A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, pediu esta sexta-feira esclarecimentos sobre a suspeita de tráfico envolvendo militares portugueses, pretendo perceber como foi o tema tratado do ponto de vista institucional, mas sobretudo como foi possível acontecer uma “situação grave” destas.
No final de uma reunião com investigadores a propósito das alterações climáticas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Catarina Martins foi questionada sobre as suspeitas de tráfico de diamantes, ouro e droga que recaem sobre alguns militares e ex-militares que participaram em missões na República Centro-Africana.
“O Bloco de Esquerda pediu audições no parlamento para compreender várias questões. Naturalmente as questões institucionais também, de informação, mas também as questões de como é que foi possível sequer que isto acontecesse, como é que se previne, como é que se pode impedir e nomeadamente como é que são as questões de segurança, até de entrada no país”, começou por responder.
Operação Miríade. BE quer audição urgente de ministro da Defesa, CEMGFA e CEME
Na quinta-feira foi conhecido o requerimento dos bloquistas para ouvir no parlamento, com urgência, o ministro da Defesa Nacional, o Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) e o Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME) sobre este caso.
Estamos à espera desses esclarecimentos porque isto é seguramente uma situação grave e deve ser esclarecida e devem ser tomadas todas as ações — para lá do processo em curso, que a justiça fará o seu caminho — é também preciso saber que consequências se tira do ponto de vista destas missões, da sua organização e da própria segurança, dos mecanismos que o nosso país tem para que situações destas não existam”, afirmou.
Sobre a polémica em torno do Presidente da República e o primeiro-ministro não terem sido informados antecipadamente desta situação, Catarina Martins escusou-se a fazer muitos comentários, referindo que “neste momento” conhece “o mesmo que toda a gente conhece”, ou seja, “as afirmações públicas do próprio ministro da Defesa sobre o parecer jurídico que terá pedido sobre essa matéria”.
“Nós esperamos os esclarecimentos no parlamento sobre essa matéria”, reiterou.
Questionada se, estando o “Governo com dias contados”, faz sentido discutir se o ministro deve ou não demitir-se, a líder bloquista respondeu que o partido não está a discutir isso.
“O que o Bloco de Esquerda quer perceber é como é que do ponto de vista institucional o assunto foi tratado e se foi tratado de uma forma correta e porquê, e sobretudo queremos perceber como é que foi possível existir este tipo de tráfico envolvendo militares portugueses, nomeadamente nas questões de segurança, do que entra no país, do enquadramento destas missões e isso não tem a ver com a validade do Governo, tem a ver com a forma como o Estado português se organiza e se comporta”, explicou.
A Polícia Judiciária (PJ) confirmou em 8 de novembro a execução de 100 mandados de busca e 10 detenções, incluindo de militares e ex-militares, no âmbito da Operação Miríade, na sequência de um inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa.
Em causa está a investigação a uma rede criminosa com ligações internacionais e que “se dedica a obter proveitos ilícitos através de contrabando de diamantes e ouro, tráfico de estupefacientes, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas”.
Em comunicado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) revelou que alguns militares e portugueses em missões na República Centro-Africana podem ter sido utilizados como “correios” no tráfego de diamantes, adiantando que o caso foi reportado em dezembro de 2019.
O Presidente da República recusou na quarta-feira comentar as suas relações com o Governo depois de não ter sido informado do envolvimento de militares numa investigação judicial sobre tráfico de diamantes, ouro e droga.
Em Berlim, depois de um almoço com o vencedor das eleições na Alemanha e atual vice-chanceler Olaf Scholz, o primeiro-ministro justificou na quarta-feira não ter informado o Presidente da República sobre a rede de tráfico envolvendo militares e civis, porque ele também não tinha conhecimento.
Na terça-feira, em Cabo Verde, o chefe de Estado relatou que o ministro da Defesa lhe tinha explicado que “na base de pareceres jurídicos tinha sido entendido que não devia haver comunicação a outros órgãos, nomeadamente órgãos de soberania, Presidência da República ou parlamento”.