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Habitação, novo aeroporto e crescimento económico. Observador reúne principais representantes do círculo eleitoral de Lisboa em debate

Este artigo tem mais de 2 anos

Como é que os partidos avaliam atuação da AR no voto dos isolados? Como pôr o país a crescer? Qual a melhor solução para o novo aeroporto? Como baixar preços das casas? E quais as metas dos partidos?

Após o debate com os cabeça de lista do circulo eleitoral do Porto, chegou a vez de reunir os candidatos de Lisboa, o distrito que mais deputados elege para a Assembleia da República (48). Com a campanha eleitoral quase a começar, a Rádio Observador juntou as principais caras dos nove partidos com assento parlamentar para discutir temas desde o novo aeroporto, passando pela habitação e pelo crescimento económico do país.

A partir da Sala do Senado da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, o debate contou com a presença de Mariana Vieira da Silva (terceiro nome das listas do PS pela capital e ministra da Presidência e da Modernização Administrativa), Ricardo Batista Leite (cabeça de lista do PSD), Bruno Maia (terceiro nas listas do BE em Lisboa), Alma Rivera (segunda nas listas da CDU por Lisboa), José Ribeiro e Castro (número dois do CDS na capital), Inês Sousa Real (cabeça de lista em Lisboa e porta-voz do PAN), Carla Castro (número dois da IL na capital), Rui Paulo Sousa (número dois do Chega em Lisboa) e Isabel Mendes Lopes (segunda nas listas do Livre na capital).

Ouça aqui o debate na íntegra.

Que solução para o aeroporto e que projecto têm para o país 9 candidatos pelo círculo de Lisboa?

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A votação dos isolados — o que se podia ter sido feito?

O debate começou por um dos temas que mais está na ordem do dia: a votação dos eleitores isolados no próximo dia 30 de janeiro. Questionados sobre o que deveria ter sido feito para preparar este cenário, a Iniciativa Liberal foi a primeira a responder, destacando que o partido “atempadamente tomou algumas iniciativas”, tais como propor a realização do ato eleitoral em dois dias. Aproveita também para acusar o Governo de “não ter energia suficiente” para tomar medidas neste âmbito: “A pandemia não é a surpresa, as eleições não são surpresa. É uma falha clamorosa”.

Também bastante crítico foi o PAN, que diz que o Governo não aprendeu com os “erros” das últimas eleições. Por sua vez, o CDS, considera que a Assembleia da República teve “muita pressa” para votar leis como a da eutanásia, deixando de lado temas como as “condições ideias para votar”, e ainda o PSD, que ironiza: “Sabemos que o [anterior] MAI era o Eduardo Cabrita, portanto não ter havido preparação é algo que não surpreende”. 

Já o Chega, BE, a CDU e o Livre defendem que devem ser criados “ambientes seguros” para os eleitores poderem votar, enquanto o PS afirma que o Governo está a fazer tudo ao seu alcance para garantir condições de segurança, transmitindo uma mensagem de tranquilidade: “Não vale a pena estarmos a criar e a alimentar um sentimento de insegurança”.

Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Ricardo Baptista Leite, Partido Social Democrata (PSD) Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Rui Paulo Sousa, CHEGA Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Mariana Vieira da Silva, Partido Socialista (PS) Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. José Ribeiro e Castro, CDS Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Em cima, à esquerda: Ricardo Baptista Leite, do PSD; Em cima, à direita: Rui Paulo Sousa, do Chega; Em baixo, à esquerda: Mariana Vieira da Silva, do PS; Em baixo, à direita: José Ribeiro e Castro, do CDS

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O crescimento económico: as críticas do bloco central e os impostos

Interrogados sobre que modelo de crescimento económico Portugal deve adotar, os nove partidos discordaram, trocando acusações entre si. O PS começou por defender as políticas tomadas nos últimos seis anos, que foram de “crescimento e convergência com a União Europeia, que romperam com 15 anos de divergência dos nossos parceiros”. Os socialistas querem agora apostar na “inovação e na ciência” e também na redistribuição da riqueza. “Só António Costa pode avançar neste caminho”, declara Mariana Vieira da Silva.

Do lado do PSD, não faltaram críticas ao modelo económico do PS, apontando a carga fiscal como principal motivo de discórdia. Ricardo Batista Leite menciona também o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), defendendo que o plano dos socialistas para a aplicação dos fundos europeus passa por “manter o clientelismo do PS”. Por sua vez, os sociais-democratas compromeram-se a fazer crescer a economia e a gerar riqueza para não só subir o salário mínimo, como também o salário médio.

À esquerda, o BE critica a redução de impostos proposta pela direita. “Nos últimos 50 anos, sempre que há cortes dos impostos, nós não vimos o reflexo no aumento de crescimento”, argumenta Bruno Maia, que chegou a utilizar as políticas económicas de Trump como exemplo. Para contrair esta tendência, é preciso redistribuir rendimentos e acabar com o modelo económico de baixos salários, defendem os bloquistas. A CDU salienta que não existem divergências de fundo entre PS e PSD, que não são uma “alternativa de fundo para o país” em termos económicos. Alma Rivera lembra ainda a “destruição progressiva da produção nacional em Portugal”. Por sua vez, o Livre considera que é necessário repensar o que é crescimento económico. “Devemos questionar a utilização do PIB como principal medida de avaliação. Temos de incorporar medidas como a igualdade, o índice de felicidade e o bem-estar das pessoas”, diz Isabel Mendes Lopes, que é a favor de uma economia “altamente qualificada” com preocupações ambientais. 

Já à direita, o CDS pede mais “ambição” ao país e diz que é necessário estipular metas claras para pôr Portugal a crescer. “É preciso crescer mais do que nossos competidores”, afirma José Ribeiro e Castro, defendendo medidas como estímulos fiscais e a redução do IRC. A IL descreve um “tempo de estagnação” na economia portuguesa, denuncia a “limitação do crescimento” e ainda o “inferno fiscal” em que se tornou Portugal. Para resolver estes problemas, é necessário reduzir a carga fiscal e também diminuir as despesas na administração pública. O Chega aproveitou o debate para criticar as propostas da esquerda, nomeadamente as do Livre, espantando-se a ouvir falar em “índice de felicidade” quando “há pessoas que não têm dinheiro para pôr comida na mesa”. “Se virmos as ideias dos partidos de esquerda, inclusive as do Livre, não sei se vamos viver numa comunidade hippie no meio do campo a comer ervas”, atira, defendendo ainda uma diminuição dos custos do Estado.

Não se assumindo “nem de esquerda, nem direita”, o PAN declara que estas são “as eleições em que os portugueses têm de romper com o bloco central”, de modo a poder pensar-se num “novo modelo de justiça social e ambiental”. “Tribute-se as atividades poluentes e alivie-se as famílias”, apela Inês Sousa Real.

Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Bruno Maia, Bloco de Esquerda (BE) Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Em cima, à esquerda: Bruno Maia, do BE; Vista geral e bastidores do debate entre os cabeça de lista por Lisboa às próximas eleições legislativas

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Montijo ou Beja? PAN e PS sobem o tom com o “aeroporto que vai meter água”

É um dos temas mais importantes para a capital e também para o país. Os nove representantes políticos foram questionados sobre o novo aeroporto de Lisboa — e a sua futura localização. O PAN foi o primeiro a intervir, erguendo uma das suas principais bandeiras: o novo aeroporto deve ser em Beja e não no Montijo. Defendendo que tal ajudaria o interior e seria uma solução viável do ponto de vista ambiental, Inês Sousa Real destaca as consequências ambientais do projeto da Margem Sul, que dão conta da subida do nível do mar, que pode colocar em causa o novo aeroporto.

Da TAP às coligações pós-eleitorais. Observador reúne cabeças de lista do Porto em debate

Por seu turno, o PS diz que tem uma “postura muito simples”: quer procurar resolver o problema e espera pela avaliação de impacto ambiental. Respondendo a Inês Sousa Real, a ministra da Presidência destaca os custos “financeiros e ambientais” que teria um aeroporto em Beja, ao que a porta-voz do PAN atira: “É melhor certamente do que um aeroporto que vai meter água”. Mas Mariana Vieira da Silva não desarma e declara: “Há momentos em que o país precisa de se unir sobre uma decisão a tomar”.

Contra o aeroporto no Montijo também está a CDU, que afirma que se trata de um “absoluto desastre ambiental” que não tem “racionalidade nenhuma”. Para os comunistas e ‘os verdes’, a solução passa por Alcochete. Também o Livre indica a solução do Montijo não é “sustentável” e pede que se estudem mais localizações. O BE não se compromete com nenhuma solução, esperando pelo avaliação de impacto ambiental, defendendo também uma rede de ferrovia de alta velocidade.

O PSD ataca o PS, afirmando que perderam “seis anos” ao dizer-se que o tema do novo aeroporto era “urgente”, nunca tendo sido, contudo resolvido. Os sociais-democratas apontam que é necessário estudar os impactos ambientais de cada uma das opções, passando depois a criticar as prioridades dos socialistas. “A opção de Lisboa do PS foi fazer um carrossel no metro para satisfazer turistas”, atira Ricardo Batista Leite, referindo-se à linha circular da linha verde do metro da capital.

A IL prefere, por sua vez, a solução Portela+1, José Ribeiro e Castro é mais “favorável a Alcochete” — abordando também o tema da regionalização, que deve ser “arrumada de vez” — e o Chega não revela a preferência, aludindo apenas a que deve ser “encontrada uma solução que consiga manter viável o aeroporto ao nível da capital”.

Habitação: as propostas para os mais jovens e o direito constitucional em que Portugal mais falhou

Também um tema caro a Lisboa — e transversal ao resto do país — é ao aumento do preços das casas. Reduzidos a oito, uma vez que Mariana Vieira da Silva teve de sair por compromissos pessoais, os partidos discutiram o assunto e apontaram a necessidades de reformas.

O PSD assume que é um tema “fundamental” e almeja reformular o programa Porta 65 para que mais jovens consigam ter a primeira casa. Quer ainda aplicar um programa de habitação pública de propriedades devolutas e também renovar o edificado. O CDS defende, por seu turno, que é necessário um “mercado de arrendamento dinâmico”, que dê “liberdade de escolha às famílias”. A IL considera que o principal problema é o “desajustamento entre procura e oferta”, afirmando que a solução passa por tornar mais casas disponíveis “através da baixa de preços”. O Chega aproveita para destacar o fim do IMI, sem antes atacar os “imigrantes ilegais, subsidiodependentes e determinadas etnias que ocupam essas casas e que não contribuem para pagar a renda”.

No que lhe diz respeito, o PAN destaca o papel que teve ao longo da legislatura com as pessoas m situação de sem-abrigo e também defende um alargamento do Porta 65.

Os partidos da esquerda são unânimes a defender a mesma ideia. O BE considera que a habitação é a “área em que o estado social português mais falhou”. “Não foi possível assegurar o direito constitucional”, frisa Bruno Maia, que é da opinião que deve haver um maior parque público habitacional: “Pressiona o mercado de habitação privado e impede os preços especulativos das casas em Portugal”. A mesma solução é apontada pela CDU, que salienta que se deve regular os alojamentos locais para “não retirar as pessoas dos centros da cidades”. Além disso, a aposta em corporações é bem-vinda: “Há muitas medidas possíveis desde que não haja vontade e medo para enfrentar o negócio do imobiliário”. Não muito longe destes partidos está a posição do Livre, que vinca que “não há uma resposta para o problema da habitação”. Para Isabel Mendes Lopes, urge combater a especulações imobiliária, terminando-se com os vistos gold e limitando as rendas das casas que tenham beneficiado de rendas públicas.

Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Carla Castro, Iniciativa Liberal (IL) Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Alma Rivera, CDU Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Debate para as Eleições Legislativas com os cabeças de lista de cada partido para Lisboa. Isabel Lopes, LIVRE Universidade Nova, Lisboa 13 de Janeiro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Em cima, à esquerda: Inês Sousa Real, do PAN; Em cima, à direita: Carla Castro, da IL; Em baixo, à esquerda: Alma Rivera, da CDU; Em baixo, à direita: Isabel Lopes, do Livre

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

E as expectativas para as legislativas? Quais são as metas?

Desafiados a responder às metas para estas legislativas, e sendo Lisboa o círculo eleitoral que elege mais deputados, os partidos destacam que estas eleições são “decisivas”. Quantos às forças partidárias mais pequenas nas últimas eleições, o Chega quer “eleger entre cinco a seis deputados”, a IL quer “pelo menos cinco” parlamentares e o Livre quer formar um “grupo parlamentar” com pelo menos dois parlamentares.

Com uma tendência de queda nas sondagens, o CDS fala numa “malapata” neste tipo de cálculos antes das eleições, enfatizando que o objetivo é “vencer a maioria de esquerda”. “As notícias da nossa morte são precipitadas e é uma coisa que tem acontecido na nossa história.” O PAN estabelece como objetivo a terminar com a “bipolarização” do sistema política. Sobre se apoia ou não um novo governo, apenas fará essa reflexão a partir de 30 de janeiro. “Somos um partido responsável que não falha ao país”, ressalva Inês Sousa Real.

Alma Rivera traça como objetivo o reforço do número de deputados e recusa também que a ausência Jerónimo de Sousa vá prejudicar o partido nestas legislativas: “Nós somos um grande coletivo, não somos um partido de um homem só. Estamos todos a trabalhar, apesar de fazer falta o nosso camarada”. O BE diz que não é uma derrota se for ultrapassado pelo Chega (como têm demonstrado algumas sondagens) e reforça que almeja ter representação para “impor a agenda do BE”.

Numas eleições altamente bipolarizadas, Ricardo Batista Leite é categórico: “Estas eleições são as mais importantes, até ao momento, desde século, tendo em vista o PRR”. E diz que os eleitores têm escolher entre o “prolongamento da governação de António Costa” ou uma nova liderança de Rui Rio.

[Veja o essencial do debate:]

O minuto final dos nove partidos

Mariana Vieira da Silva, PS [fez o minuto final antes de abandonar o debate]: “O PS apresenta-se para continuar o trabalho que tem feito na redução das desigualdades. António Costa é a pessoa que pode continuar esse caminho com um programa muito claro”.

Carla Castro, IL: “Não nos conformamos com a estagnação, a falta de crescimento e perspetiva. Queremos arranjar o elevador social. O voto útil é o voto na IL, é um voto reformista.”

Bruno Maia, BE: “O BE assume que quer ser a terceira força política e é importante, porque isso significa meter a extrema-direita no seu devido lugar — no caixote de lixo da história.”

José Ribeiro e Castro, CDS: “Não estamos condenados a estar num plano inclinado para a cauda da Europa, já chateia. A alternativa […] é voto no CDS, que é fiel nos caminhos do crescimento.”

Isabel Mendes Lopes, Livre: “O voto no Livre é o único voto em que não fica tudo na mesma. Queremos ver na mesa das negociações uma esquerda europeia e verde.”

Ricardo Batista Leite, PSD: “Depois de anos de governação socialista, está na hora de mudar. No fundo, quando forem votar, votem naquele em que confiariam para guardar a carteira.”

Alma Rivera, CDU: “Aquilo que se vai eleger são os 230 deputados e os 12 da CDU foram decisivos. O povo não quer um governo de maioria, quer o país a olhar para a frente.”

Rui Paulo Sousa, Chega: “A verdadeira direita somos nós, não são as direitas fofinhas. Se de facto os portugueses querem ver uma mudança, não é votando nos mesmos que nos governam há 40 anos.”

Inês Sousa Real, PAN: “O PAN já demonstrou ser um partido responsável que consegue fazer avançar as suas causas, como a proteção animal e os direitos humanos. Votar útil é votar no PAN.”

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