Todos os Europeus ganham as suas figuras de forma quase natural. Podemos falar de figuras nas bancadas, fora de campo ou das bancadas para dentro de campo, como aquele jovem adepto que conseguiu a célebre selfie com Ronaldo ou o músico alemão que conseguiu colocar milhares de pessoas a dançar antes da partida com a Suíça. Podemos falar de pessoas que se destacam pelas mensagens que transportam nos cartazes que erguem nos estádios (e no caso português notou-se que a “derrota” na guerra das cervejas na rede X ainda não foi superada). Podemos falar de jogadores que dão nas vistas pelos melhores e piores motivos – e neste último não há quem bata Robin Hranác, central checo que veio para a fase final com um toque de Midas mas ao contrário porque tudo sai mal. Depois, há Martin Ádám. E Martin Ádám nem precisa de fazer nada.

Estugarda teve encanto na hora da despedida e os mágicos continuam a enfeitiçar um Exército obcecado (a crónica do Escócia-Hungria)

O número 9 húngaro tornou-se um fenómeno nas redes sociais quando entrou na segunda parte do encontro dos magiares frente à Suíça, que terminou com o triunfo dos helvéticos por 3-1. Não foi falado por um golo marcado ou falhado, por uma assistência ou por um gesto mais ou menos decisivo mas sim pela aparência e pelo alegado peso a mais. A partir daí, e em todos os encontros da Hungria, a entrada de Ádám tornou-se um momento quase obrigatório, sendo que a forma como toca na bola mostra que tem jeitinho para a coisa.

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A Federação Húngara de Futebol foi a primeira a mostrar a sua insatisfação com os comentários mas depois foi o próprio jogador que, em conferência de imprensa, quis explicar algo que… não tem volta a dar.

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“Nasci assim, é o meu corpo, mas isso não quer dizer que esteja gordo. Não posso mudar aquela que é a minha genética. Quando me começaram a chegar todos os memes e comentários da internet, normalmente até me começo a rir deles. A única coisa que posso dizer é que o meu corpo é assim, este é o meu corpo”, comentou o avançado, citado pelo El Mundo, antes de ficar desconfortável com a insistência nas questões.

“Na Coreia do Sul sou parado na rua para me pedirem autógrafos e até alucino com isso. O meu peso não é nenhum segredo mas não quero que se torne num tema de conversa para a imprensa ou para os adeptos. Li que pesava quase 110 quilos quando nunca estive sequer perto disso. Sempre fui um tipo grande, que faz com que ganhe muitas jogadas e lances em campo. Uma vez perdi força e peso e creio que fiquei um jogador pior, por isso voltei a aumentar uns quilos. Agora faço tudo de uma maneira mais inteligente, com um especialista a ajudar”, contou em entrevista a um meio do país antes do Europeu. “O que estava a fazer no último Europeu? Bem, vi a competição na minha casa a beber cerveja…”, admitiu o jogador.

Os responsáveis húngaros garantem que Ádám teve sempre o peso controlado e estabilizado nos 87 quilos, o que para alguém com 1,92 metros é “normal”. No entanto, aquele corpo descrito pelos adeptos entre jogador de râguebi e jogador de andebol na verdade tem dado jeito numa carreira que acabou por tomar um rumo inesperado mas de sucesso para o avançado: depois de acabar a formação no Vasas, esteve sete anos nos seniores do conjunto de Budapeste antes de passar por Kaposvár (2019/20) e Paks (2020-2022). Foi nessa última temporada de 2021/22 que se tornou o melhor marcador da Primeira Liga com 31 golos em 32 jogos, o que motivou uma transferência para os sul-coreanos do Ulsan, onde já se sagrou bicampeão e se tornou um autêntico herói para os adeptos por aquela imagem de viking húngaro disposto a dar tudo.

Agora, com a lesão de Varga (que será operado esta segunda-feira a fraturas na cara depois do episódio que “gelou” os adeptos), Martin Ádám terá mais espaço para poder ajudar a seleção magiar, que após a vitória no décimo minuto de descontos frente à Escócia com um golo de Kevin Csoboth ainda sonha com a passagem aos oitavos como um dos melhores terceiros classificados e pode mesmo vir a defrontar… Portugal.

Varga caiu inanimado no relvado mas o alívio surgiu no fim: os sete minutos que pararam o Escócia-Hungria (e fizeram lembrar Eriksen)