Foi com alguma surpresa que a União Europeia anunciou que os impostos sobre os veículos chineses iriam aumentar entre 17 e 38% à entrada do Velho Continente, como forma de compensar as ajudas ilegais conferidas pelo Estado chinês aos seus fabricantes. Mas um estudo da Reuters demonstra que esta penalização, que no papel parece muito pesada, corre o risco de não fazer mossa na vantagem que os fabricantes chineses têm em matéria de custos, uma vez que o mesmo veículo é vendido 226% mais caro na Europa do que na China.

À primeira vista, este considerável diferencial no preço, que no pior cenário leva o mesmo veículo fabricado na China a exigir aos condutores europeus valores 2,26 vezes superiores aos praticados na China, dá às marcas chinesas uma vantagem comercial que dificilmente será anulada com o novo imposto provisório à importação. A taxa passa a oscilar consoante a marca — e dependendo da abertura que esta revelou durante a investigação realizada pelos técnicos europeus — entre 17% e 38%, em vez dos actuais 10%, o que significa um incremento de somente 0,07 a 0,28 vezes, longe pois da folga que, segundo a Reuters, os chineses possuem em termos de custos.

Europa penaliza eléctricos chineses, entre 17,4% e 38,1%

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O estudo da agência noticiosa britânica dá como exemplo a BYD, como o maior construtor chinês (já representado em Portugal), que comercializa na China o Dolphin por 15.400€, em vez dos 34.900€ exigidos aos construtores germânicos — em Portugal é proposto por valores a partir de 35.700€ —, um preço que é 226% superior. Outro exemplo é dado pelo Atto 3, que no país asiático é transaccionado por menos 81% a 174%, quando comparado com a Alemanha. O mesmo acontece com o Seal, o modelo da BYD destinado a rivalizar com os Tesla Model 3 e BMW i4, que na China é vendido por preços entre 30% e 136% inferiores aos praticados, em média, na Europa.

A Tesla, que produz na China os Model 3 e Model Y numa fábrica própria, sendo o único construtor ocidental a quem a China não forçou a atribuição de 50% da sua fábrica a uma marca chinesa, consegue apenas um incremento de 37% entre os preços praticados na Alemanha face à China. A diferença de preços registada pelos modelos da Tesla é muito inferior à dos construtores chineses, o que alimenta as suspeitas da União Europeia e dos EUA em relação aos subsídios ilegais que o Estado chinês alegadamente concede aos fabricantes locais.

Biden quer taxar chineses a 100% e Trump pede 1 bilião

Os norte-americanos já avançaram (dias antes dos europeus) com um incremento de impostos aos veículos importados da China para 100%, a que a União Europeia se juntou, mas apenas com taxas entre 17% e 38%. Contudo, estes impostos são anunciados como provisórios, sendo esperados os definitivos a partir de 4 de Julho, quando forem reveladas as conclusões da investigação lançada pelas autoridades europeias às práticas comerciais chinesas. E já há quem defenda um incremento dos impostos, algo que a China não deveria criticar, uma vez que impõe, desde 1994, condições draconianas aos construtores estrangeiros que desejavam comercializar os seus veículos na China, obrigando-os a construir fábricas no país e a ceder 50% (ou mais) a construtores locais pertença do Estado. Comparativamente, a Europa permite que a BYD esteja actualmente a construir a sua fábrica na Europa, sem forçar a aceitação de qualquer sócio e permitindo-lhe evitar as taxas à importação.