O Museu Arpad Szénes-Vieira da Silva, em Lisboa, vai passar a exibir anualmente coleções privadas portuguesas e estrangeiras, e lançar um apoio à criação artística para jovens, anunciou o presidente da fundação que tutela o espaço museológico.

“Achamos que devemos valorizar o colecionismo privado no domínio da arte, porque funciona não apenas como uma forma de preservação de património, mas também é muito importante para criar condições no assegurar do pluralismo na arte”, disse o presidente da fundação, António Gomes de Pinho, em entrevista à agência Lusa.

Terminado o mandato anterior, o jurista, reconduzido pelo Governo como representante do Estado no conselho de administração da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (FASVS), para o quadriénio 2021-2024, mantém-se na presidência, continuando João Corrêa Nunes como vice-presidente, em representação da Fundação Cidade de Lisboa.

Questionado sobre as prioridades da FASVS para os próximos quatro anos, numa altura em que o país vive uma grave crise devido ao impacto da pandemia de covid-19, Gomes de Pinho disse que o conselho de administração “já fez uma reflexão sobre o futuro, e as formas recuperar e conquistar novos públicos”, no quadro de uma nova estratégia.

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Essa estratégia, disse à Lusa, passa pela aposta na digitalização e eficiência energética para o funcionamento do museu, através do recurso a fundos europeus, e também por mudanças na programação de exposições, desenvolvendo parcerias nacionais e internacionais.

Inaugurado em 1994, o Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva é gerido pela fundação, e o seu acervo cobre um vasto período da produção de pintura e desenho do casal de artistas que viveu em França, Portugal e no Brasil: de 1911 a 1985, para Arpad Szenes (1897-1985), e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), considerada uma das mais conceituadas artistas portuguesas.

Sobre a linha estratégica de apresentação anual, de coleções de arte privadas, nacionais e internacionais, Gomes de Pinho justificou que “as instituições públicas têm critérios, linhas que se relacionam muitas vezes com o ´mainstream´, enquanto o colecionador privado age pelo seu gosto, e funciona como apoio à criação artística”.

A primeira a ser apresentada será, este ano, a coleção de arte moderna e contemporânea de Ilídio Pinho, e, no princípio de 2022, a coleção de Rui Victorino, avançou o presidente da FASVS, acrescentando que, neste momento, estão em contacto com várias coleções de arte europeias para apresentar uma no próximo ano, sem precisar qual, por ainda não estarem fechados esses contactos.

No âmbito desta iniciativa, foi convidada a curadora internacional Isabel Carlos para reforçar a presença da FASVS no circuito internacional da arte, trazendo exposições estrangeiras, e promover exposições de Vieira da Silva e de Arpad Szenes no estrangeiro.

“A ideia é apresentar a obra de ambos não só nos países em que são conhecidos e mais desejados, como o Brasil e a Espanha, mas também nos países onde há obras deles nos museus, como os Estados Unidos e a Alemanha, duas prioridades de internacionalização a que pretendemos dar muito ênfase”, adiantou à Lusa.

Ainda dentro da estratégia para os próximos anos estará um programa de apoio à criação artística, com residências no Atelier junto ao museu, e um programa de compra de obras a jovens artistas, que não tem sido habitual por parte da FASVS: “Não temos uma política de compras sistemática, mas este ano, atendendo à situação difícil que vive o mundo da cultura, e em particular dos artistas mais jovens, que ainda não estão nos circuitos comerciais, vamos delinear algumas aquisições”.

“Todos os artistas estão a viver dificuldades, mas os mais jovens são aqueles que, num momento de crise, estão com mais dificuldade de acesso ao mercado da arte, em relação aos quais há um risco de pessoas com muita qualidade se desviarem da sua vocação artística, por não conseguirem sobreviver. Podem perder-se assim talentos importantes para o país”, alertou o presidente da FASVS.

Outra linha desenhada para a programação dos próximos quatro anos tem a ver com a intenção de mostrar obras do casal de artistas sob ângulos menos conhecidos e perspetivas novas, e a próxima exposição – sob o título “Arte, Amor e Preconceito” – será a primeira do ano 2021 a espelhar essa ideia, no início de março, em formato virtual.

“Vamos evocar questões que se prendem com a história da vida de ambos os artistas, mas que são muito atuais, como a emigração, com a ida de Vieira da Silva, por opção, para Paris, mas mais tarde para o Brasil, em fuga à Segunda Guerra Mundial. Também sobre questões do estatuto da mulher enquanto artista, porque os contemporâneos da artista portuguesa eram, na sua maioria homens, e há quem diga que ela assinou sempre as suas obras com o apelido para se proteger desse domínio masculino no mundo da arte”, referiu o presidente da FASVS.

Um outro tema atual, segundo o responsável, vai ser o das minorias: “Não podemos esquecer que o Arpad Szénes era judeu e sofreu na pele, como outras minorias, o período anterior e durante a guerra”.

Ainda a nível internacional, deverá ser realizado um colóquio a 20 e 21 de maio sobre legados de artistas que envolve museus e instituições similares, no estrangeiro, bem como um conjunto de outras ações, como um curso de História da Arte, a partir de outubro, pela professora Raquel Henriques da Silva, que saiu este ano do conselho de administração.

Será ainda criado um ciclo debates e conversas sobre a relação da arte e da realidade contemporânea coordenada por José Manuel dos Santos.

Na área da descentralização nacional, estão previstas, este ano, duas grandes exposições temporárias da coleção do Museu Vieira da Silva na Guarda e em Aveiro.

Museu quer fundos europeus para transição digital e energética

A Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva vai recorrer aos fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para criar uma transição digital e energética no museu, em Lisboa, dedicado à divulgação da obra do casal de artistas.

“A adaptação dos museus à realidade virtual, a eficiência energética e a programação vão estar no centro do novo mandato da fundação”, disse o presidente, António Gomes de Pinho, entrevistado pela agência Lusa, após a confirmação oficial de composição do novo conselho de administração da entidade, a 18 de fevereiro.

Terminado o mandato anterior, o jurista, reconduzido pelo Governo como representante do Estado no conselho de administração da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (FASVS), para o quadriénio 2021-2024, mantém-se na presidência, continuando João Corrêa Nunes como vice-presidente, em representação da Fundação Cidade de Lisboa.

Questionado sobre as prioridades da FASVS para os próximos quatro anos, numa altura em que o país vive uma grave crise devido ao impacto da pandemia covid-19, Gomes de Pinho disse que o conselho de administração “já fez uma reflexão sobre o futuro, e as formas recuperar e conquistar novos públicos”, no quadro de uma nova estratégia.

“Em relação aos museus, apesar de muitas iniciativas que realizam, é preciso aproveitar as circunstâncias para ir mais à frente, e construir um museu virtual tanto quanto possível similar ao museu real, oferecendo aos públicos a possibilidade, com uma grande qualidade, de ter acesso a tudo o que temos: coleções, exposições, atividades complementares, numa dimensão tão importante como a atividade ao vivo”, descreveu o responsável.

O objetivo da FASVS é conseguir tecnologia de qualidade para o público poder aceder a visitas virtuais, sobretudo aos mais jovens, de forma a atraí-los para as visitas ao vivo.

Inaugurado em 1994, o Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva é gerido pela fundação, e o seu acervo cobre um vasto período da produção de pintura e desenho do casal de artistas que viveu em França, Portugal e no Brasil: de 1911 a 1985, para Arpad Szenes (1897-1985), e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), uma das mais conceituadas artistas portuguesas.

“Uma lição que a pandemia nos dá é que a nossa vida passa necessariamente pela realidade virtual, pelas plataformas, redes sociais, o que já acontecia, mas acentuou-se agora, e todas as áreas da nossa vida recorrem ao digital, portanto é perfeitamente normal desenvolver esta área para o futuro”, salientou Gomes de Pinho.

Outra linha que a FASVS irá desenvolver para o museu nos próximos anos refere-se às questões ambientais e de eficiência energética: “Estabelecemos o objetivo, ao longo deste mandato, de atingir, ou ficar próximo do nível de emissões zero de dióxido de carbono, o que implica uma grande transformação na infraestrutura do museu, no aspeto tecnológico, desde a produção autónoma de eletricidade à substituição de equipamentos de climatização”.

O presidente da FASVS espera que seja possível financiar os projetos do Museu Arpad Szénes-Vieira da Silva com recurso aos fundos comunitários do PRR de Portugal, posto em consulta pública no passado dia 16, que elenca 36 reformas e 77 investimentos nas áreas sociais, climática e de digitalização, num total de 13,9 mil milhões de euros em subvenções.

Estas duas linhas estratégicas da FASVS vão ser desenvolvidas em parceria com entidades de caráter tecnológico – a ENGIE Portugal, empresa prestadora de serviços na área da eficiência energética, e, na área financeira, com a EDP, principal mecenas da fundação, entre os cerca de uma dezena de patrocinadores.

“A definição destas atividades teve em conta a viabilidade económica de as executar e prende-se com a possibilidade de recorrer a fundos desse programa, de contrário não teríamos capacidade para o fazer com os nossos próprios meios”, disse à Lusa Gomes de Pinho, acrescentando que está em fase adiantada a preparação das candidaturas do museu ao PRR.

Gomes de Pinho defendeu que a cultura “deve ser um exemplo para as outras áreas, e estar na vanguarda das questões da digitalização e descarbonização” inscritas no plano europeu de recuperação da crise pandémica.

Outra prioridade da FASVS é a “consolidação da estabilidade financeira” da entidade, cujo orçamento tem uma contribuição de cerca de 50% do Estado, como um dos fundadores, e o restante provém de receitas próprias, “no ano passado e este ano muito reduzidas devido à falta de público, com as restrições da pandemia, mas foi possível fechar 2020 com um resultado positivo, devido a poupanças e a uma equipa reduzida”.

Na reunião do conselho de administração da FASVS, foram eleitos os corpos sociais para o novo mandato de quatro anos, tendo o conselho o presidente e vice-presidente, e ainda os restantes membros institucionais: Simonetta Luz Afonso, que representa a Câmara Municipal de Lisboa, e Rita Faden, que representa a Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento, tendo sido cooptados Vera Nobre da Costa, José Manuel dos Santos e a curadora Isabel Carlos, que substituiu a historiadora Raquel Henriques da Silva.

O conselho de administração elegeu ainda para o conselho fiscal Nuno Galvão Teles, enquanto o conselho de patronos continua a ser presidido por Daniel Proença de Carvalho, reeleito por aquele órgão em dezembro de 2020.