A Frelimo rejeitou esta quarta-feira as acusações de que o Presidente da República e do partido, Filipe Nyusi, esteja em “silêncio” sobre os ataques de grupos armados a Palma, referindo que o chefe de Estado está a “orientar pessoalmente as operações”.
O Presidente da República nunca esteve em silêncio sobre os assuntos candentes do país, o porta-voz do Ministério da Defesa já veio falar [sobre a situação militar na vila de Palma]”, disse Caifadine Manasse, porta-voz da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, em entrevista quarta-feira à Lusa.
Na terça-feira, 18 organizações da sociedade civil divulgaram uma carta aberta exigindo que Filipe Nyusi informe pessoalmente a nação sobre os ataques de há uma semana a Palma e a situação humanitária provocada pelas investidas de grupos armados na vila e na província de Cabo Delgado.
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Em resposta às preocupações da sociedade civil moçambicana, o porta-voz da Frelimo defendeu que o chefe de Estado não pode vir “todos os dias” pronunciar-se sobre o tema, mas acompanha a situação e está a orientar as operações.
Não acho que o Presidente da República tenha de vir todos os dias para retratar, passo a passo, o que está a acontecer, é por isso que existe o Ministério da Defesa, existe o porta-voz e existem instituições do Estado que têm de dar a sua contribuição dando informação, todos os dias”, frisou.
“O PR está a acompanhar, está a dirigir pessoalmente estas operações”, sublinhou Caifadine Manasse, sem dar mais detalhes sobre a atuação de Filipe Nyusi desde os ataques a Palma.
Sobre as preocupações em relação ao respeito aos direitos humanos pelas partes em conflito em Palma e na província de Cabo Delgado, o porta-voz da Frelimo defendeu que as Forças de Defesa e Segurança têm atuado dentro da lei, reconhecendo tratar-se de uma “questão complexa”, considerando o cenário de guerra prevalecente.
“Estamos num teatro de operações, os moçambicanos estão a ser chacinados, os moçambicanos estão a ser mortos e quando os moçambicanos são mortos, muitos que falam de direitos humanos não aparecem para dar esta contribuição”, frisou.
As Forças de Defesa e Segurança têm que ser acarinhadas, todos aqueles que lutam pelos direitos humanos têm de estar ao lado das Forças de Defesa e Segurança, porque estes estão a fazer tudo para proteger os direitos humanos”, enfatizou Caifadine Manasse.
A vila de Palma, cerca de 25 quilómetros do projeto de gás natural da multinacional Total, sofreu um ataque armado na quarta-feira da semana passada que as autoridades moçambicanas dizem ter resultado na morte de dezenas de pessoas e na fuga de centenas.
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Desde o ataque, o chefe de Estado moçambicano ainda não se pronunciou publicamente sobre o tema, levando organizações da sociedade civil a repudiar o silêncio de Filipe Nyusi.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da ONU, e mais de duas mil mortes, segundo uma contabilidade feita pela Lusa. O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia. Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.