O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, considera que a cimeira da NATO, que se iniciou esta terça-feira em Madrid, vai reafirmar a unidade e determinação da aliança militar e promover a continuidade do apoio à Ucrânia.

“A cimeira da NATO é essencialmente uma cimeira para reafirmar a unidade e a determinação da Aliança Atlântica em parâmetros que equivalem a uma leitura da realidade atual, de 2022, muito distinta da de 2010”, quando foi aprovado “o último conceito estratégico”, indicou em declarações à agência Lusa.

O chefe da diplomacia portuguesa considerou que a invasão da Ucrânia pela Rússia tornou evidente o facto de este último país representar hoje uma ameaça à paz e estabilidade da Europa.

Naturalmente há uma mensagem fortíssima dirigida a Moscovo quanto à inviolabilidade territorial dos países membros da NATO à luz do artigo 5º, em que todos assumem a defesa de cada um”, disse à Lusa.

Numa referência ao Governo de Kiev, Gomes Cravinho indicou existir “naturalmente um sentimento de solidariedade face ao ataque que a Ucrânia sofreu, sem justificação e sem qualquer tipo de provocação”, afirmando que “haverá continuidade do apoio dos países europeus e norte-americanos em relação à Ucrânia”.

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O ministro frisou, no entanto, que a NATO “está fora do conflito”, apesar de muitos países membros da Aliança Atlântica terem apoiado “materialmente” a Ucrânia.

Ao ser questionado sobre a presença dos líderes do Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Austrália na cimeira de Madrid, entendida como um sinal sobre outro foco de tensão centrado na China, Gomes Cravinho considerou que a potência asiática não pode ser entendida como uma nova União Soviética.

“Não há paralelo possível entre o período da Guerra Fria e a possibilidade de conflitualidade ou instabilidade internacional em função da emergência da China”, assinalou.

“Historicamente, sempre que houve a emergência de uma nova potência, houve um momento de dificuldade antes de se encontrar um novo equilíbrio e aquilo que nos compete (…) a todos, e à China desde logo, é fazer com que esse período de instabilidade não seja um período de conflitualidade”, explicitou.

Segundo o ministro, é necessário assim ter “determinação e unidade e, por outro lado, disponibilidade para o diálogo com a China”.

O MNE português recordou que a NATO é uma “aliança regional”, que tem por objetivo “preservar a paz e a estabilidade na região em que se se encontram os seus países”, ou seja, na região euro-atlântica.

“A NATO não é uma aliança global. Dito isto, há ameaças que podem surgir de outras geografias, ou desenraizados da geografia como é o caso do ciberespaço. E a NATO tem também de ter em conta essa possibilidade de ameaças de outra parte do mundo, ameaças para a região transatlântica”, adiantou.

Numa referencia ao veto da Turquia, que bloqueia o processo de adesão à Aliança da Suécia e Finlândia na cimeira de Madrid, o ministro dos Negócios Estrangeiros revelou-se otimista.

Acredito que aconteça o alargamento para a Finlândia e Suécia. E acredito porque corresponde ao interesse de todos, corresponde ao interesse desses países, cuja neutralidade até agora foi posta em causa devido ao ataque da Rússia contra a Ucrânia, está no interesse da própria NATO porque são países do nosso espaço geográfico com quem já existe uma interação forte”, disse.

Apesar de admitir “problemas de conjuntura” que envolvem a Turquia, frisou estar seguro “de que dialogando com a Turquia, dialogando com a Finlândia e a Suécia, encontrar-se-á soluções”.

“Podem não vir a tempo da cimeira da NATO, podem levar mais alguns meses, mas estou seguro de que em breve teremos uma aliança de 32 aliados e não de 30, como temos atualmente”, concluiu.