O Presidente da Câmara Municipal de Irpin, Oleksandr Markushyn, vai estar na próxima semana em Portugal para formalizar a geminação da cidade ucraniana com Cascais. O acordo será assinado na quinta-feira, dia 23, revelou o autarca ucraniano ao Observador.

“Nós falamos com o  presidente da câmara, eles propuseram que as nossas cidades, Irpin e Cascais, sejam amigas e obviamente que nós aceitamos, porque não temos nenhuma cidade irmã em Portugal e estamos bastante gratos por eles terem proposto isto”, afirmou.

Em entrevista ao Observador em Irpin, Markushyn realçou a importância da ajuda humanitária que a câmara de Cascais prestou à cidade desde o início do conflito, “quando era mais necessário”. Enviaram “exatamente aquilo que era preciso, portanto, obviamente  que nós somos muito gratos. O autarca deixa ainda um agradecimento ao governo português “pelas pessoas, nomeadamente os refugiados que foram recebidos em Portugal.”

A proposta de geminação de Cascais com Irpin e Bucha — duas cidades da região administrativa de Kiev que estão entre as mais afetadas pela invasão russa —, tinha sido aprovada a 10 de maio, por unanimidade, pelos vereadores da câmara de Cascais. A autarquia tem enviado regularmente ajuda humanitária para Bucha, Irpin, Zhytomyr e para campos de refugiados nos países que fazem fronteira com a Ucrânia. Organizou também missões de resgate aéreo.

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Ao Observador, Carlos Carreiras explica que “logo desde o início da guerra foi possível fazer chegar a estas cidades comida, medicamentos e roupa”. Foi desde logo estabelecida “uma relação com essas cidades que não tínhamos antes”, acrescenta.

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Está previsto colocar “à disposição” de Bucha e Irpin “os técnicos da câmara municipal de Cascais para ajudar” nas necessidades mais urgentes, tendo já em vista a própria reconstrução de Irpin. O objetivo é ajudar no planeamento urbanístico e mesmo “num conjunto de outros fatores que permitam aproveitar agora, infelizmente, a destruição para relançar a própria cidade.” Nesse sentido, o autarca português enumera “questões como as preocupações no ponto de vista ambiental” ou “preocupações com o que se denomina ‘smart cities’ e permitir um novo fôlego e uma nova vida à própria cidade de Irpin.”

“No imediato, o apoio que estamos a dar e continuamos a dar é de duas ordens: apoio humanitário, bens alimentares, material médico — já não tanto roupa, porque isso já não é necessário —, mas também fazendo todo o acolhimento dos cidadãos de Irpin, que são neste momento nossos convidados em Cascais”, explica Carlos Carreiras. “A segunda vertente tem a ver com o apoio técnico e que pode ser dado pelos técnicos da câmara municipal de Cascais e, em terceiro, tem a ver com aquilo que vou discutir com o presidente da Câmara de Irpin — e que já foi feito com Bucha. Depois de estarmos a recuperar todas as escolas do concelho e de estarmos a construir inclusivamente novas escolas em Cascais, também temos um conjunto de competências acrescidas.”

A presença em Portugal de Oleksandr Markushyn coincide com o concerto solidário que vai decorrer também na próxima quinta-feira, na Baía de Cascais, e que conta com artistas ucranianos e portugueses.

No caso de Bucha, Carlos Carreiras recorda que já está assinado um protocolo de geminação. “Com Bucha já assumimos o compromisso de apoiar o financiamento da construção de uma escola nova, já que as escolas foram todas destruídas. E optámos por aquilo que mais se projeta para o futuro, que salvaguarda as próprias gerações futuras”.

Nestes apoios à Ucrânia, acrescenta o autarca, não há nada que esteja “a ser retirado àquilo que são as necessidades de Cascais.”

Objetivo: Reconstruir escolas a tempo do novo ano letivo

Pelo menos 300 civis e mais de 80 membros das forças de segurança e voluntários da defesa territorial morreram em Irpin no mês de março. A cidade foi palco de violentos combates e chegou a ter 30% de área ocupada pelas forças russas. Conseguiu resistir e obrigar as tropas de Moscovo a recuar, contribuindo decisivamente para impedir que alcançassem Kiev.

A defesa territorial da cidade foi liderada por Oleksandr Markushyn, que nunca abandonou Irpin. Apesar de não ter treino de combate, recorreu à experiência como caçador para se tornar o “‘presidente militar’ de que a cidade precisa”.

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“Na cidade de Irpin ocorreram combates, pagamos um preço muito alto por esta vitória. Mais de 50% da cidade está destruída”, incluindo “escolas e jardins de infância”, sublinha o presidente da câmara. O foco é reconstruir os equipamentos sociais o mais rapidamente possível. “Tal como em Portugal, em Irpin as crianças devem poder regressar à escola em setembro.”

Markushyn tem, por isso, feito um périplo internacional à procura de apoios — tendo já visitado locais como a “cidade irmã” de Milwaukee, nos Estados Unidos, Paris ou Bruxelas.

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“O mais importante é reconstruir os prédios altos”, que vão garantir o realojamento de várias famílias. Na mala de viagem leva fotografias que mostram como estava cada um destes locais antes da invasão e um projeto de reconstrução com os custos estimados.

“Vamos pela Europa e pedimos fundos às cidades e às grandes organizações, sugerindo que cada um escolha apenas um prédio” para apadrinhar. “Juntos conseguiremos reconstruir rapidamente.” O objetivo é colocar Irpin novamente de pé no prazo de um ano e meio. “Não para ficar igual ao que era, mas para ficar melhor”, ambiciona o autarca.

Traduções de Tânia Oliynyk, na Ucrânia