A mensagem a passar até pode ser a mesma, mas a alteração forçada de líder na volta da CDU prova que o mensageiro também conta. Quem viu João Oliveira subir a um murete para falar aos trabalhadores que lhe pediam “uma intervençãozinha” não pôde evitar a óbvia comparação com Jerónimo de Sousa ou João Ferreira na mesma circunstância. Quer Jerónimo quer Ferreira seguem mais o guião à risca, João Oliveira acede aos pedidos e não parece tão incomodado com os improvisos no momento.

Foi assim esta quarta-feira em Castanheira do Ribatejo, com a troca de turno na empresa de produção de baterias a fazer-se a conta-gotas e o “boneco” a não resultar, os funcionários da empresa lá pediram a João Oliveira que fizesse um “discursozinho” rápido. Sem mais demoras, com o tão característico sotaque alentejano, Oliveira subiu ao murete e falou no exemplo de luta por aumentos salariais que ali se travou e em como isso é um “belo paralelo” para o que é preciso no país.

“Até podem dizer que não é possível aumentar os salários, mas estes trabalhadores mostram que com a força da CDU é possível”, apontou o líder da bancada parlamentar no hemiciclo e, para já, a fazer as vezes de secretário-geral.

Mas para isso é preciso que o Partido Socialista não conquiste a maioria absoluta e, além disso, que a maioria de esquerda seja uma opção dos socialistas caso vençam a eleição para alianças futuras.

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E se Jerónimo é conhecido pela utilização de ditados populares, João Oliveira também não se tem ficado nada atrás. Se fala em “cumprimentar o patrão com o chapéu dos outros” sempre que o tema são as conquistas ao longo dos últimos anos, desta vez lembrou o “gato escaldado de água fria tem medo” para acenar com o fantasma da maioria absoluta.

“Os portugueses só de ouvir falar em maioria absoluta ficam com medo do que isso pode significar”, disse o líder parlamentar do PCP.

Já depois de António Costa ter dito que não confiava nos parceiros de geringonça e ter usado essa desconfiança para capitalizar votos no Partido Socialista, os comunistas continuam disponíveis para viabilizar um futuro governo de esquerda e lutam contra o voto útil.

Uma coisa é o que o Partido Socialista quer, outra coisa é o que o povo vai decidir no dia 30 de janeiro”, diz Oliveira garantindo que se no dia 30 o PS não tiver maioria absoluta o PCP contará para viabilizar uma solução.

“Se o povo decidir no dia 30 não dar maioria absoluta e dar força à CDU cá estamos para garantir o progresso e a resposta aos problemas dos trabalhadores”, afirmou.

João Oliveira discursa no pavilhão dos Bombeiros Voluntários de Loures, em Lisboa

Caravana repete a passagem em Loures, Bernardino assiste na primeira fila

Na segunda (de várias) passagem da caravana comunista em Loures — que perdeu para os socialistas em setembro e onde é preciso recuperar terreno. É a segunda vez em dois dias que o concelho tem uma ação de campanha e o antigo presidente da câmara Bernardino Soares volta a estar presente.

Sentado na primeira fila, o mandatário da campanha pelo distrito de Lisboa assistiu ao comício, que contou com a participação de Duarte Alves, um dos deputados mais jovens do PCP no Parlamento, e de João Oliveira que falou para um auditório bem composto para alertar para a “tralha ideológica que é o voto útil”.

Resumem a coisa ao PS e PSD e enquanto discutem fulanos não se discutem as políticas que os fulanos querem fazer”, disse Oliveira enquanto usando da tão característica ironia se mostra “compreensivo na insistência nesse discurso” já que nem todos têm a “propriedade que a CDU tem para falar” em tempos de campanha eleitoral.

Não há nada que possa ser dito colocando em causa a credibilidade do que tem sido feito. Podemos fazer agora a defesa das nossas propostas com a credibilidade que isso nos dá, com aquilo que conquistámos ao longo dos anos”, atirou o comunista por oposição aos que “durante anos criaram obstáculos” e aos que “de perna cruzada pouco se preocuparam”.

Com a sessão dedicada às pequenas e médias empresas, João Oliveira aproveitou para deixar claro o que é que significam “as propostas do PSD ou da Iniciativa Liberal” no que diz respeito à redução dos impostos para as empresas.

Quando falam em reduzir a taxa do IRC isso só se aplica a grandes empresas. As micro, pequenas e médias empresas já têm taxa de reduzida. O primeiro beneficiário são as grandes empresas”, nota João Oliveira que recusa aceitar o discurso de que isso significaria “aumentar o número de empregos” nessas empresas.

“Só iria aumentar os lucros, os dividendos que seriam distribuídos pelos acionistas, levados para o estrangeiro, a maior parte deles para offshores”, disse ainda.