O Presidente da República considerou esta sexta-feira não ser solução acusar África de hipocrisia quanto à guerra na Ucrânia como fez o seu homólogo francês, afirmando que é “um conflito global” apesar de “dois terços do mundo” fingir que não.

Marcelo Rebelo de Sousa partilhou um painel de debate com o presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, no EurAfrican Forum 2022, no qual defendeu que “boa parte de África não percebe o que se passa na Europa ou não tem a mesma leitura que tem boa parte da Europa sobre o que se passa na Ucrânia” porque vêm esta guerra como sendo europeia.

Também não é solução, como vi de um bom amigo chefe de Estado europeu, acusar África de hipocrisia”, criticou.

Esta semana, o Presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou o que considerou “a hipocrisia”, ouvida “especialmente no continente africano”, que consiste em não reconhecer claramente a “agressão unilateral” da Rússia à Ucrânia, como faz a União Europeia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Macron denuncia “hipocrisia” em África sobre a agressão russa

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “é muito mais realista perceber-se o que se está a passar”.

É um conflito que não é europeu, não é regional nem é local, é global. A Ucrânia é o palco de um conflito global, basta estar envolvida uma potência como a Federação Russa e estar envolvidas outras potências como EUA e UE, de forma diversa, não direta, estão aliados a quem se defende, para ser global. Dois terços do mundo fingem que não é global, mas é global”, afirmou.

O Presidente da República analisou o que levou à situação mundial atual, antecipando que “aquilo que sair deste conflito traduzirá a vitoria de alguém” que nunca será win-win.

É aí que aparece o problema da relação entre a Europa e África. Está aqui um problema fundamental porque boa parte dos estados africanos — não digo Cabo Verde — olha em função de interesses concretos criados ao longo dos últimos anos”, explicou, referindo que a Europa “muitas vezes se desinteressou da situação de África” enquanto outros “investiram nisso, tomaram posições, têm posições adquiridas”.

Por isso, na análise de Marcelo Rebelo de Sousa, o “mais cómodo para muitos países africanos é ficar em cima do muro”, ou seja, “não tomar posição nenhuma a ver o que dá para não perder de um lado e de outro e para ver quem é que do win-win impossível vai tirar alguma vantagem”.

“Portugal e Cabo Verde são uma exceção”, enfatizou.