A França já “não tem reticências” ao desenvolvimento das interconexões energéticas com a Península Ibérica, há muito reclamadas por Portugal e Espanha, garantiu esta terça-feira em Bruxelas o ministro para os Assuntos Europeus, Clément Beaune.

À chegada a um Conselho de Assuntos Gerais, preparatório do Conselho Europeu de quinta e sexta-feira que será em boa parte consagrado à crise energética, à escalada de preços e à necessidade de a Europa diversificar as suas fontes de aprovisionamento, Beaune assegurou que a França — que atualmente preside ao Conselho da União Europeia — também reconhece a importância de desenvolver as interconexões no mercado europeu de energia e está disposta a acelerar esse processo, sobre o qual admitiu ter havido reservas no passado.

“Não temos reticências. Foi o caso no passado, é verdade […] Havia projetos antigos que levantavam questões, designadamente problemas de ordem ambiental, pelo que será necessário sem dúvida reconsiderar alguns projetos, mas a ideia de que precisamos de interconectar melhor o nosso mercado, sobretudo à luz desta crise, é sem dúvida importante, e não há reticências francesas sobre esse princípio”, declarou.

O ministro apontou que o próprio Presidente francês, Emmanuel Macron, “há três anos apoiou de novo o processo de desenvolvimento das interconexões, designadamente entre a França e a Península Ibérica, no plano do gás e da eletricidade”.

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“Tivemos uma cimeira em Lisboa há alguns anos onde relançámos com Espanha e Portugal esse trabalho de interconexões, que assume ainda maior importância hoje”, face ao objetivo assumido da Europa de se libertar da dependência energética relativamente à Rússia, recordou, referindo-se a uma cimeira celebrada na capital portuguesa em 2018.

Assumindo que não há um calendário para avançar com as interconexões, Clément Beaune concordou, todavia, que “é necessário acelerar” o processo e antecipou discussões “nas próximas semanas”.

Na passada sexta-feira, após uma reunião em Roma com os seus homólogos de Itália, Espanha e Grécia, o primeiro-ministro António Costa afirmara-se convicto de que a França tem agora consciência da importância das interconexões com a Península Ibérica no contexto da diversificação das fontes de energia, lamentando que tal não tenha sido concretizado há anos.

Costa acerta em Roma com parceiros do sul posições em matéria política energética para cimeira

Em declarações à imprensa após ter participado, em Roma, numa reunião com os seus homólogos italiano, Mario Draghi, espanhol, Pedro Sánchez, e grego, Kyriako Mitsotakis (este último por videoconferência) para concertar posições e propostas relativamente à política energética, com vista à cimeira desta semana, Costa lembrou que “a França já assinou dois acordos com Portugal e com Espanha, um em 2014” e outro já consigo próprio, com o Macron, e com Pedro Sánchez.

O primeiro-ministro considerou que “as questões que foram colocadas pelos reguladores estão ultrapassadas”, pois “eram designadamente dizer que, face à abundância de fornecimento de gás, da Rússia designadamente, não havia necessidade de mercado de reforçar este abastecimento”.

“Sempre achei que foi um disparate ter limitado essa análise a meras condições de mercado e desconsiderar o problema geoestratégico que estava subjacente, que é o facto de a UE não poder estar no grau de dependência energética que está relativamente à Rússia. Se tivéssemos feito essas interconexões quando elas foram acordadas a Europa não estava no problema de dependência em que estava”, observou.

Todavia, realçou que “o passado foi o passado, agora temos é que aprender com ele e, portanto, não perder nem mais um segundo”.

“Eu creio que neste momento a França também tem consciência disso. Tem consciência de que a energia que podemos fornecer é complementar da energia que a França também produz e que também quer naturalmente vender para o mercado europeu, e, portanto, creio que estão criadas as condições”, disse.

António Costa voltou a lembrar “a comunicação que a Comissão Europeia publicou há duas semanas” que “é inequívoca, e um dos exemplos que dá, alem da ligação entre a Grécia e a Bulgária, é a ligação entre Portugal e Espanha, e Espanha e a França, essa é muito clara”.

“E dos contactos que tenho tido com a Comissão Europeia, não tenho a menor das dúvidas que esta interconexão é absolutamente prioritária. E se não for pela França, como é o caminho normal, há caminhos alternativos, mais caros, mais difíceis, mas que não deixarão de ser executados”, concluiu.