França registou, na primeira quinzena de setembro, 15 casos prováveis de botulismo e uma morte associada à infeção, o suficiente para a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançar um alerta sobre a situação. Dos 15 casos, 10 foram hospitalizados, oito deles nos cuidados intensivos. A OMS estima que, pelo menos, 25 pessoas podem ter consumido os alimentos contaminados.
Todos os casos tiveram origem no mesmo restaurante de Bordéus, entre os dias 4 e 10 de setembro, pelo consumo de conservas de sardinhas caseiras contaminadas. A OMS receia que novos casos possam ser reportados em França ou noutros países — 14 dos 15 casos eram estrangeiros — visto o restaurante ter atraído muitos turistas durante o Campeonato Mundial de Rugby, que terminou esta quinta-feira.
OMS alerta para surto de botulismo em França que pode atingir outros países
O Observador explica-lhe o que é, como se transmite e como se previne o botulismo.
O que é o botulismo?
O botulismo é uma doença neurológica grave causada pela toxina botulínica produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Esta toxina bloqueia os impulsos nervosos e paralisa os músculos, causa insuficiência respiratória e pode levar à morte. Assim, não é a infeção com a bactéria que causa a doença, mas o envenenamento com a toxina que esta produz.
É uma doença rara, mas que, se não for prontamente diagnosticada e tratada, tem uma elevada taxa de mortalidade: causa a morte em 5 a 10% dos casos, alerta a OMS.
Os surtos de botulismo são raros, mas constituem emergências de saúde pública que requerem um reconhecimento rápido para identificar a origem da doença, distinguir os tipos de surtos (entre naturais, acidentais ou potencialmente deliberados), prevenir casos adicionais e administrar eficazmente o tratamento aos doentes afetados”, destaca a OMS.
Quais são os sintomas do botulismo?
A doença pode ter um período de incubação de até oito dias — ou seja, o tempo que passa desde que a pessoa tem contacto com a toxina até que apresenta sinais da doença —, mas os primeiros sintomas também podem aparecer ao fim de 12 a 36 horas.
Fadiga, fraqueza, vertigens (muitas vezes com visão turva), boca seca e dificuldade em engolir e falar estão entre os primeiros sintomas causados pela toxina. A estes podem juntar-se vómitos, diarreia, obstipação e inchaço abdominal. Nos casos mais graves, a doença pode progredir para fraqueza no pescoço e nos braços, depois afetar os músculos respiratórios e, por fim, chegar aos músculos da parte inferior do corpo. O botulismo não provoca febre, nem perda de consciência.
Existe tratamento?
O tratamento com o soro anti-toxina botulínica é o único tratamento capaz de reverter a situação e deve ser administrado assim que é feito o diagnóstico. Um tratamento precoce é eficaz na redução da mortalidade, indica a OMS. Nos casos mais graves, pode ser necessário o internamento nos cuidados intensivos e o uso de ventilação mecânica por várias semanas ou, até, meses.
Quão perigosa é a toxina botulínica?
A toxina botulínica é considerada a toxina mais letal produzida por uma bactéria e, potencialmente, um dos venenos mais mortíferos. É considerada um agente biológico com potencial de bioterrorismo, destaca a página das clínicas CUF.
Por outro lado, a toxina botulínica em baixas quantidades pode ser usada, por exemplo, nos tratamentos de estética devido à capacidade de provocar paralisia muscular. Nesta área, é vulgarmente conhecida por ‘botox’.
Como se tem contacto com a toxina?
O botulismo humano pode ser de origem alimentar, tratar-se de botulismo infantil, ter origem na contaminação de feridas, por inalação ou outro tipo de intoxicação, mas o botulismo não se transmite entre pessoas, refere a OMS. As injeções com a toxina botulínica em contexto estético também podem ter efeitos secundários, mas as piores situações acontecem em produtos que não estão devidamente purificados ou que não são administrados por profissionais de saúde.
O botulismo alimentar e infantil são causados pela ingestão de alimentos contaminados. E quando os esporos que produzem a toxina conseguem entrar em contacto com uma ferida aberta, podem provocar sintomas equivalentes aos do botulismo alimentar. Já a inalação da toxinas não acontece de forma natural, mas através de aerossóis e pode estar associada ao bioterrorismo.
O que é o botulismo alimentar?
O botulismo alimentar, como os casos registados em França, é a forma mais comum de botulismo, embora seja, mesmo assim, rara. É causado pela ingestão de ingestão de alimentos contaminados com a toxina, sendo estes, sobretudo, as conservas de fabrico caseiro, os enchidos de carne e produtos de fumeiro, como o presunto, os peixes fumados ou de salmoura, mas também alguns produtos vegetais, sobretudo conservados de forma caseira. A contaminação de produtos de produção industrial também é possível.
A bactéria, os esporos e a toxina podem ser eliminados pelas altas temperaturas na produção e pelo controlo rigoroso na produção industrial de produtos alimentares. As formas de conservação caseiras são mais propícias ao desenvolvimento da bactéria.
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O que é o botulismo infantil?
O botulismo infantil acontece devido à ingestão de alimentos contaminados com os esporos da bactéria Clostridium botulinum, que vão germinar no intestino do bebé e libertar a toxina. O botulismo infantil acontece, sobretudo, em crianças com menos de seis meses, cuja flora intestinal (conjunto de microorganismos do intestino) ainda não está desenvolvida e não consegue travar a germinação dos esporos. No adultos com a flora intestinal alterada também podem acontecer situações semelhantes (de germinação dos esporos e produção da toxina).
A melhor forma de prevenir o botulismo infantil é evitar dar mel às crianças com menos de 12 meses. Nestes bebés, os sintomas são um mau controlo da cabeça, o choro fácil e a fraca capacidade de engolir e chuchar.