O Presidente da República condecorou esta sexta-feira o Expresso com a Ordem da Liberdade e pediu que este jornal não se acomode e ajude a recriar a democracia portuguesa, que no seu entender está em certos aspetos envelhecida.
No encerramento de uma conferência sobre os 50 anos do Expresso, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa remeteu “para ulterior momento aquilo que é o justo galardão merecido por Francisco Pinto Balsemão”, que fundou o jornal e preside ao grupo Impresa.
“Hoje é o dia coletivo do Expresso. Pois eu – vamos lá ver se não me emociono – tenho a honra de entregar ao Expresso o título de membro honorário da Ordem da Liberdade, pela qual lutou há mais de 50 anos“, declarou o chefe de Estado, que entregou as insígnias a Balsemão.
Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve também na criação do Expresso, no qual exerceu funções de administração e direção, recordou a história do semanário desde os tempos anteriores ao 25 de Abril de 1974 e depois falou dos desafios do presente.
“Estamos a aproximar-nos de 50 anos de democracia, nalgumas coisas ainda muito nova, noutras muito velha, muito velha. Velha no sistema de partidos, velha no sistema de parceiros económicos e sociais, velha na debilidade, fragilidade económico-financeira no domínio da comunicação social, velha muitas vezes em termos de mentalidade, de cultura cívica, quanto ao pluralismo, à tolerância, à capacidade de entendimento, à capacidade de aceitar o escrutínio pela comunicação social”, descreveu.
“Envelhecemos muito rapidamente, logo, é preciso recriar a democracia, e o Expresso tem um papel a desempenhar aí, como teve na luta pela democracia”, defendeu.
O Presidente da República considerou que “a última coisa que o Expresso pode ser, e com ele a comunicação social como um todo, mas o Expresso em particular, como líder que é, é ser acomodado, aburguesado no pior sentido da palavra, é ser conformista”.
Não pode ser conformista, nasceu para ser inconformista. É isso que eu espero, como modesto fundador do Expresso, é isso que eu espero como cidadão, é isso que eu espero como Presidente da República Portuguesa”, acrescentou.
Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “o Expressou chama-se Francisco Pinto Balsemão”, que concebeu “um projeto destinado a ser vencedor” formando “uma coligação única entre vários setores económicos e sociais e vários setores políticos da sociedade portuguesa”.
“Ele fez isto, ele tricotou esta amplíssima coligação, nunca quis ser proprietário dela, pagou faturas imensas por causa isso – uma parte das faturas por minha conta, por minha responsabilidade, quando assumi a direção”, referiu.
Sobre os tempos em que ficou à frente do Expresso quando Balsemão chefiava o Governo, Marcelo Rebelo de Sousa disse que quis “mostrar que o facto de o proprietário e antigo diretor ser primeiro-ministro não significava que o jornal que fundara era menos isento e menos crítico”.
“Pois naturalmente isso acarretaria umas décadas depois faturas para mim. Mas isso tudo o que se faz tem algum preço nalgum momento no futuro”, observou.
Antes do chefe de Estado, discursaram no encerramento desta conferência Francisco Pinto Balsemão e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.