Um “diálogo estruturado” com o PS, não “excluir o voto do Chega pela origem” e regressar à “matriz e origem” do CDS-PP. Francisco Rodrigues dos Santos, ex-líder do partido que se coligou ao PSD para formar a Aliança Democrática (AD), quebrou o “voto de silêncio” de dois anos, feito para “não interferir com a liderança de Nuno Melo”, e criticou a “subalternização” e diluição do partido no recente ato eleitoral.

“Fiz o que os adversários internos não tiveram a cortesia de fazer comigo”, atirou. Em entrevista à CNN Portugal, este sábado, o antigo líder partidário defendeu que o CDS deve recentrar-se e contribuir para entendimentos. “Entendo que a AD deve fazer um diálogo estruturado com o PS, porque o nosso país deve perceber que há cortes de regime que são fundamentais e urgentes para Portugal”, afirmou.

Foi mais longe e acabou por “subscrever” as palavras de Pedro Nuno Santos, quando este afirmou que “acabou a tática política”. “Se olhamos para os partidos como estando ao serviço dos portugueses, creio que a abertura para a convergência e ao compromisso deve ser explorada pelo futuro primeiro-ministro de Portugal”, assegurou, garantindo que agora fala “fora da bolha e num discurso que não está intoxicado pela ‘partidarite’”.

Sobre o Chega e o seu crescimento, Rodrigues dos Santos nega que se possa ignorar que no contexto eleitoral há “um milhão e 100 mil pessoas que decidiram colocar quase 50 deputados do Chega no Parlamento”.

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“Defendo que no Parlamento todos devem falar com todos e não se deve excluir o voto pela sua origem”, acrescenta. Para o antigo líder, se o diálogo se refletir em “menos impostos, uma escola pública para todos, um SNS a funcionar e o aumento das pensões”, os portugueses não ficarão contra o entendimento à direita. “Digo isto em relação ao Chega e a qualquer outro partido do arco parlamentar”, alerta e refere que a Assembleia não pode ficar “cheia de comadres zangadas que não falam umas com as outras”.

A melhor forma de lidar com o Chega “não é tirar-lhe responsabilidades, mas sim chamá-lo à responsabilidade”, defende, garantindo que a “prova dos nove” se tira ao empurrar o partido de André Ventura para o compromisso com “políticas concretas e não com uma política de ilusões e de vender utopias às pessoas”.

“Não fico minimamente amargurado de não ter sido incluído [na campanha da AD]”

Questionado sobre se guarda ressentimento por ter feito parte do desfile de históricos do CDS durante a campanha eleitoral da AD, Rodrigues dos Santos diz que não ficou “minimamente amargurado”, mesmo que atire a Nuno Melo os resultados aquém do esperado. “Como antigo presidente devo saudar a eleição de dois deputados do CDS, é verdade que o presidente do partido tinha previsto entre quatro a seis, mas dois já é bom”, referiu.

Criticou duramente os que, há dois anos, “eram contra uma estratégia de aliança” que defendeu como presidente do CDS. Diz que os antigos críticos são hoje “os seus maiores entusiastas e, provavelmente, à boleia dessa coligação vão estar sentados no Conselho de Ministros”.

“Noto que o CDS, neste quadro em que se apresentou a eleições, esteja algo diluído no PSD, ao ponto de para alguns eleitores da área do centro-direita ser irreconhecível a marca que o CDS aportou nesta aliança e até a margem de voto líquido que acrescentou a esta votação. Assistimos quase a uma subalternização do CDS e a uma fusão dos dois partidos, o que nos obriga a todos os que pertencemos ao partido a uma reflexão para o futuro”, assegura.

Rodrigues dos Santos aponta ainda ao próximo congresso, marcado para 20 e 21 de abril em Viseu. Espera que este encontro sirva para se debater “o posicionamento que deve ser assumido daqui para a frente pelo CDS”, revelando sinais de que será oposição interna a Nuno Melo, atual líder do partido.