Foi terra de férias de Thomas Mann ou Aldous Huxley; recebeu atuações de Ray Charles e Édith Piaf; foi destino para Silvio Berlusconi ou Giorgio Armani. Hoje, Forte dei Marmi, na Toscânia, é casa permanente ou temporária para muitos cidadãos russos, oligarcas incluídos, que conseguem contornar as sanções impostas por Itália, e o Ocidente em geral. Segundo o Financial Times, as famílias de três protagonistas da guerra na Ucrânia terão ali casa.

Numa extensa reportagem em Forte dei Marmi — um município costeiro, à beira-mar plantado, onde “metade está em férias e metade no exílio” —, o jornal norte-americano refere que “muita da clientela é russa ou da Europa de leste”. Segundo a imprensa italiana, citada pelo jornal com base em fontes locais, Volodymyr Zelensky terá uma villa, que arrendará, com piscina no município — modesta “para os padrões de Forte”. A San Tommaso SRL, uma empresa que detém propriedades em Forte, confirmou ao FT que a família de Zelensky é sua acionista (a equipa de Zelensky não respondeu à questão).

Também Vladimir Putin terá casa na localidade, uma informação não confirmada pelo Kremlin. O porta-voz Dmitry Peskov rejeitou essa ideia quando questionado pelo FT: “É um completo disparate”, atirou. Forte dei Marmi está a cerca de 125 quilómetros de Florença e 370 quilómetros de Roma.

Mais clara parece ser a ligação de Yevgeny Prigozhin ao município. Em junho, a fundação anti-corrupção do ativista russo e opositor de Putin, Alexei Navalny, revelou que familiares do fundador do grupo paramilitar Wagner detêm uma mansão em Forte dei Marmi, avaliada entre 3,5 e 4 milhões de euros.

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Segundo a agência Rai, a “Villa Arina” — com um estilo neoclássico, dois pisos, 400 metros quadrados, piscina e 16 hectares de jardim — será detida por Sergey Inkina, compadre de Prigozhin. Inkina, um empresário do setor da restauração cuja filha, Ekaternina, é casada com o filho de Prigozhin, terá comprado a villa em 2017, não muito longe das casas de oligarcas como Roman Abramovich.

O mercado imobiliário destinado a cidadãos russos continua ativo apesar da guerra e há mais de 150 agências imobiliárias. A organização de Navalny já tinha revelado que cerca de 2.500 casas, de um total de 7.000, pertencem a cidadãos russos. Com o início da guerra na Ucrânia, muitos fixaram-se ali, contornando as sanções italianas e ocidentais contra a Rússia e os seus oligarcas.

O Financial Times relata como é comum ver-se carros de segurança privada nas ruas ou guardas armados à frente das villas. Os preços têm, aliás, subido com a procura. As villas chegam aos 400.000 euros para a época do verão, os quartos de hotel custam, em média, 900 euros por noite.

Não são só russos a procurar o destino paradisíaco, que também atrai milionários ucranianos, acrescenta o espanhol ABC. Aliás, segundo o FT, os cidadãos russos viverão em paz com cidadãos ucranianos, garante o ex-presidente da Câmara de Forte dei Marmi, Umberto Buratti.