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O Grupo Wagner está a recorrer às redes sociais Twitter e Facebook e à comunicação social para contratar novos mercenários face ao número elevado de baixas que está a sofrer no conflito na Ucrânia, reporta o Politico.

Segundo uma investigação exclusiva da plataforma digital internacional de jornalismo político, o grupo paramilitar russo está a recrutar, entre outros, médicos, operadores de “drones” (aparelhos aéreos não tripulados) e até psicólogos para apoiar as operações militares no terreno, inclusivamente na Ucrânia.

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De acordo com a Logically, um grupo de investigação britânico centrado na desinformação, os anúncios de emprego da Wagner, que tem mercenários a operar em vários países, atingiram quase 120.000 visualizações nas duas plataformas de redes sociais nos últimos dez meses.

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Cerca de 60 mensagens em dezenas de línguas – incluindo francês, vietnamita e espanhol – partilhavam informações sobre cargos de combate e em áreas como informática, condução e medicina aparentemente disponíveis na Wagner, incluindo também números de telefone de contacto, contas na plataforma Telegram e salários mensais de 240 mil rublos (2.800 euros) com benefícios, incluindo seguros e cuidados de saúde.

Embora os investigadores não tenham conseguido atribuir diretamente as mensagens ao Grupo Wagner com total certeza, os textos publicados têm a marca da milícia e dos respetivos apoiantes.

“Só sabemos que estão a usar exatamente a mesma linguagem que as contas do Grupo Wagner previamente verificadas em plataformas como o Telegram ou o VK [uma popular rede social russa]”, disse Kyle Walter, chefe de investigação da Logically.

“Não se sabe ao certo qual o sucesso das campanhas de recrutamento. No entanto, o incitamento à violência, bem como a promoção dos ataques russos contra a Ucrânia, representam quase de certeza violações dos termos de serviço do Facebook e do Twitter, que proíbem esse tipo de material”, escreve o Politico.

Uma análise separada de um funcionário de um governo ocidental não identificado, citada pelo Politico, confirmou que pelo menos dois números de telefone incluídos nestas publicações nas redes sociais estavam diretamente ligados ao Grupo Wagner ou aos serviços secretos russos.

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“Alguns destes esforços são verdadeiros filmes de propaganda em combinação com números de telefone para que se possa contactar diretamente representantes do Grupo Wagner. Como continuamos a ver o Wagner como uma ameaça cada vez mais perigosa no mundo, o facto de estas mensagens estarem a circular online é muito preocupante”, realçou Kyle Walter.

O Twitter respondeu a um pedido de comentário com um “emoji” automático que representa excrementos. Na semana passada, a empresa de redes sociais não respondeu a uma carta da União Europeia (UE) para combater a desinformação.

A nova lei de conteúdos do bloco comunitário europeu para acabar com os conteúdos ilegais e as falsidades, a Lei dos Serviços Digitais (DSA), entrará em vigor apenas a 25 de agosto. As violações graves à lei levarão a multas que podem atingir 6% das receitas globais de uma empresa.

“Designámos o Grupo Wagner como uma organização perigosa, o que significa que não pode estar presente nas nossas plataformas”, afirmou um porta-voz da Meta, a dona do Facebook, que acrescentou que a empresa também remove conteúdos que contenham “elogios ou apoio substancial” ao grupo paramilitar.

O Grupo Wagner está ativo em conflitos no Mali e na África Central, mas tem-se destacado particularmente na luta ao lado da Rússia desde que esta invadiu a Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022. A milícia liderou recentemente grande parte dos combates pesados em Bakhmut, a cidade do leste da Ucrânia que tem assistido a batalhas brutais pelo território.

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Segundo o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, a força paramilitar já perdeu cerca de 20.000 combatentes na Ucrânia, pelo que tem tentado atrair novos recrutas.

Uma mensagem publicada em francês nas redes sociais afirmava que os operacionais do Grupo Wagner têm “férias pagas, cuidados de saúde, empregos bem remunerados e a oportunidade de trabalhar em todo o mundo”.

O salário é de 240 mil rublos (2.800 euros) e haverá um “bom bónus por resultados”, referia a mesma.

“Junte-se a nós agora para defender a honra da Rússia e um mundo multipolar!”, lê-se noutra publicação em francês no Facebook, de acordo com o Politico. Uma terceira publicação no Facebook, também em francês, promove um “seguro de vida” e o trabalho para “uma equipa focada na eficiência e na vitória”.

O Grupo Wagner e vários dos seus dirigentes foram alvo de sanções dos Estados Unidos e da União Europeia, tendo alguns países tomado novas medidas para restringir as suas atividades.

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Em janeiro, os Estados Unidos classificaram o grupo como uma “organização criminosa transnacional responsável por violações generalizadas dos direitos humanos”. Em maio, os deputados franceses votaram a favor da designação do Grupo Wagner como “entidade terrorista”.