O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, declarou esta sexta-feira que Israel continuará a agir dentro da lei internacional, advertindo, porém, que as autoridades israelitas vão inspecionar toda a ajuda humanitária enviada para Gaza por “razões de segurança”.

A mensagem do governante na rede social X foi deixada após a aprovação pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas de uma resolução que exige o envio para a Faixa de Gaza de ajuda humanitária “em grande escala” e “sem entraves”.

“Israel continuará a agir de acordo com a lei internacional, mas vai examinar, por razões de segurança, toda a ajuda humanitária” enviada para Gaza, afirmou Cohen.

Após uma semana de intensas negociações e de adiamentos sucessivos foi aprovada a resolução apresentada pelos Emirados Árabes Unidos (EAU) que tem caráter jurídico vinculativo.

O texto teve de ser reescrito várias vezes ao longo da semana devido a objeções dos Estados Unidos, que têm poder de veto no organismo e que o exerceram em anteriores votações.

Washington absteve-se esta sexta-feira, assim como a Rússia (também com poder de veto), permitindo a passagem com 13 votos favoráveis da resolução, que ao contrário das primeiras versões não apela a um cessar-fogo imediato.

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Na sua declaração de voto, a embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, enalteceu o foco da resolução no caráter humanitário, mas não deixou de criticar a ausência de condenação ao grupo islamita palestiniano Hamas pelo ataque de 7 de outubro, que visou o sul de Israel.

A diplomata notou como a resolução se aplica a todas as partes envolvidas, ou seja a Israel, mas também ao Hamas, que segundo frisou é “um grupo terrorista que instigou este conflito e que trava a guerra a partir de casas, hospitais e instalações da ONU e utiliza civis inocentes como escudos humanos, um ato de covardia e crueldade”.

Apesar de reconhecer o encorajamento pelo facto de o Conselho de Segurança da ONU se ter “pronunciado sobre esta crise humanitária”, a diplomata norte-americana expressou esta sexta-feira um “profundo desapontamento”.

“Na verdade, (estamos) consternados — por, mais uma vez, o Conselho não ter sido capaz de condenar o horrível ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro”, disse.

E questionou: “Porque é tão difícil condenar o Hamas por massacrar jovens num concerto, por queimar famílias vivas, pelos relatos de violência sexual generalizada?”.

Para os Estados Unidos, frisou a representante, “Israel deixou claro que está empenhado em chegar a outro acordo”.

Como tal, prosseguiu, agora tudo depende do Hamas, que deve concordar com novas tréguas, por ser “assim que poderemos obter ajuda adicional e salvar vidas e retirar mais reféns imediatamente”.

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, o Conselho de Segurança só conseguiu quebrar o silêncio uma vez, com a resolução de 15 de novembro na qual pedia “pausas humanitárias”. Em dois meses, rejeitou cinco outros textos, dois dos quais foram vetados pelos Estados Unidos, incluindo o último, a 8 de dezembro.

Estados Unidos vetaram cessar-fogo imediato em Gaza. Resolução do Conselho de Segurança era “desequilibrada”

Nessa altura, apesar da pressão do secretário-geral da ONU, António Guterres, os Estados Unidos bloquearam o apelo para um “cessar-fogo humanitário”, também considerado inaceitável por Israel.

Face ao bloqueio do Conselho, a Assembleia-Geral da ONU aprovou a 12 de dezembro uma resolução exigindo um cessar-fogo imediato em Gaza, mas que não tem caráter jurídico vinculativo.

O Governo do Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, anunciou na quarta-feira que as operações militares israelitas fizeram 20 mil mortos no enclave desde o início da guerra, a 7 de outubro, contabilizando também 52.600 feridos.

Israel declarou guerra ao Hamas em retaliação ao ataque perpetrado pelo grupo em território israelita, que fez 1.139 mortos, na maioria civis, de acordo com o mais recente balanço das autoridades israelitas.

Cerca de 250 pessoas foram também sequestradas nesse dia e levadas para Gaza, 128 das quais se encontram ainda em cativeiro pelo movimento, considerado uma organização terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por Israel.