Seria uma “oferta extraordinária”, como lhe chama o Washington Post. Em janeiro, o líder do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, prometeu revelar à Ucrânia informações sobre as posições das forças russas, em troca de uma retirada das forças ucranianas da zona de Bakhmut.

A história improvável é revelada por uma investigação do Washington Post, com base em documentos dos serviços secretos norte-americanos até agora desconhecidos, revelados no âmbito dos Discord Leaks, pelos quais o lusodescendente Jack Teixeira foi acusado. E o que esses documentos revelam é que Prigozhin, cansado de sofrer baixas entre os seus homens em Bakhmut e frustrado com a falta de apoio do regime russo — apesar de ser um aliado de Vladimir Putin –, tentou fazer um acordo com a Ucrânia.

Acordo esse que não foi aceite: segundo os mesmos documentos, Kiev — que foi abordada através dos contactos de Prigozhin nos serviços secretos ucranianos — não aceitou a proposta.

O Washington Post escreve também que dois responsáveis ucranianos confirmaram que o líder do grupo já falou várias vezes com fontes dos serviços secretos ucranianos (aconselhando-os, por exemplo, a avançar para a Crimeia), tendo uma delas garantido que a oferta até já foi feita mais do que uma vez — mas Kiev terá rejeitado por desconfiar das intenções de Prigozhin.

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Ao mesmo jornal, uma fonte ucraniana explica os contactos entre as duas partes com uma máxima: “Mantém os teus amigos por perto e os teus inimigos ainda mais perto”.

Há semanas que Prigozhin vem mostrando publicamente o seu descontentamento com o governo de Putin, particularmente o ministério da Defesa, ao mesmo tempo que assegura que os ucranianos estão a conseguir avançar e fazer contra-ataques “eficazes” na cidade de Bakhmut, onde os Wagner estão colocados.

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Na semana passada, também foi noticiado que Prigozhin chegou a “chantagear” o Kremlin, alegando que iria dar ordens aos seus homens para abandonar Bakhmut — um dos locais onde a batalha entre tropas ucranianas e russas é mais intensa — e acusando os soldados russos de abandonarem as suas posições naquela região. E tem repetido a ameaça, tendo falhado o objetivo de tomar a cidade até 9 de maio, como tinha prometido.

Além disso, Prigozhin tem-se queixado de falta de munições e na semana passada chegou a fazer um convite público, via Telegram, ao ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, para visitar Bakhmut e perceber no terreno as dificuldades que os mercenários do grupo Wagner estarão a passar. E a Rússia chegou a responder publicamente às queixas de Prigozhin, avisando que uma retirada das suas tropas de Bakhmut seria considerada uma “traição à pátria”.

Prigozhin recebeu mensagem da Rússia. Se Grupo Wagner retirar de Bakhmut será considerado “traidor da pátria”

O Washington Post revela ainda que há outros documentos que mostram as preocupações dentro do ministério da Defesa russo sobre como responder às críticas públicas de Prigozhin sobre as forças russas e os seus pedidos por mais apoio, sendo que os documentos atribuem parte das discordâncias a uma “luta por poder” entre Prigozhin e responsáveis políticos como Shoigu.