junto da companhia aérea”.