O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lançou no Palácio de Belém nesta quarta-feira o programa “Heróis pelo Oceano”, com o qual espera deixar pelo menos alguns jovens apaixonados pelo mar.

“Se houver pelo menos cinco de vocês a ficarem apaixonados pelo tema e a mudarem a vossa vida por causa do tema num bocadinho, já valeu a pena, se forem dez melhor, se forem todos ainda melhor”, declarou o chefe de Estado, perante cerca de 40 alunos da Escola Secundária de São João da Talha, no concelho de Loures, distrito de Lisboa.

A primeira sessão deste programa contou com a participação do especialista em assuntos do mar Tiago Pitta e Cunha, Prémio Pessoa 2021, e do navegador solitário Ricardo Diniz, que falaram aos estudantes das suas experiências e deixaram alertas sobre os danos provocados pela ação humana ao planeta Terra.

O chefe de Estado esteve presente no início da sessão e incentivou os jovens a aproveitarem bem este encontro e a perguntarem tudo, sem pressa: “O que é que interessa perder uma aula tendo esta oportunidade de ouvir estes dois homens? O que é que vai marcar mais a vossa vida?”.

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Pedindo desculpa aos professores, reforçou: “Hoje, se não houver uma aula, se chegarem tarde, se passarem fome, se comerem qualquer coisa no caminho, não interessa. Perguntem tudo, ouçam tudo com atenção”.

Tiago Pitta e Cunha, administrador e diretor da comissão executiva da Fundação Oceano Azul, descreveu Portugal como “um país gigante” tendo em conta o seu território marítimo, que poderá gerar “os empregos do futuro” e fazer do país “um dos principais atores da globalização”.

Por outro lado, chamou a atenção para a poluição e para a crescente escassez de recursos, apontando a água como “o ouro do século XXI” e salientando que Portugal “é um dos países mais afetados” pela seca.

Segundo Pitta e Cunha, a espécie humana não valoriza a natureza o suficiente e está a pôr em perigo a sua própria sobrevivência. “Nós estamos a comer o planeta”, afirmou, apelando a que se transforme o planeta “num lugar melhor”.

Ricardo Diniz defendeu que a Terra devia chamar-se antes “planeta Oceano”. Em resposta a perguntas dos alunos, confirmou que “o mar está mesmo muito diferente” agora, “com muito lixo” e até com “uma película diferente” à superfície, criada pela poluição humana.

O navegador deu como exemplo um lugar nas Caraíbas onde voltou recentemente: “Eu chorei debaixo de água. Os corais estavam todos mortos, em 20 anos”.

Entre o lixo, estão contentores caídos de navios — “caem cerca de 80 mil ao mar por ano” — e um dos momentos mais difíceis por que passou foi quando o barco em que seguia embateu num deles e teve de estar “26 horas a nadar em alto mar”, relatou.

No seu entender, contudo, ainda se vai a tempo de “mudar qualquer coisa” pela preservação do planeta. Quanto à poupança de água, considerou que “Portugal está um passo atrás” e sugeriu que cada um contribua para esse fim diminuindo o consumo de roupa em primeira mão e lavagens do carro.

Ricardo Diniz contou que aos oito anos disse ao pai que um dia queria dar a volta ao mundo à vela sozinho, mas que para concretizar os seus sonhos enfrentou muitos obstáculos, esteve em situação de sem-abrigo, ouviu sucessivas recusas de empresas: “Atirei-me muitas vezes para fora de pé”.

O navegador solitário, nascido no mesmo dia que Fernão de Magalhães, vai repetir em breve a rota da circum-navegação deste “herói esquecido”, sem nenhuma ponte ou grande monumento com o seu nome em Portugal. “Foi o Magalhães que deu o nome ao maior oceano do planeta”, assinalou, referindo-se ao Pacífico.

No total, vão participar no programa “Heróis pelo Oceano” treze personalidades ligadas ao mar, agrupadas em seis sessões com alunos no Palácio de Belém, até ao fim de maio.

Este programa antecede a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas que Portugal está a organizar em conjunto com o Quénia e que terá lugar em Lisboa em junho.