Com uma posição relativamente estável na classificação apesar da diferença que se “cavou” nas duas últimas rondas para o sexto lugar do Moreirense, o Famalicão chegava a este mercado de transferências de inverno com a perceção de que poderia tornar-se um alvo apetecível para alguns clubes incluindo nacionais dentro das necessidades que os “grandes” apresentavam nesta fase. Entre todos os jogadores que têm cumprido uma boa época no comando de João Pedro Sousa, dois teriam um perfil acima dos restantes de “transferíveis” pela idade, pela formação, pela posição e pelo rendimento que têm apresentado. Um acabou mesmo por sair.

Zaydou Youssouf, francês de 24 anos que cumpre a segunda temporada no Famalicão após passagem pelo Saint-Étienne e formação no Bordéus, era um desses casos. Além de toda a regularidade de exibições e de um histórico praticamente “limpo” a nível de ausências por lesão, o médio está na lista de vários clubes nacionais e da Ligue 1 e chegou mesmo a ser cogitado por um dos “grandes” neste mercado de janeiro mas tudo aponta para que cumpra os próximos seis meses nos famalicenses antes de dar o “salto” com os respetivos ganhos a nível financeiro para o clube pela operação. Já Otávio, brasileiro de 21 anos que está também na segunda época em Famalicão, acabou por não resistir ao “assédio” e está mesmo de saída em janeiro.

Perante a lesão grave de Marcano, a saída de David Carmo e a idade de Pepe que obriga a outras precauções tendo em conta a densidade competitiva da equipa (e a vontade do jogador em conseguir ainda marcar lugar no próximo Campeonato da Europa), o FC Porto colocou como grande prioridade a contratação de um defesa central nesta reabertura de mercado. Aliás, única prioridade, tendo em conta que foi garantido a Sérgio Conceição que não iria sair qualquer jogador entre os mais utilizados do atual plantel incluindo o próprio Taremi, que vai deixar o Dragão a custo zero muito provavelmente para a Serie A italiana (e para o Inter) apesar de ter convites mais aliciantes do Médio Oriente e uma outra abordagem da Premier League. Foi nesse sentido que foi jogando quase em dois “campos”, até avançar de vez para a contratação de Otávio.

Depois de ter sido avançado o nome de Lilian Brassier no início do ano, central francês de 24 anos do Brest que surge como principal destaque da Ligue 1 da presente temporada, a hipótese de Söyüncü, central turco que o Atl. Madrid queria ceder por empréstimo, foi ganhando força. Por ser um jogador com experiência nas principais ligas europeias (Friburgo e Leicester antes dos colchoneros), por ser fisicamente forte, por ser um elemento forte no jogo aéreo. A seguir foram também ventilados outros nomes com o mesmo perfil como Yerri Mina, internacional colombiano que pode estar de saída da Fiorentina, e Kostantinos Manolas, mais um internacional neste caso grego que rescindiu recentemente contrato com o Al Sharjah. A questão dos minutos para chegar ainda ao Europeu tinha também o seu peso mas todas as possibilidades caíram.

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Os azuis e brancos acabaram por virar-se para o mercado nacional, que trazia outras necessidades a nível de investimento na contratação mas aliviava o assunto em termos de folha salarial perante aquilo que poderia comportar a chegada de Söyüncü, Mina ou Manolas. Kialonda Gaspar, internacional angolano de 26 anos que tem sido uma das revelações da Liga ao serviço do Estrela da Amadora, está referenciado pelos dragões mas a opção acabou por recair em Otávio, sendo que a partir daí tudo passou pelas negociações entre os dois clubes com problemas à mistura pelo incumprimento de uma parte do acordo que levou Iván Jaime até ao Dragão. No entanto, tudo chegou a um desfecho positivo, com o FC Porto a pagar 12 milhões de euros por 80% do passe que rende ao Famalicão 8,4 milhões de euros e 20% dos direitos económicos. Os restantes 3,6 milhões vão para o Flamengo, que tinha reservado 30% de uma venda no acordo com os famalicenses.

No entanto, e quando tudo apontava para que o jogador pudesse ser apresentado logo na manhã de quarta-feira, o negócio chegou a estar congelado e a correr o sério risco de cair. Tudo porque, depois de haver acordo entre a SAD do FC Porto e os dirigentes do Famalicão, o Quantum Pacific Group, que detém 85% da SAD dos famalicenses, considerou que não estavam salvaguardadas as condições que considerava justas pelo central, com uma cláusula de rescisão de 15 milhões de euros. Assim, e perante um dia particularmente agitado no universo dos azuis e brancos pela “Operação Pretoriano”, houve uma nova maratona negocial para superar esses obstáculos, algo que foi conseguido apenas ao final do dia antes do anúncio oficial à noite.

“Não foi surpresa haver interesse. Gostava que continuasse connosco mas sei que com o mercado a funcionar, sendo o Famalicão um clube vendedor e o Otávio um excelente jogador, tenho de estar preparado. A minha função é essa. Num clube como o Famalicão, se isto não acontecesse, poderia pensar que o meu trabalho não estava a ser bem feito. Uma das coisas que a administração me pediu foi isto. Pegar no Otávio, que não vinha preparado, vinha destreinado, e passado um ano pô-lo a valer muito dinheiro. Se sair, felizmente, temos uma opção muito segura que é o Justin, é um jogador diferente do Otávio, mas dá-nos segurança plena para abordarmos o final do Campeonato. Dos quatro centrais que temos, o Otávio é o mais rápido e joga de pé esquerdo. Percebemos que existia potencial, houve crescimento, as pessoas começaram a perceber que era bom jogador”, comentara o técnico João Pedro Sousa.

Depois de passar pelo Internacional, Otávio, que é natural de São Paulo, fez o restante percurso de formação no Flamengo, onde se sagrou campeão nacional Sub-17 e Sub-20 (entre outras conquistas nas camadas jovens) e onde teve um dos episódios mais complicados da vida ao perder alguns amigos no incêndio que vitimou dez jogadores no Ninho do Urubu em 2019. “A maioria estava a dormir no outro quarto. O Vinicius tentou partir a janela para aliviar um pouco a fumaça, só que não adiantou nada porque eles continuaram a dormir. É um momento muito complicado perder grandes amigos que estavam connosco, que cuidavam uns dos outros lá dentro. Tornámo-nos grandes irmãos”, referiu o central que na altura já não vivia no centro de estágio do clube do Rio de Janeiro mas sim no apartamento à parte que ficava perto do local.

Em 2020, quando representava ainda a equipa Sub-20, Otávio chegou a ser chamado para fazer um jogo da equipa principal do Flamengo no Campeonato (o que lhe valeu o título nacional também nesse ano), sendo mais tarde emprestado sem grande sucesso ao Sampaio Corrêa antes de chegar ao Famalicão em 2022/23, onde começou inicialmente na formação Sub-23 mas rapidamente ascendeu ao conjunto A, onde terminou a temporada. Na presente época, o brasileiro foi sempre titular dos famalicenses, levando 1.464 minutos e dois golos em 19 encontros realizados entre Campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga.