Na eleição deste domingo, João Oliveira perdeu o lugar de deputado que mantinha há anos. Em dia de rescaldo das eleições legislativas, o comunista apontou, em declarações na rádio Observador, alguns dos fatores que contribuíram para os resultados da noite eleitoral, tanto em relação à votação no Partido Comunista como à maioria absoluta do Partido Socialista.

“Nós refazemo-nos rapidamente. A partir do momento em que estão apurados os resultados e que identificamos a força com que passamos a contar para intervir na Assembleia da República, é a partir daí que começamos a olhar para a frente.” Assim responde João Oliveira, quando questionado sobre o facto de deixar de ser deputado na próxima legislatura. O Partido Comunista perdeu representação pelos distritos de Santarém e Évora, deixando, assim, António Filipe e o próprio João Oliveira sem o seu lugar na Assembleia da República. Também o PEV deixou de ter representação parlamentar.

Derrota da Esquerda? Sondagens “criaram bipolarização” entre PS e PSD

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

João Oliveira, que substituiu Jerónimo de Sousa durante parte da campanha eleitoral, enumera uma série de fatores que, na sua opinião, levaram ao resultado do Partido Comunista nesta eleições: a bipolarização e uma mensagem de que a direita regressaria ao poder “procurando canalizar para o PS toda a ideia do voto útil”, são dois deles. E explica: “Quando, na véspera do voto antecipado se anunciam sondagens que diziam que o PSD já era o partido mais votado à frente do PS, cria-se todo esse enquadramento que, já no quadro da bipolarização vinha sendo desenvolvido.” Destaca ainda o ataque do Partido Socialista à esquerda e a apropriação por parte do PS de propostas dos comunistas. E não deixa de fora as dificuldades impostas pela pandemia durante a campanha eleitoral.

PCP perde Santarém, Évora, um João e um António Filipe (e ainda fica sem PEV no Parlamento)

Ainda sobre as eleições legislativas, aponta o “retrocesso da abstenção” como um “elemento relevante e de valorização”, mas afirma que houve uma “campanha muito condicionada pelas sondagens e elementos artificiais”.

Quando questionado se voltaria a chumbar o orçamento do Estado, o ainda deputado diz que a questão é ao contrário e que, por muito que o PCP fizesse, “o PS não haveria de encontrar destino diferente”, porque queria as eleições antecipadas. Para João Oliveira, depois dos resultados destas eleições, confirma-se que era precisamente este o objetivo que o Partido Socialista procurava: “O PS estava, verdadeiramente, à procura da maioria absoluta e utilizou o Orçamento do Estado como pretexto e fazendo de tudo para que ele não fosse aprovado.”

O Partido Comunista tem uma reunião marcada para a próxima terça-feira, dia 1 de fevereiro, na qual João Oliveira prevê um “balanço aprofundado da participação deste ato eleitoral”. Refere ainda que o “enraizamento do PCP e da CDU no povo português e junto dos trabalhadores” é a grande arma do partido para combater as dificuldades. E quanto ao seu próprio futuro, diz que continuará a intervir “da forma como o partido entender que pode ser mais útil”. Sobre a eventual sucessão a Jerónimo de Sousa, não tece quaisquer comentários.