Os inspetores da FDA, o regulador norte-americano que vigia a área dos medicamentos e alimentação, detetaram problemas nos registos e na qualidade das experiências feitas em animais nos laboratórios da Neuralink. Esta é uma das várias empresas de Elon Musk: dedica-se ao desenvolvimento de implantes cerebrais e, no fim de janeiro, foi anunciada a implementação do primeiro dispositivo num humano.

A notícia é avançada pela agência Reuters, que teve acesso a relatórios da FDA. Os inspetores desta entidade encontraram falhas de qualidade no controlo das experiências feitas com animais nos laboratórios da startup na Califórnia. No entanto, não terão sido encontrados problemas nas instalações do Texas.

As visitas foram feitas entre 12 e 22 de junho, refere a Reuters, que acedeu aos relatórios através da Redica Systems, uma empresa de analítica de dados. “Estas questões mostram uma falta de atenção aos detalhes”, disse à agência Jerry L. Chapman, especialista de qualidade da Redica Systems.

Entre os problemas detetados nos registos das experiências, que foram feitas com centenas de animais, incluindo macacos, estão questões como a falta de registos sobre a calibração dos instrumentos que foram usados. Por exemplo, não terão sido encontrados registos de calibração de sete instrumentos usados para medição de sinais vitais dos animais, o que abre a porta a dúvidas sobre os resultados de controlo. Ou, por exemplo, a ausência de assinatura de autoridades de controlo de qualidade sobre o estudo final ou a documentação de desvios de protocolos ou procedimentos habitualmente estabelecidos.

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“Isto certamente é um sinal de que a empresa precisa de estar vigilante em relação a algumas práticas”, acrescentou Chapman à Reuters, notando que a empresa tem de seguir requisitos semelhantes para os ensaios com humanos. Antes do primeiro implante num humano, a Neuralink colocou um “chip” num macaco, que conseguiu jogar “Pong” com o cérebro após a recuperação.

Elon Musk anuncia que Neuralink instalou o seu primeiro implante cerebral

A Neuralink anunciou há cerca de um mês que colocou o primeiro implante cerebral num humano, falando em resultados que mostraram “uma atividade cerebral promissora”. A 20 de fevereiro, Musk partilhou que a experiência estava a progredir. “O progresso é bom, o paciente parece ter feito uma recuperação completa, sem sinais de doença de que tenhamos conhecimento”, disse o fundador da empresa durante uma transmissão na rede social X, antigo Twitter. “O paciente consegue mover o rato no ecrã do computador apenas com o pensamento.”

Até ao momento, a Neuralink não fez comentários à notícia avançada pela Reuters. A empresa recebeu autorização da FDA para avançar com as experiências em humanos, em ensaios clínicos, em setembro. O implante da Neuralink é visto como bastante invasivo, já que tem de ser implementado através de cirurgia no paciente. Para já, a ideia é que o implante cerebral permita controlar um rato e um teclado através do pensamento.

As ambições da Neuralink passam pelo recurso ao implante em pacientes com obesidade, autismo, depressão ou esquizofrenia.