Carlos Carreiras está disponível para um terceiro mandato à frente da Câmara Municipal de Cascais, conta o que o seu nome seja validado pela direção de Rui Rio, mas recusa dar “boleias a radicais” do Chega. Numa entrevista ao programa Hora da Verdade, do Público e da Renascença, o autarca acusa o líder do PSD estar a fazer a oposição para dentro. Se houve críticas para Rui Rio, houve elogios (e muitos) para Pedro Passos Coelho. Carlos Carreiras estaria na “primeira fila” para receber o ex-líder do PSD, porque lhe deve isso, “não enquanto militante do PSD, mas enquanto português”.

“Foi um grande estadista, teve de ultrapassar dificuldades monstruosas, sempre na defesa dos superiores interesses da República, ainda é um homem novo”, lembra o autarca. Contudo, “não é justo pressionar“. “Passos Coelho responde pela sua cabeça e pela sua consciência. Depende muito da própria análise que ele faz, porque é um ato de vontade. Nunca acreditei em ‘Dons Sebastiões’ nem ele acredita. Agora, se ele tiver essa vontade, esse ensejo, acho que o país não pode desperdiçar um homem com as capacidades dele”, esclareceu, frisando que “Passos Coelho não é o passado, é o presente” porque “seria desejável que houvesse uma geração mais nova que se apresentasse, porque o mundo está diferente”.

Voltando ao presente e ao atual líder. O facto de Rui Rio ter votado contra um referendo à eutanásia depois de o Congresso do PSD ter aprovado uma moção com o sentido oposto ou o facto de haver moções que são aprovadas e não aplicadas dão a Carlos Carreiras “indicadores negativos” da direção. “Tem havido uma preocupação maior em fazer oposição a militantes do PSD do que ao próprio Governo na apresentação e armação de uma política alternativa, que seja personalista, reformista e social-democrata”, acusa o líder da autarquia de Cascais. Vai até mais longe e afirma que estes são “indicadores” que “não favorecem” e até “desfavorecem a própria armação da liderança”.

A oito meses das autárquicas, Carlos Carreiras até está “de acordo com o líder do partido” quando aponta que o objetivo é “aumentar o número de câmaras, aumentar o número de eleitos e estabelecer uma maior armação do partido em certas zonas”. “Enquanto ‘laranjinha’ era ganhar e ganhar a maioria das câmaras municipais”, mas consegue ter os “pés no chão” e diz que “na noite das eleições não haverá nenhum partido que perca as eleições” e que “o grande confronto é entre o PS e o PCP”.

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Questionado sobre o facto de em Coimbra Rui Rio não ter optado pelo nome escolhido pelos órgãos locais, o presidente de Cascais diz que “são opções”. “Há quatro anos tomámos a opção que era de respeitar aquilo que são as leis, os regulamentos e estatutos do partido. Ou seja, não houve uma imposição por parte do líder do partido, e muito menos do coordenador autárquico. Apenas com uma ressalva: não reconduzimos o presidente de Câmara de Pedrógão. Desta vez, ao que parece, e aqui posso estar a ser injusto porque ainda vai sair muita coisa, o líder do partido disse que nomeava um conjunto de candidatos”, explica.

O autarca assegura que essa conduta não está prevista nos estatutos do partido e que “nem sequer é o líder, é a própria comissão política nacional que não pode impor candidatos”. Perante a escolha, Carreiras diz apenas que se trata de um “nome imposto”, o que considera “muito perigoso” fazer-se “opções dessa natureza de desrespeito dos próprios regulamentos internos”.

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Caso a opção seja a continuidade, Carlos Carreiras lembra que há um acordo autárquico com o CDS, onde também há espaço para muitos independentes e que “tem funcionado muito bem”, diz, mas não há abertura para mais. “O partido Chega é um partido unipessoal, ainda não tem uma implantação local forte. Dos poucos dirigentes que eu possa conhecer em Cascais, são muito mais radicais do que o próprio líder do Chega. Considero que não devemos alinhar nem dar boleias a radicais”, deixou claro.

Sobre a gestão da pandemia em Cascais, o presidente da câmara lembra a “gestão muito rigorosa” que existe na autarquia, que permite “ter contas equilibradas” e que possibilitou, nesta fase, “investir o dinheiro para manter a coesão social no apoio aos que ficaram mais fragilizados”.

“A Câmara de Cascais não é rica, porque, senão, arrisco-me depois a ter um conjunto de pedidos para os quais não há recurso para os satisfazer. É uma rica câmara…”, atira.

Como “profundo defensor” da descentralização, Carlos Carreiras nota que “esta pandemia veio demonstrar a importância das autarquias” e que “os presidentes de câmara foram absolutamente fundamentais na resposta à pandemia naquilo que é o núcleo central de uma autarquia”, o facto de ser possível estar “mais próximos dos problemas”. O presidente de Cascais garante que o investimento depende das áreas, mas dá o exemplo das máscaras e testes onde ronda os 40 milhões de euros.