Moradores de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, sentem que um aumento de insegurança na cidade, após o ataque à vila de Palma por jihadistas e com a chegada de milhares de deslocados em fuga, que podem conter terroristas nesses grupos.

Este último ataque foi terrível, não só porque morreu população e atacaram a nossa economia, mas também atacaram a nossa soberania e Cabo Delgado”, diz Antônio Macanige, admitindo que tem agora mais receio pelo futuro.

A cidade de Pemba continua a ser o destino preferencial dos sobreviventes dos ataques armados terroristas que ocorreram na última quarta-feira no distrito nortenho de Palma, onde operam grandes projetos de gás, como é o caso da multinacional Total, que se viu obrigada a retirar os seus trabalhadores perante a onda da violência naquele distrito, que causou dezenas de mortos e milhares de deslocados.

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Mais do que o número de deslocados internos, “este último ataque a Palma foi terrível não só porque a população morreu e atingiram questões fundamentais no que diz respeito a nossa economia, mas atacaram também a nossa soberania”, colocando todo o país em sobressalto, acrescentou Macanige.

Na segunda-feira, em Maputo, as autoridades moçambicanas admitiram que a vila de Palma foi invadida na quarta-feira da semana passada e, nos últimos dias, à capital provincial têm chegado barcos com pessoas em fuga e colunas de deslocados internos do interior de Cabo Delgado.

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Para Antônio Macanige, o governo moçambicano não tem capacidade isolada para fazer face à força militar dos insurgentes “jihadistas” e necessita de aceitar a ajuda da comunidade internacional.

“Acho que Moçambique tem de pedir apoio externo, não só em armamento, recursos humanos também, temos que pedir socorro, os nossos exércitos estão a sofrer embate” disse o morador, que teme que, entre os deslocados, venham ‘jihadistas’ para Pemba, colocando em causa a segurança da cidade.

“Será que estes insurgentes não entram no grupo de evacuação?”, questionou.

Outro morador de Pemba, que não se quis identificar, diz que a província já não se sente segura há muito tempo, desde os ataques continuados a Mocímboa da Praia, a segunda maior povoação de Cabo Delgado.

Em todo o Cabo Delgado há muita insegurança, aconteceu o ataque em Palma, um sitio que estava seguro”, recordou. Hoje, “Pemba não tem segurança, há muita gente que anda no porto à espera dos seus familiares que nunca chegam”, acrescentou o morador.

Um dos problemas da capital provincial que este afluxo de deslocados está a causar é o aumento da pobreza na cidade. “Os preços estão a subir e há mais desempregados”, afirmou outro morador.

A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes. O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.

O clima é de medo e ansiedade. O foco do mundo está em Cabo Delgado e os habitantes de Pemba sentem que o conflito que assolou as vilas de Palma e Mocímboa da Praia (a norte, perto da Tanzânia) chegou, por estes dias, à capital provincial.

Não há segurança”, remata Antônio Macanige.