A variante britânica tornou-se dominante no país de origem, tal como os investigadores e especialistas em Saúde Pública receavam, mas há um outro sinal de alarme em Inglaterra neste momento: alguns dos exemplares desta variante apresentam também uma mutação que até agora só tinha sido identificada nas variantes sul-africana e brasileira. E é esta mutação que permite ao vírus escapar ao sistema imunitário.

A mutação E484K (Erik) foi detetada em 11 amostras da variante britânica das 214.159 sequências genéticas do vírus analisadas até 26 de janeiro, demonstra o relatório da Public Health England. A proporção não parece significativa, mas as primeiras indicações é que a mutação tenha surgido mais do que uma vez de forma independente. Ou seja, pode continuar a aparecer, mesmo sem ser por transmissão direta do vírus (com a mutação) entre duas pessoas.

Erik também apareceu de forma independente nas variantes sul-africanas e brasileira e parece estar associada à capacidade de escapar aos anticorpos neutralizantes. E isto quer dizer, que os anticorpos existentes nas pessoas que já estiveram infetadas antes ou nas pessoas vacinadas, podem não ser tão eficazes contra as variantes que tenham esta mutação.

É certo que a imunidade não depende exclusivamente do anticorpos, mas também das células T, por exemplo. Ainda assim, as novas estratégias do vírus para fugir ao sistema imunitário estão a preocupar os investigadores e cresce o receio de as vacinas não serem eficazes para controlar a disseminação do vírus.

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Reino Unido, África do Sul e Brasil. Erik e Nelly, as mutações que fazem temer as três novas variantes do coronavírus

Apesar dos receios, os especialistas alertam que ainda não é possível ter certeza sobre o efeito que pode ter a presença da nova mutação na variante britânica, porque cada uma das variantes (britânica, sul-africana e brasileira) têm um conjunto de mutações diferentes e o efeito que produz a combinação das diversas mutações pode ser variado.

A variante com a mutação Erik até pode desaparecer totalmente por não conseguir competir com a variante britânica original (sem esta mutação), como destaca Nicholas Davies, investigador Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres, no New York Times.

Em comum, as variantes do Reino Unido, África do Sul e Brasil têm a mutação N501Y (ou Nelly), no gene que tem as instruções do local de ligação da proteína spike do vírus (a mesma que dá o aspeto coroado) às proteínas da superfície das células humanas. É esta mutação que faz com que a chave do vírus — que abre caminho para o interior das células — esteja ainda mais bem calibrada para a fechadura nas células humanas.

INSA. Variante do Reino Unido pode chegar aos 60% dos casos positivos no início de fevereiro em Portugal

Entre 30 de novembro e 10 de janeiro, 65,7% dos testes de diagnóstico do vírus apresentavam um erro de leitura compatível com a presença da variante britânica, que há muito deixou de estar restrita só à região sul de Inglaterra.

Considerando que a sequenciação genética (leitura dos genes do vírus) é inviável para todas as amostras que testem positivo, o Reino Unido assumiu que os vírus que apresentem esse erro de leitura específico nos testes PCR pertencem à nova variante — de facto, em mais de 99% dos casos, em todas as regiões, é esse o caso. A mesma aproximação, também bem sucedida, foi estudada em Portugal pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) em conjunto com o laboratório de análises Unilabs.

Moderna garante eficácia contra novas variantes, mas vai testar reforço da vacina

Várias farmacêuticas, como a Pfizer, a Moderna e a Johnson & Johnson já testaram as vacinas contra as variantes britânica e sul-africana. As vacinas parecem manter-se eficazes contra a variante do Reino Unido, mas menos em relação à variante da África do Sul — e o problema é exatamente a capacidade de escapar aos anticorpos produzidos em resposta à vacina.

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