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Taremi, o dramaturgo que nasceu para dar a volta ao texto (a crónica do Sporting-FC Porto)

Este artigo tem mais de 2 anos

Sporting esteve a ganhar e perdeu a cabeça quando sofreu um golo, FC Porto esteve a perder e ganhou cabeça quando sofreu um golo. Diferença esteve em Taremi, que marcou de penálti e assistiu Evanilson

Festejo do golo de Mehdi Taremi com Evanilson durante o jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Futebol Clube do Porto no estádio de Alvalade, a contar para a 1ª mão das meias-finais da Taça de Portugal 2021/22. Lisboa, 02 de Março de 2022 FILIPE AMORIM/OBSERVADOR
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Taremi e Evanilson marcaram os golos da equipa de Sérgio Conceição

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Taremi e Evanilson marcaram os golos da equipa de Sérgio Conceição

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

É impossível fugir ao óbvio. Esta quarta-feira, Sporting e FC Porto disputavam o terceiro Clássico do ano entre as duas equipas, desta feita nas meias-finais da Taça de Portugal, mas tudo parecia importar mais do que um dos jogos mais antecipados da temporada. Afinal, está uma guerra a acontecer ali ao lado. Afinal, estão inocentes a morrer ali ao lado. E afinal, o futebol não deixa de continuar a parecer o mais importante do menos importante enquanto até o futebol parou ali ao lado.

Tudo isto se torna ainda mais verdade — e ainda mais tragicamente irónico — se recuarmos até há pouco mais de duas semanas, até ao último encontro entre as duas equipas. No Dragão, para a Primeira Liga, Sporting e FC Porto protagonizaram aquele que ficará na história como um dos episódios mais tristes do futebol português. Um episódio que aconteceu antes de a guerra rebentar ali ao lado, antes de inocentes começarem a morrer ali ao lado, antes de o futebol parar ali ao lado. E que agora, pouco mais de duas semanas depois e com um contexto internacional distinto, parece ainda mais descabido.

“Não tive nenhuma conversa com os jogadores sobre isso. Tem de ser um jogo tranquilo, aquilo não pode voltar a acontecer. Queremos jogar o jogo pelo jogo, quem ganhar o jogo fica com vantagem e depois há outro jogo ainda. Temos de dar um exemplo melhor do que aquilo que foi o último jogo no Dragão. É tão claro que temos de ser melhores nesse aspeto… Os jogadores são homenzinhos, percebem isso”, disse Rúben Amorim. “Tenho um grupo de trabalho experiente, mesmo os jovens estão habituados a estes palcos e a estes ambientes. Ninguém quer ver repetido o que se passou no Dragão, não foi preciso estar com grandes alertas. São situações desagradáveis que aconteceram mas temos pessoas inteligentes nos dois clubes para perceberem que aquilo foi demasiado”, disse Sérgio Conceição. A ideia era simples: o que aconteceu no Dragão, no jogo para o Campeonato, não poderia repetir-se em Alvalade, no jogo para a Taça.

Na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal, Sporting e FC Porto jogavam coisas diferentes. No caso dos leões, a possibilidade de chegar a uma final contra Mafra ou Tondela, os outros dois semifinalistas, era também a possibilidade de ficar mais perto de conquistar o único título nacional que escapou a Rúben Amorim na época passada e assegurar mais um triunfo na eventualidade provável de o Campeonato cair para o FC Porto; no caso dos dragões, a possibilidade de chegar a uma final contra Mafra ou Tondela, os outros dois semifinalistas, era também a possibilidade de ficar mais perto de conquistar o título pela segunda vez em três anos e assegurar a 9.ª dobradinha da própria história na eventualidade provável de o Campeonato já não fugir.

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Curiosamente, era neste Clássico que voltavam dois dos jogadores castigados depois dos confrontos no Dragão, Bruno Tabata e Pepe. No Sporting, Amorim ainda não tinha João Palhinha, que cumpria o último jogo de castigo exatamente pelo mesmo motivo, e o lesionado Pedro Gonçalves: assim, os leões voltavam ao 3x4x3 depois da alteração de sistema no empate na Madeira e não existiam grandes surpresas, com Sarabia a voltar ao onze, Neto a integrar o trio de centrais e Nuno Santos a aparecer no apoio a Paulinho a partir da esquerda. No FC Porto, Conceição seguia a regra não oficial da Taça de Portugal e colocava Marchesín ao invés de Diogo Costa na baliza, apostando ainda em Bruno Costa na direita da defesa. Grujic, Uribe e Vitinha formavam o trio do meio-campo e, no ataque, Taremi e Fábio Vieira completavam Evanilson a partir dos corredores, com Otávio e Pepê a começarem no banco.

Numa primeira parte que não teve golos, a grande notícia apareceu logo aos quatro minutos: numa cena já antes vista em Alvalade, quando Rui Patrício também foi brindado com várias tochas vindas da Bancada Sul do estádio, Adán teve de se afastar da baliza para não ser atingido com pirotecnia vinda da zona das claques do Sporting. Recomeçado o jogo, Pepe acabou por protagonizar o primeiro lance mais perigoso, com um cabeceamento em balão que bateu na parte superior da trave (10′), mas o momento que seria anulado por estar em posição irregular nada mais foi do que um oásis no deserto de oportunidades que foi o primeiro tempo.

A primeira parte desenrolou-se de forma muito calculista e tática, com as duas equipas a encaixarem e a preocuparem-se mais com o aspeto defensivo do que o ofensivo, evitando cometer erros na saída de bola. Contudo, tanto Sporting como FC Porto não conseguiram fugir a demasiadas perdas de posse, essencialmente devido à pressão alta e intensa aplicada pelos dois conjuntos, e o jogo foi avançando sem grande qualidade nem ritmo, quase sempre enrolado no meio-campo. Os dragões tinham mais bola, os leões eram mais incisivos e apareciam mais vezes no último terço adversário: mas ninguém era capaz, na verdade, de conquistar um ascendente na partida.

O Sporting atacava quase sempre em transição rápida, com Matheus Nunes a liderar a ofensiva através da faixa central, e acabou por ter as melhores — e até únicas — oportunidades até ao intervalo. O mesmo Matheus rematou ao lado de fora de área (24′), Sarabia pontapeou a atmosfera numa altura em que estava praticamente solto de marcação (36′) e Porro atirou por cima já nos descontos (45+5′). Já o FC Porto tentava construir de forma mais apoiada, tombando muitas vezes na esquerda e no critério de Taremi, e defendia com Uribe a funcionar como uma espécie de terceiro central para responder às movimentações de Paulinho. Contudo, os dragões não conseguiam romper com a defensiva leonina, criando perigo essencialmente através de cruzamentos ou bolas paradas.

O jogo chegou o intervalo sem golos, sem muitas ocasiões, com um único remate enquadrado e 14 faltas. A primeira mão da meia-final da Taça de Portugal ia decorrendo com mais petardos do que lances de perigo e nem Sporting nem FC Porto demonstravam especial criatividade ou risco, algo que podia ser explicado a partir do facto de estarem a disputar uma eliminatória e não um simples encontro de 90 minutos.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Sporting-FC Porto:]

Ao intervalo, Rúben Amorim tirou Nuno Santos e lançou Marcus Edwards, algo que fez com que Sarabia passasse a descair na esquerda para o inglês jogar na direita. A segunda parte voltou a ter tochas vindas da Curva Sul de Alvalade a cair na grande área, desta feita na de Marchesín, mas ao contrário do que aconteceu no primeiro tempo o marcador não demorou muito a mexer. Na repetição de um livre na esquerda, já depois de ter ensaiado o pontapé direto à baliza, Porro surpreendeu a defesa do FC Porto e pôs a bola à entrada da grande área, onde Sarabia apareceu completamente sozinho a rematar em jeito para colocar o Sporting a ganhar (49′).

De forma natural, os dragões reagiram ao golo sofrido e assumiram o controlo da partida, conquistando a iniciativa e passando a atuar já dentro do meio-campo adversário, obrigando os leões a encurtar espaços entre linhas e juntar blocos. Luís Neto ainda evitou o golo de Taremi, com um corte crucial que o central festejou como se de um golo se tratasse (54′), mas a verdade é que o FC Porto só precisou de 10 minutos para empatar o resultado. Porro fez falta sobre Evanilson no interior da grande área do Sporting e Taremi, na conversão da grande penalidade, não deu hipótese a Adán (59′).

Mesmo depois de alcançado o empate, Sérgio Conceição manteve as ideias e fez a tripla alteração que já tinha preparado, tirando Bruno Costa, Grujic e Fábio Vieira para colocar João Mário, Otávio e Pepê. E, menos de cinco minutos depois do penálti de Taremi, o FC Porto carimbou a reviravolta — muito graças a um desnorte leonino que começou com o primeiro golo sofrido e praticamente não acabou até ao apito final. João Mário lançou Pepê nas costas da defesa do Sporting, Adán calculou mal a saída da baliza e deixou a bola nos pés do brasileiro, que jogou com Taremi e viu o iraniano assistir Evanilson de calcanhar, com o avançado a precisar apenas de encostar (64′). Rúben Amorim reagiu à desvantagem com Slimani, que entrou para o lugar de Neto e provocou uma alteração tática, com a equipa a passar a atuar com uma defesa a quatro.

Até ao fim, para lá da entrada de Daniel Bragança nos leões, de Toni Martínez e Fábio Cardoso nos dragões e de uma enorme defesa de Marchesín a um cabeceamento de Coates nos descontos (90+3′), já pouco aconteceu. O Sporting nunca conseguiu reencontrar o equilíbrio, o FC Porto nunca cometeu erros que colocassem a vitória em causa e o resultado não se alterou: os dragões venceram os leões na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal e partem com vantagem para a segunda mão, no Dragão, agendada apenas para o final de abril. Taremi empatou de grande penalidade, assistiu de calcanhar para o segundo golo, prolongou um momento de enorme fulgor exibicional e assumiu o papel de dramaturgo que soube dar a volta a um texto que, a dada altura, parecia muito desfavorável para a equipa de Sérgio Conceição.

 
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