Vladimir Putin deixou o que parece ter sido uma ameaça velada ao presidente do Cazaquistão no Fórum Económico em São Petersburgo na sexta-feira: todos os países da antiga União Soviética são “Rússia histórica”, sugerindo que qualquer um deles pode ser alvo de uma invasão como a da Ucrânia.

Esta foi a reação do Presidente russo quando Kassym-Jomart Tokayev considerou que Donetsk e Lugansk, regiões pró-Rússia no leste da Ucrânia que compõem o Donbass, não eram estados independentes, nem estavam sob alçada do Kremlin: são “territórios de quase-estados”, classificou o Chefe de Estado cazaque.

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No mesmo palco de Tokayev, Vladimir Putin revirou os olhos, cerrou os lábios e atirou: “O que é a União Soviética? É a Rússia histórica”. Depois de elogiar o Cazaquistão, considerando-o um país “fraterno”, prosseguiu: “A mesma coisa poderia ter acontecido com a Ucrânia , sem dúvida. Mas eles não queriam ser nossos aliados”.

Um perito sediado em Nur-Sultan (capital do Cazaquistão) considerou em entrevista ao The Telegraph que o Presidente da Rússia, sentindo-se “humilhado” pelo homólogo, “está a deixar claro que o Cazaquistão pode ser a próxima presa da Rússia”.

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Outro especialista, também ele cazaque, diz que Putin considera o país um “bom vizinho”, mas traduziu assim a mensagem do Presidente russo: “Se saírem da linha e forem pró-ocidente, podemos conquistar a vossa terra porque é nossa”.

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Maximilian Hess, do Foreign Policy Research Institute, também interpretou que a reação de Putin é uma “ameaça clara”. Dimash Alzhanov, analista político cazaque, disse ao The Telegraph que o país “já está firmemente enraizado no domínio de influência russa”, por isso “Putin não precisa de reimpor as fronteiras da União Soviética para controlá-lo“.

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